Manejo das capivaras na Pampulha vai custar R$ 500 mil

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Manejo das capivaras vai começar na próxima segunda-feira (foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press.)

O destino do grupo de roedores que ocupa o principal cartão-postal da terceira maior capital do Sudeste brasileiro, desafiando a Prefeitura de Belo Horizonte há cinco anos, pode estar finalmente traçado. Depois de tanto tempo de impasse sobre o que fazer com as capivaras da Pampulha, o secretário Municipal de Meio Ambiente, Mário Werneck, garante que a solução definitiva para os animais que vivem na orla da lagoa começa a ser adotada na segunda-feira. Após meia década de debates, polêmica e batalha judicial, as medidas foram anunciadas em meio à volta do medo à região, diante da morte de um homem de 42 anos, vítima de febre maculosa – doença transmitida pelo carrapato-estrela, que tem na capivara um dos hospedeiros.

O paciente, morador de Contagem, visitou a Pampulha antes de manifestar os sintomas. Nessa sexta-feira, a Secretaria Municipal de Saúde da cidade da região metropolitana confirmou a segunda morte pela doença, de um lavrador do município de Florestal. Com isso, sobe para 12 o número de mortes pela doença no estado – maior número desde 2008, quando começaram os registros.

No caso de Belo Horizonte, apesar da pressão provocada pela morte recente, a Prefeitura de Belo Horizonte ainda aguarda a aprovação pelo Ibama de termo de compromisso e licenciamento para o plano de manejo das capivaras. Porém, o secretário Mário Werneck informou que as medidas serão colocadas em prática com ou sem a licença.

A proposta apresentada pelo secretário prevê a esterilização dos animais, além da aplicação nos animais de substância para eliminação do carrapato-estrela, transmissor da bactéria Rickettsia rickettsii, que causa a febre maculosa. A prefeitura se mobilizou para fazer o manejo dos animais, ao custo de R$ 500 mil.

As reuniões entre o Ibama, a PBH e o Ministério Público de Minas Gerais, para definir como o manejo será feito vêm ocorrendo desde o ano passado. Uma proposta chegou a ser apresentada aos técnicos do instituto pela gestão passada, em 30 de dezembro de 2016. “Fizemos uma análise e solicitamos, em fevereiro, uma série de informações complementares para que pudéssemos emitir a autorização. Mas os documentos não foram enviados. Com a mudança de governo, o responsável pelo trabalho não estava mais na prefeitura. Há cerca de 20 dias, uma nova proposta nos foi encaminhada e estamos encerrando a análise”, disse o analista ambiental do Núcleo de Biodiversidade e Florestas do Ibama-MG, Junio Augusto dos Santos Silva.

Segundo ele, o órgão deve emitir parecer sobre o documento na semana que vem. Ele disse, no entanto, que as medidas para controle do carrapato-estrela já podem ser adotadas pelo município.

Segundo o secretário Mário Werneck, tudo está pronto para a execução do plano de manejo. “Quinta-feira tivemos a liberação do recurso. Já temos a equipe técnica programada para as ações. Estamos aguardando, nas próximas horas, a liberação do termo de referência e da licença para monitoramento e controle de animais silvestres pelo Ibama e acredito que na segunda-feira os trabalhos de campo já estejam em prática”, afirmou, na manhã de sexta-feira.

Segundo ele, o valor destinado ao serviço vem da iniciativa privada e já está garantido. “O custo foi da liberação de uma medida compensatória, não foi multa para nenhuma empresa não. É apenas o cumprimento de uma lei do Sistema Nacional de Unidade de Conservação, que foi aplicado no valor de 0,5% em cima do custo final do projeto de uma empresa”, informou.

Longo histórico

O alerta para a necessidade de manejo dos animais na Pampulha foi ligado em 2011, quando, na cidade paulista de Campinas, quatro funcionários de um parque foram diagnosticados com febre maculosa. Mas foi em 2012, quando houve aumento significativo da população dos roedores na Pampulha, com a destruição dos jardins de Burle Marx, que a administração de BH começou a se mobilizar. Foi quando teve início a discussão sobre a inviabilidade da convivência dos animais no espaço urbano.

Em setembro de 2014, na administração municipal anterior, 52 capivaras foram capturadas e confinadas. O processo provocou a morte da maior parte delas e, em março do ano seguinte, a Justiça determinou a soltura das 14 que restaram. Em setembro de 2016, um novo episódio chamou a atenção para o risco da doença na orla: uma criança de 10 anos, que esteve no parque, morreu com febre maculosa e a discussão sobre o manejo dos roedores foi retomada, com assinatura do termo de ajustamento de conduta (TAC) entre prefeitura e Ministério Público, em fevereiro deste ano.

Pelo plano de manejo do município (veja quadro), os animais não deixarão a Pampulha para a esterilização, já que o procedimento será feito dentro de um bloco cirúrgico nas dependências do parque ecológico. O médico- veterinário Leonardo Maciel, da Secretaria Municipal Meio Ambiente, explica que os animais serão atraídos com alimentos e conduzidos para uma área de contenção. “Lá, serão sedados e anestesiados. A esterilização prevê ligadura de trompas nas fêmeas e vasectomia nos machos. No pós-operatório, eles serão medicados para dor e com antibiótico”, disse Leonardo.

Após recuperadas, as capivaras retornam para seus núcleos populacionais na orla da lagoa, onde vão contribuir para eliminar os carrapatos em locais em que a Prefeitura de BH não tem acesso para aplicação de inseticidas.

 

MANEJO 

Como ocorrerá o plano para esterilização e aplicação de carrapaticida nos roedores

1) Os animais serão atraídos com uma isca alimentar e conduzidos a uma área de contenção no Parque Ecológico da Pampulha, na orla da lagoa

2) No parque, serão sedados, anestesiados e levados para um bloco cirúrgico dentro das dependências da unidade de conservação

3) As capivaras passarão por um procedimento cirúrgico para a esterilização (ligadura de trompas nas fêmeas e vasectomia nos machos) e terão a aplicação de carrapaticida no corpo

4) No pós-operatório, recebendo medicação para dor e antibióticos

5) Recuperadas, retornarão para a orla da lagoa

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