A malária foi uma doença endêmica na Europa, não só nos países do sul, como a Grécia, mas também em países ao norte como a Finlândia. No final do século XIX, a malária foi responsável pela morte de 15 mil pessoas por ano na Itália. Mas, no final do século passado, os programas de saúde pública erradicaram a doença no continente. Hoje, mesmo na África e na Ásia, o combate à malária tem sido eficaz. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde, de 2000 a 2015 houve uma redução de 37% na taxa de incidência global e uma queda de 60% no número de mortes.
Assim, seria pouco provável que os médicos se deparassem com casos de malária na Suíça. No entanto, dados do Departamento de Saúde Pública da Suíça (BAG) mostraram que há pouco tempo casos anuais de malária causada pelo parasita Plamodium vivax aumentaram, de menos de 200 em meados da década de 2000 para 250 a 400 casos nos últimos quatro anos. Aumentos semelhantes de surtos de malária foram registrados na Alemanha, França e Suécia, de acordo com o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC). Desde o início da crise migratória em 2014, quase todos os casos na Suíça foram de refugiados da Eritreia.
Os pesquisadores não acham que as vítimas tenham sido infectadas na Suíça. Um relatório de 2016 publicado na revista científica Malaria Journal mostrou que não havia indícios se os migrantes tinham sido infectados pelo parasita P. vivax antes de embarcarem para a Europa, ou se haviam sido contaminados durante a viagem. As diferentes fases evolutivas do parasita podem permanecer em estado latente no fígado por meses ou anos e, portanto, a doença pode ser transmitida antes dos sintomas aparecerem.
A Suíça não tem mosquitos do gênero Anopheles transmissores do parasita Plasmodium falciparum, que causa a forma mais letal da malária na África subsaariana. Mas outras espécies de mosquitos comuns em climas temperados podem transmitir o parasita P. vivax.
É improvável que a malária volte a ser uma doença endêmica na Europa. Mas os médicos têm enfrentado pequenos surtos, em especial nos países do sul do continente. Em 2011 e 2012, um surto na Grécia infectou 189 pessoas, um alerta para que os países tenham os recursos necessários para tratar a doença. No entanto, a quinina, o fármaco mais eficiente contra a malária transmitida pelo parasita P. vivax, não consta do registro de medicamentos da Suíça. Os médicos têm de importar o fármaco, disse Adrien Kay da BAG, e são reembolsados a critério das seguradoras. É preciso então que haja um combate rápido e eficaz contra a doença antes que se dissemine.