Crianças com microcefalia fruto do maior surto de zika do Brasil completam dois anos de idade

9 min. leitura

O Zika Vírus, provocado pelo mosquito Aedes aegypti, continua atingindo centenas de pessoas no Brasil. Em 2016, foram confirmados 130.701 casos, distribuídos em 2.306 municípios. Este ano, já foram registrados 316 casos, sendo 58 confirmados no país. Mesmo com o número menor, a doença continua atingindo crianças. Em Pernambuco, são 131 casos da síndrome congênita associada à infecção pelo vírus Zika, de acordo com a Secretaria de Saúde do Estado de Pernambuco (SES-PE). A grande maioria das crianças que nasceram com microcefalia vítimas do grande surto que se iniciou em 2015 completam dois anos agora no último trimestre de 2017.

Após o processo de emergência da Visão Mundial (mais informações abaixo), foi feita uma parceria com o Centro de Reabilitação e Valorização da Criança (CERVAC), iniciativa comunitária que atende pessoas com deficiências. Há cerca de dois anos, profissionais de saúde como fonoaudiólogos, psicólogos, assistentes sociais e fisioterapeutas atendem dezenas de crianças com microcefalia. Além dos atendimentos clínicos, a família das crianças recebe atendimento educativo e psicológico.

O psicólogo Thiago Barreto atende os pequenos desde o início e conta sobre o trabalho que é feito no CERVAC. “Nós repassamos técnicas e exercícios para a família dar continuidade ao processo em casa, dessa forma conseguimos resultados positivos. Ao longo desses dois anos, já é possível notar os bebês que têm uma postura melhor, que choram menos, tudo isso é fruto de um esforço em conjunto”.

Thiago ainda reforça o desafio que é trabalhar com crianças com o Zika vírus. “Está sendo gratificante, mas desafiador porque estamos trabalhando com algo novo. Ainda há sintomas que não são conhecidos e temos que lidar com as demandas as famílias trazem, por isso que também fazemos conversas semanais com as mães para debater temas que elas queiram”, conclui.

O coordenador de projetos da Visão Mundial em Recife, Davi Chagas, comenta sobre a importância da assistência às famílias com crianças com casos de microcefalia no estado. “Essa parceria tem contribuído bastante não apenas para o desenvolvimento das crianças, mas também para o suporte familiar porque Pernambuco foi surpreendido com essa epidemia e muitas famílias que atendemos não têm apoio do governo”, conta.

O CERVAC não trabalhava com crianças portadoras da Síndrome Congênita do Zika vírus, mas com o apoio da Visão Mundial, a instituição pôde fazer esse trabalho. “A Visão Mundial chegou na hora certa porque várias mães já estavam nos procurando para fazer os atendimentos, mas faltavam profissionais. Com o passar do tempo, já temos visto crianças mais desenvolvidas e famílias mais comprometidas”, conta a coordenadora de saúde do CERVAC, Alba Lopes.

Algumas crianças atendidas pelo CERVAC, em parceria com a Visão Mundial, já completaram dois anos de idade neste segundo trimestre de 2017. De acordo com o crescimento delas, há uma mudança no acompanhamento, já que o grupo chamado “cervaquinho” cuida de crianças até dois anos. Por isso, várias crianças já avançaram para outras áreas na instituição como o grupo de estimulação precoce, que cuida de crianças de 2 a 6 anos. As crianças contempladas, hoje, com o tratamento são: João Santiago, nascido em dezembro de 2015, Graziella Souza, nascida em novembro de 2015, Isabel Marques, nascida em outubro de 2015, Ágata da Silva, nascida em novembro de 2015, David Miguel, nascido em julho de 2015, Maria Heloísa, nascida em outubro de 2015, Laura da Silva, nascida em setembro de 2015, Pedro Henrique, nascido em outubro de 2015, Whashington Lins, nascido em agosto de 2015, Sarah Lima, nascida em setembro de 2015 e Ana Sophia, nascida em setembro de 2015.

Inabela Souza, 32 anos, é mãe de Graziella Souza e percebeu bastante diferença desde que começou o acompanhamento da filha no CERVAC. “Trouxe minha filha com 6 meses e hoje, quase fazendo dois anos, ela teve um avanço total. A coordenação motora melhorou porque ela não conseguia abrir a mão, ela também já consegue passar muito tempo sentada, além de ficar com a cabeça levantada. A visão também melhorou e hoje ela já consegue comer porque a fonoaudióloga trabalhou bastante a deglutição dela”, conta. Apesar do auxílio dos profissionais, Inabela tem dificuldades em manter outros gastos da filha, já que abandonou o trabalho de vendedora para cuidar dela. “Vivo de doação das pessoas porque não tenho auxílio do governo na compra de medicamentos, leite e fralda, por exemplo. Muitas vezes deixo de comprar a feira. Além das vacinas que nunca têm nos postos médicos”, conclui.

A Visão Mundial tem pensado em soluções práticas, além do projeto de emergência, para continuar dando assistência à população atingida pelo Zika vírus. “Estamos estudando a possibilidade de um projeto específico de cuidados com os bebês com microcefalia e seus familiares, sob a perspectiva do desenvolvimento neuromotor e cognitivo das crianças, bem como dos laços afetivos familiares que são essenciais na superação das consequências da síndrome congênita do Zika vírus, conta Eugênio Rodrigues.

Processos de emergência contra o Zika Vírus da Visão Mundial

No ano passado, a Visão Mundial realizou um projeto de emergência no combate ao mosquito Aedes Aegypti. As ações, feitas entre fevereiro e setembro de 2016, ajudaram moradores de várias comunidades, alcançando principalmente crianças e mulheres grávidas. As atividades foram realizadas em Fortaleza, Recife, Maceió, Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro.

Em parceria com entidades públicas, a ONG fez a distribuição de kits de prevenção com repelentes e mosquiteiros para gestantes e crianças, além de materiais educativos como folders, fez spots de rádio e materiais multimídia sobre medidas preventivas ao Aedes aegypti. Também foi feita a doação de equipamentos para o Centro de Reabilitação e Valorização da Criança (Cervac) e para o Núcleo de Tratamento e Estimulação Precoce (Nutep). Foram feitos mutirões com as igrejas de cada região, realizando ações educativas nas escolas públicas, além de parcerias com comitês Estaduais intersetoriais de combate ao Aedes Aegypti para mobilizar e formar comitês comunitários de combate ao mosquito.

Ao todo, 29.273 famílias foram alcançadas dentro de 321 comunidades atendidas com total de 23.354 de crianças que participaram das ações e 2.012 mulheres em período fértil que receberam as orientações de prevenção, além de 1.708 gestantes das comunidades que receberam os kits de prevenção. Foram fechadas 247 parcerias, sendo 77 igrejas e também houve a participação de 3.016 voluntários. Foram realizadas 571 ações de controle do vetor contando com 8.625 frascos de repelentes e 2.712 mosquiteiros distribuídos, além de 25.834 folders e 70.000 cartazes distribuídos.

“A mobilização na busca de conscientizar as pessoas sobre como reduzir a propagação das doenças aumentaram a compreensão das pessoas nas comunidades, bem como obteve um impacto na mudança de comportamento, através das visitas domiciliares, mostraram resoluções seguras como armazenar água, garrafas vazias colocadas de cabeça para baixo e uso de redes para mosquitos e repelentes. A maioria das famílias foram informadas sobre a o que são as doenças e as práticas de prevenção” conta Eugênio Rodrigues, coordenador dos projetos de emergências da Visão Mundial.

Por JB Press House

Compartilhar
Leave a Comment