As pragas sinantrópicas além de contaminar, são vetores de várias doenças e também indicam falhas nas boas práticas.
É fato que não podemos e não queremos exterminar as pragas, cada uma tem papel importante na natureza, e também o ser humano não é dono do mundo para julgar quem morre ou sobrevive, porem devemos saber conviver com elas de uma forma que elas não causem danos a nós, estabelecendo um limite de tolerância.
Pragas na área de produção de uma indústria é uma falha grave do controle, é falta de efetividade do programa de controle integrado de pragas urbanas, que deve ter como foco as medidas preventivas, evitando um ambiente favorável ao aparecimento e seu desenvolvimento no parque industrial, e não menos importante é dificultar ao máximo a penetração delas para dentro da indústria.
Antes de entrar no tema a ser abordado, só finalizando essa pequena introdução dizendo que o controle de pragas não é uma tarefa fácil e nunca será, é desafiador, vai além da teoria, tem que ter estratégia e criatividade, as vezes é preciso se colocar no lugar da própria praga e pensar como ela, e o mais importante e mais difícil, que é a cooperação e empenho de todos que fazem parte da indústria, desde do faxineiro até o presidente.
A principal questão a ser resolvida é como evitar que as pragas entrem pela barreira sanitária, sendo que o principal objetivo destas é prevenir riscos de contaminação e disseminação de pragas e doenças.
No meu dia a dia, de uma indústria a outra, percebo que esse entendimento de que a barreira sanitária tem como objetivo evitar a contaminação e disseminação de pragas, não está muito clara entre as pessoas que desenvolvem as atividades na indústria, e é um dos principais motivos pela penetração de insetos voadores como as moscas, mosquitos e mariposas.
As barreiras sanitárias são um dos locais de maior alto risco de penetração de pragas para o interior da indústria, porque é o local onde se mais se abre e se fecha as portas para a entrada e saída de pessoas da área interna, lembrando que deve ser o único local de saída e entrada de pessoas, salvo a saídas de emergência que devem ser exclusiva para acidentes e incêndios. Na barreira Sanitária que é o local onde os colaboradores e visitantes autorizados além de fazer a lavagem e a higienização das mãos, braços e botas, também deve ser um local visando evitar por meio de estratégias a passagem de pragas do exterior ao interior da indústria, as moscas podem por exemplo aproveitar e pegar uma carona junto aos colaboradores, ao lado ou até pousada e bem sossegada nas costas de um colaborador ao entrar.
Mas Afinal, como deve ser essa barreira sanitária para que evite a entrada de pragas?
Primeiramente ela deve ser de quatro paredes, ou seja fechada, coberta e muito bem vedada afim que nenhum tipo de praga consiga entrar, de espaço suficiente para o conforto de pessoas conforme a demanda de circulação que ali frequentam, provida de duas portas com fechamento automático, uma porta para entrada na barreira sanitária e outra para a entrada na fábrica. E importante, as portas devem abrir no sentido para fora da fábrica. Porque? Duas situações acontecem quando a porta abre para fora, se houver insetos voadores próximos a elas, a porta ao abrir vai espantar os insetos próximos, como por exemplo as moscas, e a outra situação é que as pessoas entram mais rápido na indústria se a porta estiver impulsando, ou seja um empurrãozinho para entrar mais rápido e consequentemente a porta fica menos tempo aberta.
Se é possível o investimento, pode ser colocado um dispositivo onde as duas portas nunca se abrem ao mesmo tempo, quando uma porta está aberta a outra não abra, evitando duas situações, a primeira é que não há risco do inseto entrar na barreira e ir direto para dentro da fábrica se a segunda porta também está aberta neste momento, a outra situação é que ninguém vai ficar conversando com a porta aberta com o colega para terminar um assunto do jogo de futebol ou aquela cervejinha depois do expediente, sabendo que pode haver um outro colega esperando para liberar a porta para sair ou entrar, evitando assim o tempo de porta aberta, apreendendo na marra que a porta deve ser fechada imediatamente.
Entre uma porta e outra, coloca-se uma armadilha luminosa para captura de insetos que por ventura entrar na barreira sanitária, esse dispositivo também servirá de monitoramento, para saber a quantidade de insetos e que tipos de insetos estão entrando na barreira, a partir destes dados você tem números para a prova da efetividade e ações corretivas se necessário. A armadilha luminosa é um dispositivo que captura os insetos, atraem insetos voadores como moscas, mosquitos, mariposas entre outros através de uma ou mais lâmpadas com alta quantidade de raios de luz Ultra Violeta, os insetos ficam aderidos a uma placa de cola dentro do dispositivo.
Alguns cuidados devem ser observados quanto as armadilhas luminosas, existem vários modelos e tamanhos, cada modelo e tamanho tem uma área de capacidade de abranger que deve ser orientada pelo fabricante, alguns modelos emitem a luz para cima, são os modelos slim, elas são tão eficiente quanto as que emitem a luz para a frente, mas tem um detalhe, os raios ultra violetas são prejudiciais ao olho do ser humano quando olhado diretamente para a lâmpada, no modelo slim não é possível ver as lâmpadas, o que se enxerga é a claridade emitida por ela, por sua vez a claridade não é prejudicial, prefira sempre as que emitem a luz para cima evitando que alguém sinta-se desconfortável ao passar próximo aos dispositivos.
É importante ficar atendo a altura da armadilha, a altura ideal dela é de 1,80 m e deve ser instalada de modo que não compete com outras fonte de iluminação e que não seja vista pelo lado de fora da barreira e assim evitando que insetos da área externa sejam atraídos.
Outa situação é a iluminação próxima da barreira sanitária e na área interna da barreira, o mais correto é utilizar na barreira sanitária e próximo a ela lâmpadas que atraem menos insetos, como as lâmpadas de vapor de sódio, essas lâmpadas atraem 70% menos insetos em comparação as demais, as lâmpadas a base de vapor de sódio podem e devem ser instaladas nas áreas mais distantes da indústria, as de vapor de mercúrio tem poder de atrair mais insetos, desta forma manteremos os insetos noturnos bem mais distantes da indústria. É importante que as lâmpadas tenham proteção superior, para evitar que a luz se propague e consequentemente seja vista por insetos a uma longa distância.
Uma falha de procedimentos muito frequente, é o acumulo em frente as barreiras sanitárias de resíduos oriundos do chão da fábrica, consequentemente atrai muitos insetos, principalmente as moscas, isso ocorre porque quem sai da fábrica esquece de lavar as botas na barreira sanitária, espalhando os resíduos que estavam impregnados na sola das botas para o lado externo, com uma grande quantidade de insetos no lado externo e próximo a barreira sanitária a chance delas conseguirem entrar é maior.
Já foi comentando, mas é importante fazer mais um reforço, não pode haver nenhum orifícios e/ou acesso na barreira sanitária e em nenhum outro lugar na indústria que possa facilitar a entrada das pragas para dentro das áreas internas, muito atenção para espaços em baixo das portas, use borrachas próprias para a vedação, e assim evitar a entrada de qualquer animal indesejável.
E para finalizar, monitore a vedações de orifícios, das molas ou braços que compõem o fechamento automático das portas, a quantidade de insetos capturados nas armadilhas, pois estes serão muito úteis para estabelecer metas e assim promover o melhoramento continuo e sempre promova o treinamento e orientação dos integrantes e novos integrantes do time que compõem a indústria.
Por
Mauricio Marcos Schneider
Vice Presidente (ACPRAG)
Associação de Controladores de Pragas de Santa Catarina