Estimativas do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) mostram que o impacto socioeconômico do vírus da zika, entre 2015 e 2017, na América Latina e no Caribe, pode chegar a 18 bilhões de dólares. No Brasil, o custo dessa infecção já soma US$4,6 bilhões, mas, em longo prazo, poderá atingir até US$10 bilhões[1]. Brasil, México, Cuba e República Dominicana são, segundo o Dr. Carlos Rodriguez Taveras, da Sociedade de Infectologia Dominicana, as nações que terão os maiores custos com zika, porém Belize, Cuba e Jamaica sofrerão um impacto maior sobre o produto interno bruto (PIB).
Durante simpósio realizado no 20º Congresso Brasileiro de Infectologia no Rio de Janeiro, o Dr. Taveras lembrou que a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) está reprogramando US$215 milhões em apoio a esforços na América Latina, incluindo transferência de recursos para os Centers of Disease Control and Prevention (CDC), que serão destinados a atividades relacionadas ao enfrentamento do vírus Zika nessa região.
Para o Dr. Taveras, a América Latina e o Caribe estão sendo muito afetados pela infecção porque apresentam condições que favorecem a proliferação de insetos e surtos.
“Atualmente, as populações dessas regiões vivem majoritariamente em áreas urbanas. Há milhões de pessoas vivendo em bairros urbanos e em comunidades rurais muito pobres, sem proteção. Soma-se ainda a falta de água potável e o saneamento inadequado”, destacou o infectologista, acrescentando que as mudanças no padrão climático exacerbaram ainda mais as ameaças à saúde na região.
Quando se considera o impacto dessa infecção especialmente na América Central e no Caribe, para enfrentar a situação e buscar mais recursos é necessário considerar, segundo o médico, a deterioração dos sistemas de saúde em geral, a incapacidade técnica de diagnóstico da infecção e de suas complicações, e a crise econômica.
“Em termos sociais, há que se pensar também na demanda da população pelo direito à saúde e equidade, na importância da revisão da legislação contra o aborto e na educação sexual”, disse.
Situação epidemiológica atual
De maio a julho deste ano observou-se um pequeno aumento nos casos suspeitos e confirmados de zika na América Central. Esse cenário é consequência de um ligeiro aumento em Belize e na Costa Rica, com uma média semanal de 117 casos entre as semanas epidemiológicas (SEs) 21 e 30 de 2017[2].
No Caribe, por sua vez, permanecem os relatos de casos esporádicos, com uma média semanal de 252 casos suspeitos e confirmados entre as SEs 21 e 30 de 2017. Já em Porto Rico se observa uma tendência decrescente nas últimas 10 semanas[2]. Essa tendência de queda também tem sido observada no Brasil. Segundo a Dra. Maria Ângela Rocha, do Hospital Universitário Oswaldo Cruz da Universidade de Pernambuco (Huoc-UPE), ao comparar os casos registrados de zika entre janeiro e abril de 2016 e de 2017, nota-se uma redução de 95,3%[3].
Embora o número de casos tenha diminuído, a médica destacou, durante conferência no congresso, que o alerta precisa ser mantido: “a microcefalia representa apenas a ponta do iceberg”. Isso porque essa condição é só uma das várias facetas da síndrome congênita do Zika. Entre outros problemas que a síndrome pode envolver, estão: abortos, déficit auditivo, calcificações intracranianas sem microcefalia, dificuldade de aprendizado, retardo do crescimento intrauterino, artrogripose, déficit visual, epilepsia, natimortos e retardo mental. Há ainda, segundo a Dra. Maria Ângela, questionamentos quanto à possível associação com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), autismo, endocrinopatias e transtornos psiquiátricos. Outra preocupação diz respeito aos bebês que nasceram normais, mas que passaram a apresentar manifestações após alguns anos de vida.
As manifestações da síndrome congênita do Zika vírus podem ocorrer, de acordo com a palestrante, em quase metade dos filhos de gestantes expostas ao vírus, e a proporção de casos sem microcefalia versus casos com microcefalia é de 11:1.
“Por outro lado, ainda se desconhece a proporção de bebês que nascem assintomáticos e que evoluem para formas sintomáticas mais tarde[4]. O espectro completo da síndrome congênita do Zika vírus só será conhecido com o seguimento de grandes coortes por longo período”, disse.