Pouco menos de dois meses após o Ministério da Saúde divulgar que o surto de febre amarela no país havia chegado ao fim , a cidade de São Paulo voltou a ficar em alerta em relação à doença, chegando a registrar 14 casos de suspeita da infecção. Atualmente, dez pessoas ainda aguardam os laudos médicos para confirmar o diagnóstico , enquanto quatro pacientes já foram liberados.
As notificações de suspeita começaram a chegar ao governo depois que três macacos foram encontrados mortos em parques da capital paulista – um no Horto Florestal e dois no Parque Anhanguera – por conta da febre amarela . Antes, apenas os estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Bahia haviam sido afetados pelo vírus.
A doença já fez, pelo menos, 261 vítimas em todo o País entre dezembro de 2016 e agosto de 2017. No entanto, essa estimativa ainda pode aumentar, já que ainda há mortes sendo investigadas que poderiam ter sido causadas pelo vírus .
Apesar de os dados serem divulgados, ainda há muitas dúvidas sobre a situação da doença no Brasil e qual conduta a população deve seguir para continuar colaborando com a prevenção da infecção e eliminação do transmissor.
Pensando em esclarecer essas questões, o médico e CEO do Consulta do Bem Marcus Vinicius Gimenes, e Carlos Ballarati, especializado em patologia clínica e sócio-fundador do Consulta do Bem responderam algumas perguntas. Confira
Existe mais de uma Febre Amarela?
Sim, existe a f ebre amarela silvestre e a febre amarela urbana , sendo que a única diferença entre as duas são os mosquitos transmissores da doença. O vírus continua sendo o mesmo, por isso ambas apresentam os mesmos sintomas e a mesma evolução.
A febre amarela silvestre é transmitida pelos mosquitos Haemagogus e Sabethes, que estão presentes nas matas e na beira dos rios. Já a febre amarela urbana é transmitida pelo famoso mosquito, o Aedes aegypti , que é também responsável pela transmissão da dengue, zika e chikungunya.
Macacos infectados com Febre Amarela transmitem a doença aos humanos?
A doença é transmitida apenas pela picada do mosquito que carrega o vírus. Por isso, não há necessidade de exterminar os macacos doentes, que também são vítimas. Para os paulistanos, a confirmação da condição infecciosa nos macacos do parque funcionou como um alerta para antecipar a prevenção da febre amarela antes que chegasse à cidade.
A doença é contagiosa?
Não. Pessoas não podem passar a doença. A única forma de transmitir a condição é pela picada do mosquito que carrega o vírus.
Todos os paulistanos devem tomar a vacina?
Como os mosquitos Haemagogus e Sabethes, responsáveis pela transmissão da febre amarela silvestre, só conseguem voar por até 500 metros de distância, não é possível eles chegarem muito longe.
É por isso que só quem mora na zona norte de São Paulo e nas proximidades deve, obrigatoriamente, receber a vacina, caso um destes mosquitos contaminados saia da área do parque.
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Como prevenir a doença?
A melhor opção preventiva contra a febre amarela continua sendo a vacina, que é indicada para bebês com mais de 9 meses e adultos de até 60 anos. O mais recomendado às crianças é tomar a primeira dose do imunizante aos 9 meses e um reforço aos 4 anos de idade. Já no caso de adultos, é necessário tomar duas doses com um intervalo de 10 anos. As duas doses são suficientes para garantir proteção ao organismo.
No caso de bebês com menos de 9 meses, gestantes, lactantes, pessoas com mais de 60 anos e aqueles que possuem HIV ou doenças autoimunes devem receber indicação médica para a vacina. Vale ressaltar que os especialistas indicam um prazo de 10 dias até a vacina ter efeito.
Outras formas de prevenção são o uso de repelentes e também evitar deixar em casa lixo ou recipientes que possam acumular água. Mas é importante dizer que quem já teve a doença fica imune para o resto da vida.
“A prevenção é sempre o melhor caminho. No caso da febre amarela, a vacinação das pessoas que moram nas proximidades da zona norte de São Paulo cria um ‘cinturão’ de proteção contra o avanço da doença na cidade”, explica Gimenes.
Como ter certeza do diagnóstico?
Como os sintomas da febre amarela se assemelham muito com uma gripe comum – febre, dor de cabeça, dores pelo corpo, vômitos e, às vezes, diarreia – é necessário estar atento e procurar um médico logo no primeiro sinal de mal-estar, principalmente os moradores da região próxima ao Horto Florestal. Geralmente, depois de 24h até 48h, as pessoas podem começar a melhorar naturalmente ou a doença pode evoluir para formas mais graves, afetando os rins e o fígado. É apenas nessa fase que o sintoma mais conhecido da doença, a icterícia (também conhecida pelo “amarelão” dos olhos), aparece.
Como funciona o tratamento da doença?
O tratamento para a febre amarela é sintomático, ou seja, ele ajuda a aliviar os sintomas da doença. Porém a principal preocupação é sempre manter a pessoa hidratada para que os rins e o fígado não entrem em falência.
Ampliação da vacina
Devido aos ocorridos em São Paulo, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirmou nesta quinta-feira (9) que, caso as suspeitas da doença forem confirmadas na capital paulista, a vacinação contra o vírus poderá ser ampliada para toda a cidade.
Até o momento, apenas as Unidades Básicas de Saúde da zona norte receberam reforço dos imunizantes e realizaram campanha para incentivar a população a aderir à vacina, com 43 endereços oferecendo o serviço na região.
“Se for o caso, vamos ampliar as áreas aqui em São Paulo, porque há uma migração da doença. Mas vamos ter que ter muita tranquilidade, calma, para que não haja uma busca desnecessária pela vacinação. Havendo necessidade e procura pela população, as vacinas estarão disponíveis”, afirmou o ministro, ao participar do Seminário Organizações Sociais de Saúde, no Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo.
O diagnóstico da febre amarela nos suspeitos deverá ser divulgado nos próximos 10 dias. “Os sintomas da febre amarela são muito parecidos com os de outras doenças. O fato é que, em função dos episódios do ano passado, há um excesso de zelo, vamos dizer assim. A nossa vigilância vem evitar que aconteça uma a epidemia, como no ano passado”, ponderou Barros.