Os sete casos confirmados de doença de chagas no Amazonas ocorerram por contaminação do açaí. A informação é da Secretaria de Saúde do estado (Susam). Segundo a pasta, todas as pessoas infectadas são da mesma família e ingeriram o alimento.
Os casos foram registrados em Lábrea, a 702 km de Manaus. A Susam afirma que outro ponto que leva as autoridades a afirmarem que a contaminação se deu pelo açaí é que as pessoas da família que não ingeriram o alimento não apresentaram nenhum sintoma da doença.
Bernardino diz que, desde que a doença começou a ser diagnosticada no Brasil, já são dois milhões de casos registrados. De acordo com ele, a forma mais comum de transmissão, principalmente no nordeste, é por meio do contato direto do barbeiro com a pessoa. Isso por causa da adaptação do inseto ao tipo de moradia das vítimas naquela região.
Na região Amazônica, por causa do tipo de moradia predominante – casas de madeira -, a presença do inseto neste tipo de residência é mais difícil. Por isso, o diretor-presidente da FVS afirma que os casos de Doença de Chagas no Amazonas, por meio da transmissão do vetor, são raros. Em 2016, foram apenas quatro registros.
Neste contexto, Bernardino diz que a transmissão da doença na região acaba sendo mais por meio do consumo de alimentos da floresta, preparados sem a higiene necessária. De acordo com ele, a transmissão da doença em humanos ocorre por meio do contato direto com as fezes do barbeiro infectado ou pela ingestão de alimentos contaminados com as fezes infectadas.
Alerta na preparação de alimentos
A Secretaria de Estado de Saúde (Susam), por meio da FVS, reforçou o pedido para que a população tome os cuidados necessários na hora de preparar e consumir os produtos. Bernardino ressalta que o açaí não pode ser visto como vilão. Não é o produto que está suscetível à contaminação, e sim, o modo como ele é preparado.
“Aqui, a principal forma é a transmissão, tendo como veículo esses produtos da floresta, que não é só o açaí. Tem casos por bacaba, por caldo de cana. Agora, o fruto do açaí permite a contaminação? Não. É a falta de boas práticas no preparo do açaí. Principalmente, depois da mecanização”, comenta o diretor-presidente.
Alguns pontos devem ser observados na hora da compra, da preparação, da conservação e do consumo de alimentos: verificar as condições de higiene dos manipuladores, do local de venda e de conservação dos alimentos.
A FVS também ressalta que, além do açaí, outros alimentos podem estar envolvidos na transmissão oral do parasito (T. Cruzi). São exemplos: frutas, outros vegetais e as suas preparações, como suco de cana de açúcar, patauá, buriti, bacaba, carne crua, sangue de mamíferos silvestres e leite cru.
A fundação informa, ainda, que o resfriamento e congelamento de alimentos não previne a transmissão oral pelo T. Cruzi, mas, o cozimento acima de 45 ºC, a pasteurização e a liofilização o fazem.
Ações em Lábrea
Um dos trabalhos feitos em Lábrea pelas autoridades de saúde do Estado e do município é o rastreamento de todas as pessoas que tomaram o açaí da mesma procedência dos infectados pela doença.
“As pessoas estão passando por exames e sendo acompanhadas no sentido de detectar o mais rapidamente possível, caso estejam com a doença”, diz Bernardino.
A Susam informa, também, que Lábrea está abastecida com toda a medicação necessária para o tratamento da doença, e os profissionais de saúde foram orientados para ficarem em alerta para qualquer caso de suspeita da Doença de Chagas.
Sintomas
Os sintomas da Doença de Chagas são parecidos com o da Malária: febre alta, calafrio, dor de cabeça, dor muscular, dor nas articulações, enjoo e vômito. “É muito parecido com o quadro da Malária. Tanto é que, praticamente, quem dá o diagnóstico de Doença de Chagas acaba sendo o microscopista da Malária”, explica Bernardino.
Dos sete pacientes confirmados com a doença, cinco estão em Manaus e dois em Lábrea. A Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD) informa que apenas uma pessoa está internada na unidade. Por se tratar de uma criança, os médicos optaram pela internação.
Os outros quatro pacientes estão fazendo acompanhamento ambulatorial. Eles foram avaliados e a equipe médica constatou que não era necessária a internação. Todos foram orientados a buscar uma unidade de saúde com urgência, em caso de alguma mudança grave no quadro.
A FVS tem uma cartilha de orientação aos produtores de açaí e demais produtos da floresta com relação às boas práticas de higiene. O material está sendo distribuído nos locais de produção dos alimentos, que também estão sendo catalogados.