Corre daqui, arruma dali, tira de lá. Às vésperas da entrega oficial da reforma do Terminal Rodoviário Rita Maria, em Florianópolis, na última quarta-feira, 5, funcionários se apressavam para os últimos ajustes antes da chegada do governador Raimundo Colombo. Com essa força-tarefa emergencial, o saguão ficou “pronto” após quatro anos de obras e investimento de R$ 12,9 milhões. O problema é o que se esconde embaixo do tapete, ou, melhor, embaixo da plataforma de embarque.
No subsolo da rodoviária, entulhos, material de limpeza, sobras de estoque e equipamentos inutilizados dividem espaço com ratos, baratas e criadouros de Aedes aegypti, o mosquito da dengue. É o que aponta um relatório do Centro de Controle de Zoonoses feito no dia 23 de junho, após vistoria realizada no dia 12 de maio.
Nesta semana, a Hora de Santa Catarina conseguiu acesso às galerias subterrâneas do Terminal Rita Maria. O ar denso, com cheiro de bolor, dá as boas vindas para quem desce os primeiros degraus da estreita escada e chega ao porão sem janelas ou sistema de ventilação. Lá dentro, funcionários terceirizados trabalham com dificuldade neste ambiente insalubre.
— Quando desço aqui, já começo a me coçar inteiro. Parece que falta ar aqui embaixo, é difícil até de respirar — conta um funcionário que não quis se identificar.
Segundo a assessoria da Secretaria Municipal de Saúde, a equipe do Centro de Controle de Zoonoses, que foi ao local fazer uma inspeção rotineira de combate ao mosquito da dengue, identificou uma extensa vala com água parada, repleta de larvas do Aedes aegypti. Além disso, constatou que um “esgoto corrente proporciona o habitat ideal para ratos e baratas”.
Dedetização e limpeza
Junto ao relatório, foi entregue à gerência da rodoviária uma cartilha de orientações para solucionar os problemas encontrados. A proposta envolve a instalação de “telas na vala que acumulou água, dedetização, limpeza e eliminação de resíduos e instalação de tela em todos os ralos dos banheiros e das cozinhas desativadas, além de serviço de limpeza regular”.
— Recebi o relatório na semana passada e já começamos a tomar providências. Busquei três orçamentos e mandei para a diretoria [do Departamento de Transportes e Terminais]. Isso será resolvido em breve — disse o gerente da rodoviária, Laurino Peter.
Laurino afirma que não sabe como a situação chegou a esse ponto, porque assumiu a gerência do Terminal Rita Maria há apenas três semanas. De acordo com ele, a primeira providência será a retirada de todo o entulho e sujeira acumulada. Em seguida, uma desentupidora irá fazer uma limpeza profunda antes da dedetização.
Quando entregou o relatório, o Centro de Controle de Zoonoses agendou para o dia 19 de julho uma nova inspeção no subsolo da rodoviária. Caso as orientações para erradicação dos problemas não sejam acatadas de maneira satisfatória, fiscais da Vigilância Sanitária poderão ser acionados para ir ao local autuar e multar a administração do terminal.
Utilização do subsolo
Antes de chegar à insalubridade, o subsolo da rodoviária, um espaço vago de aproximadamente 900 metros quadrados, com pouco mais de três metros de altura, já foi um porão cheio de mistérios. Em 2014, a Hora de Santa Catarina esteve nesta “caixa de concreto com iluminação tão precária e amarelada que mais parece um set de filme de terror”, e escutou histórias de fantasmas e assombrações.
Na época, discutia-se a possibilidade de utilizar o espaço para a construção de um estacionamento, mas a ideia foi descartada por causa das dificuldades estruturais e do alto custo que uma obra como esta poderia ter. Hoje, a gerência do Terminal Rita Maria ainda busca uma maneira de aproveitar o subsolo.
— Vamos repensar como usar esse espaço melhor, porque esta é a melhor maneira de evitar que situações como esta [insalubridade] voltem a acontecer — finalizou Laurino Peter.