Estudo indica que pesticidas domésticos contaminam pessoas

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Por Ricardo Gouveia

O parecer elaborado por pesquisadores da UFSC aponta que aqueles sprays e pastilhas colocados nas tomadas para afastar mosquitos estão contaminando não só os insetos.
E quem está mais vulnerável são as crianças. Não só por passar uma noite inteira de sono expostas ao pesticida, mas porque, segundo o parecer, os resíduos vão para o chão, onde muitos bebês têm contato prolongado com as mãos. E essas substâncias, os piretroides, resistem a produtos de limpeza e ficam na casa por até 17 horas.

Essa exposição pode resultar em reações alérgicas, dores de cabeça e vômitos, que são confundidos muitas vezes com viroses. E o estudo aponta também que a exposição prolongada pode afetar o sistema endócrino, prejudicar o desenvolvimento de fetos e até causar leucemia. O parecer aponta que as instruções de uso nas embalagens também são confusas e não orientam os consumidores da maneira adequada.

O uso de pesticidas domésticos deveria ser suspenso, na visão da autora do parecer, a professora de gestão ambiental do campus de curitibanos da UFSC, Sonia Hess:

“O que aparece nos estudos é que o uso normal, sugerido pelos fabricantes, resulta numa contaminação muito grande dentro das casas. Os efeitos crônicos são muito graves e interferem na produção de hormônios sexuais, na tireoide, causam hiperatividade em crianças e câncer. Ou seja, a maioria destes pesticidas que estão presentes dentro das casas, ainda mais agora com esse problema da dengue, são muito perigosos para a saúde”, conclui Sonia.

Uma alternativa apontada por ela é usar ventiladores para afastar os mosquitos em ambientes fechados. O parecer também indica que a comercialização das substâncias presentes nesses produtos vai além dos problemas causados para a saúde humana. Elas deveriam ser proibidas, de acordo com a própria lei brasileira.

A Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, respondeu que os pesticidas domésticos à base de piretroides são considerados seguros e recomendados pela Organização Mundial de Saúde para combater a proliferação de doenças transmitidas por mosquitos. Mas a Anvisa declarou que faz constantemente a reavaliação toxicológica dos produtos comercializados no Brasil e que está aberta a contribuições que auxiliem a encontrar indícios que apontem riscos à saúde humana.

A Abas, a Associação Brasileira de Aerossóis e Saneantes Domissanitários, defende que o uso de pesticidas domésticos são fundamentais, ainda mais em um país tropical. O presidente da Abas, Hugo Chaluleu, diz que os riscos sempre existem, mas que os produtos a base de piretroides são aprovados por normas internacionais e ajudam a combater doenças como dengue, chikungunya e zika:

“Neste momento não há outro, além do piretroide, para nos defender. Eles degradam com luz solar, não são tóxicos aos mamíferos e os principais países do mundo, há muitos anos, só autorizam estes ativos. Ainda bem que temos isso para evitar microcefalia”, declara Hugo.

O parecer com os alertas sobre o uso de pesticidas domésticos foi recebido pelo Ministério Público Estadual de Santa Catarina e encaminhado o Ministério Público Federal, já que assuntos relacionados à Anvisa são de esfera nacional.

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