Infectologista: chikungunya é debilitante e pode até matar

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A médica Danyenne Rejane de Assis alerta sobre os riscos causados pela chikungunya

Os casos de de febre chikungunya cresceram 184% em Mato Grosso em 2017, na comparação com o ano anterior.

Ao todo 3.617 pessoas tiveram a doença no ano passado, segundo dados levantados pela Secretaria de Estado de Saúde (Ses-MT).

Segundo a infectologista Danyenne Rejane de Assis, do Hospital Universitário Júlio Müller, a doença é tão grave quanto a dengue e pode até matar.

“Ela é mais debilitante [que a dengue] porque o vírus da chikungunya tem atrofismo, uma afinidade pelas articulações. E o paciente fica com dificuldades para mexer, para se movimentar, para andar e acaba sendo mais debilitante. Mas o que a gente vê até o momento é que a mortalidade da dengue é maior”, explica.

A doença pode ser caracterizada principalmente pelas fortes dores nas articulações e no corpo, conforme informou a médica.

Além disso, a especialista explicou que a doença pode acarretar na evolução de patologias neurológicas e que pode ser perigoso para os pacientes.

Confira os principais trechos da entrevista:

MidiaNews – Em 2017, houve um aumento de 184% nos casos de chikungunya em Mato Grosso na comparação com 2016. A senhora sabe a que se deve isso?

Danyenne Rejane de Assis – São vários fatores combinados. Um deles pode ser a notificação dos casos. A gente ainda não tinha o alerta epidemiológico da doença. Então pode ser que aumentou o registro dos casos. Também tem a circulação do vetor, o Aedes aegypti, por conta da época do ano, dos meses mais chuvosos concentrados mais no começo do ano. E também o fato do aumento de pessoas infectadas gerar maior possibilidade de transmissão. Elas podem servir para o mosquito infectar outras pessoas. Consequentemente causa maior disseminação. É um efeito cascata. Quanto mais pessoas infectadas, maior a chance de mais pessoas serem infectadas.

MidiaNews – A chikungunya é mais grave que a dengue?

Danyenne Rejane de Assis – Não tem como afirmar que é uma doença mais grave. Mas ela é mais debilitante porque o vírus da chikungunya tem atrofismo, uma afinidade pelas articulações. E o paciente fica com dificuldades para mexer, para se movimentar, para andar e acaba sendo mais debilitante. Mas o que a gente vê até o momento é que a mortalidade da dengue é maior.

MidiaNews – Então ela pode matar?

Danyenne Rejane de Assis – Ela também pode matar. O que a gente vê principalmente é o aumento da morbidade física do paciente.

MidiaNews – Ter chikungunya é mais perigoso que ter dengue?

Danyenne Rejane de Assis – Pode ser tão perigoso quanto.

MidiaNews – Qual a diferença entre as duas doenças?

Danyenne Rejane de Assis – A apresentação das duas doenças é muito parecida. Elas causam febre, mal estar, pode causar vermelhidão no corpo. A principal diferença entre as duas é que a chikungunya acomete mais as articulações do que a dengue.

MidiaNews – Um dos sintomas mais falados são dores no corpo, que se estenderiam por vários meses até.

Danyenne Rejane de Assis – Sim, as dores aparecem no corpo e nas articulações. E podem se estender por vários meses.

MidiaNews – As dores nas juntas podem ficar para sempre?

Danyenne Rejane de Assis – Algumas doenças que acometem as juntas, elas podem piorar com o aparecimento da chikungunya. Onde pode acarretar a piora dessa patologia e pode ser definitivo.

MidiaNews – A rede pública está preparada para uma epidemia de chikungunya?

Danyenne Rejane de Assis – O SUS e o Ministério da Saúde têm trabalhado com capacitação, têm feito a vigilância através dos agentes comunitários, que diminui a água parada. E eu acredito que está preparada sim para atender a demanda. Mas falar com certeza que vai ter atendimentos para todos, se atingir grandes proporções, aí é mais difícil. Mesmo porque o tratamento dos pacientes crônicos também depende de mais de um especialista. Mas no geral é uma doença que pode ser tratada nas unidades básicas de saúde. Controlando os focos do mosquito, eu acredito que não tem motivos para achar que há um risco de se não conseguir controlar a doença.

MidiaNews – As autoridades estão atentas para esse problema?

Danyenne Rejane de Assis – Alguns profissionais foram para Brasília para fazer um treinamento sobre as manifestações neurológicas da doença. A chikungunya é uma ecovirose e pode ter complicações até mais sérias que problemas articulares. Ela pode evoluir para complicações neurológicas, pode haver manifestações de paralisia e síndrome de Guillain-Barré.

MidiaNews – Quem já pegou dengue tem mais chance de pegar chikungunya ou não existe nenhum relação entre as duas doenças, além do Aedes?

Danyenne Rejane de Assis – É igual. Não existe uma relação. Todo mundo está predisposto a contraí-la.

MidiaNews – Em que casos os pacientes devem ser internados?

Danyenne Rejane de Assis – Na maioria das vezes o tratamento é feito ambulatorialmente. O paciente faz uma consulta, recebe as medicações, faz o repouso e tem algumas indicações que precisam de internação quando há complicações neurológicas. A chikungunya não acarreta um índice de mortalidade significativo. A não ser que surjam complicações.

MidiaNews – A chikungunya só se pega uma vez?

Danyenne Rejane de Assis – Não, você pode pegar mais de uma vez. Assim como a dengue também.

MidiaNews – Existe vacina para essa doença?

Danyenne Rejane de Assis – Não. O tratamento é basicamente repouso, analgésicos, são sintomáticos. Remédios para dor nas articulações e evitar outras medicações, evitar tomar qualquer anti-inflamatório por conta própria. E sempre que tiver um caso sugestivo com fraqueza, dor de cabeça, dor no corpo, dor nas articulações, procurar uma unidade de saúde.

MidiaNews – O tratamento é basicamente o mesmo feito no caso da dengue?

Danyenne Rejane de Assis – É basicamente o mesmo.

MidiaNews – Assim como a dengue, o paracetamol é o medicamento indicado para os doentes?

Danyenne Rejane de Assis – O paracetamol é indicado. É o principal remédio que a gente receita para o controle da dor. Aí pode exigir algumas outras medicações no caso de dor nas articulações significativa. Mas é sempre bom procurar um médico.

MidiaNews – As campanhas de conscientização contra o mosquito parecem não surtir efeito. A senhora acha que deveria haver outra abordagem?

Danyenne Rejane de Assis – Com certeza. Todas as abordagens são válidas. Eu acho que é um assunto que poderia estar mais nas mídias. E realmente a gente precisa envolver a população para se informar sobre essa doença. Acho que precisa mesmo de um grande trabalho de conscientização, procurar esclarecimento sobre a doença, não deixar água parada nos terrenos.

MidiaNews – Como podemos evitar a proliferação da doença?

Danyenne Rejane de Assis – É basicamente evitar deixar acumular água em terrenos baldios, lixo acumulado, vasos de plantas com agua parada.

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