Uma nova técnica para detecção do vírus zika, mais sensível e barata que a PCR em tempo real (o padrão ouro hoje utilizado para diagnóstico molecular da doença) mostrou-se eficiente nos testes com amostras de mosquitos.
O teste foi desenvolvido durante o curso de mestrado em Biociências e Biotecnologia em Saúde da Fiocruz Pernambuco, pelo aluno Severino Jefferson, com a orientação do pesquisador Lindomar Pena.
A tecnologia, denominada amplificação isotérmica mediada por alça (RT- Lamp), também tem a vantagem de ser bem mais rápida do que a PCR, diminuindo de cinco horas para menos de uma hora o tempo necessário para obter o resultado.
Trata-se de uma ferramenta que pode ser utilizada em qualquer lugar, na forma de kit rápido, pois não depende de equipamentos caros e sofisticados, restritos a laboratórios especializados, como é o caso da PCR.
Outra vantagem é o custo para a realização de cada teste, de apenas R$ 1 (um real). É quarenta vezes mais barato que a PCR, que tem custo individual de R$ 40.
O estudo, intitulado Development and Validation of Reverse Transcription Loop-Mediated Isothermal Amplification (RT-LAMP) for Rapid Detection of ZIKV in Mosquito Samples from Brazil, foi publicado nesta quinta-feira (14) na revista Nature – Scientific Reports. O projeto conta ainda com a participação dos pesquisadores Constância Ayres e Fábio Melo (também da Fiocruz Pernambuco) e de outros profissionais dos departamentos de Virologia, Entomologia e Parasitologia da Fiocruz Pernambuco.
O pesquisador Lindomar Pena explica que a técnica se mostrou 10 mil vezes mais sensível que o PCR e, em alguns casos, foi capaz de detectar carga viral nos casos em que a PCR deu negativa. “Trata-se de um exame específico para zika, que não apresentou reação cruzada para outras arboviroses”, relata.
Foram utilizadas na pesquisa 60 amostras de mosquitos Aedes aegypti e Culex quinquefasciatus, infectados naturalmente ou em laboratório com os vírus zika, dengue, febre amarela e chicungunha. A próxima etapa será a conclusão dos testes com amostras humanas.
Na época em que o projeto foi lançado não havia nenhum trabalho semelhante. Porém, ao longo do seu desenvolvimento, surgiram em torno de 15 projetos nesse campo. O diferencial desse trabalho desenvolvido na Fiocruz Pernambuco é o pequeno número de etapas necessárias para a reação, o baixo custo e simplicidade do teste.
Na sua forma simplificada, o teste consiste em macerar a amostra de mosquito e colocar no tubo com o reagente. Após aguardar por cerca de 20 a 40 minutos, é só observar a cor da mistura. Se ficar laranja, é negativo; se o líquido se tornar amarelo, indica presença do vírus zika. “A ideia é que se possa coletar, macerar o mosquito em campo – em plena Amazônia, por exemplo – e obter o resultado lá mesmo”, declara o pesquisador. Com humanos, se poderá coletar saliva ou urina do paciente com suspeita de zika, realizar o teste e obter a resposta na mesma hora.