Relatório divulgado nesta quarta-feira (29) pela Organização Mundial da Saúde (OMS) mostrou que a região das Américas teve o maior crescimento percentual (36%) na incidência de casos de malária entre 2014 e 2016 no mundo.
O crescimento foi intensificado a partir de 2013, devido principalmente ao aumento da incidência — isto é, o número de casos a cada 1 mil pessoas sob risco — no Brasil e na Venezuela, países que responderam por 52,4% dos casos reportados em 2016 nas Américas, segundo a agência das Nações Unidas.
O Brasil registrou 34,4% do total de casos das Américas no ano passado, enquanto sua população responde por cerca de 20% do total. Apesar disso, o país teve uma queda de 9,7% das ocorrências em 2015, com 129,2 mil. Foram 37 mortes na comparação com 35 no ano anterior.
De acordo com a OMS, aproximadamente 45% dos casos registrados ocorreram em 15 municípios dos estados do Acre e do Amazonas.
Já a Venezuela, que era considerada historicamente um modelo para a erradicação da malária nas Américas, passou a ter um crescimento da doença a partir de 2008, em meio à crise política e econômica enfrentada pelo país.
Entre 2015 e 2016, os casos reportados aumentaram 76%, para mais de 240 mil, o maior número registrado na história da Venezuela, superando o Brasil em número de ocorrências no continente.
Número de casos sobem no mundo
Após um êxito mundial sem precedentes no controle da malária, o progresso paralisou, revelou o Relatório Mundial sobre Malária 2017 da OMS.
Estima-se que em 2016 houve 5 milhões de casos adicionais da doença globalmente na comparação com 2015. Já os óbitos ficaram em torno de 445 mil, número similar ao do ano anterior.
“Nos últimos anos, tivemos grandes conquistas na luta contra a malária”, disse Tedros Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. “Estamos agora em um ponto de virada. Sem ação urgente, corremos o risco de retroceder e perdermos os objetivos globais da malária para 2020 e além”.
A Estratégia Técnica Global da OMS para a Malária prevê reduções de pelo menos 40% na incidência de casos de malária e taxas de mortalidade até o ano 2020. De acordo com o último relatório de malária da OMS, o mundo não está no caminho certo para atingir esses objetivos.
O relatório mostra que, no ano passado, foram estimados 216 milhões de casos de malária em 91 países. Em 2015, foram 211 milhões. O recorde global estimado de mortes por malária atingiu 445 mil no ano passado. Em 2015, fora 446 mil.
A Região Africana continua a concentrar cerca de 90% de todos os casos de malária e mortes em todo o mundo. Quinze países — 14 na África Subsaariana — carregam 80% do fardo global da malária.
“Claramente, se quisermos fazer a resposta global da malária voltar ao caminho certo, o apoio aos países mais afetados na Região Africana deve ser o principal foco”, afirmou Tedros.
Escassez de financiamento
Um grande problema é o financiamento insuficiente, tanto no nível doméstico quanto internacional, resultando em grandes lacunas na cobertura de redes tratadas com inseticida, medicamentos e outras ferramentas que salvam vidas.
Estima-se que, em 2016, 2,7 bilhões de dólares tenham sido investidos no mundo em esforços para controle e eliminação da malária. Essa quantia está bem abaixo do investimento anual de 6,5 bilhões de dólares exigido até 2020 para atingir as metas de 2030 da estratégia global da OMS contra a malária.
Em 2016, governos de países endêmicos proveram 800 milhões de dólares, representando 31% do financiamento total. Os Estados Unidos foram o maior financiador internacional dos programas de controle da malária em 2016, fornecendo 1 bilhão de dólares (38% de todo o financiamento da malária), seguido de outros doadores importantes, incluindo o Reino Unido, França, Alemanha e Japão.
Controle da malária
Na maioria dos países afetados pela malária, dormir sob um mosquiteiro tratado com inseticida (ITN, na sigla em inglês) é a maneira mais comum e efetiva de prevenir a infecção.
Em 2016, 54% das pessoas em risco de malária na África Subsaariana dormiram sob um desses mosquiteiros em comparação com 30% em 2010. No entanto, a taxa de aumento da cobertura de ITN diminuiu desde 2014, segundo o relatório.
Pulverizar as paredes internas das casas com inseticidas é outra maneira eficaz de prevenir a malária. O relatório revela uma queda acentuada no número de pessoas protegidas contra a doença por esse método — de cerca de 180 milhões em 2010 para 100 milhões em 2016 — com as maiores reduções observadas na Região Africana.
A Região Africana tem visto um grande aumento nos testes de diagnóstico no setor de saúde pública: de 36% dos casos suspeitos em 2010 para 87% em 2016. A maioria dos pacientes (70%) que buscou tratamento para a malária no setor de saúde pública recebeu terapias de combinação baseadas em artemisinina — os mais eficazes medicamentos contra malária.
No entanto, em muitas áreas, o acesso ao sistema de saúde pública permanece baixo. Pesquisas a nível nacional na Região Africana mostram que apenas um terço (34%) das crianças com febre são levadas a um médico no setor de saúde pública.
O relatório também descreve desafios adicionais na resposta global à malária, incluindo os riscos gerados por conflitos e crises em zonas endêmicas de malária.
A OMS está atualmente apoiando a resposta à malária em Nigéria, Sudão do Sul, Venezuela e Iêmen, onde as crises humanitárias em curso apresentam sérios riscos para a saúde.
No estado de Borno, na Nigéria, por exemplo, a OMS apoiou o lançamento de uma campanha de massa de administração de medicamentos contra malária neste ano, que atingiu cerca de 1,2 milhão de crianças menores de 5 anos em áreas prioritárias. Os primeiros resultados apontam para uma redução nos casos de malária e óbitos nesse estado.
Alerta
“Estamos em uma encruzilhada na resposta à malária”, disse Pedro Alonso, diretor do Programa Global de Malária, ao comentar as descobertas do relatório deste ano.
“Esperamos que este relatório sirva como um alerta para a comunidade de saúde global. Só será possível alcançar as metas globais relacionadas à malária com um maior investimento e uma cobertura ampliada das ferramentas essenciais que previnem, diagnosticam e tratam a malária“.