O Estado de Santa Catarina concentra 88,4% de todos os casos de febre maculosa da região Sul do Brasil. De 2003 a 2018 calcula-se um total 468 registros, enquanto no mesmo período o Paraná contabiliza 46 e o Rio Grande do Sul apenas 15.
Em comparação com o cenário nacional, SC representa 22,1% de todas as ocorrências neste período, ficando atrás apenas de São Paulo, que contabiliza 1.013 registros nesse intervalo de tempo. Em 16 anos foram registrados mais de 2.110 casos da doença no país.
O Sudeste reúne o maior número de pessoas infectadas com a doença, com 1.581 casos, segundo dados do Sistema de Informação de Notificação Agravos do Ministério da Saúde (Sinan/MS). O Norte brasileiro possui ocorrências apenas em Rondônia, que apresentou seis casos entre 2015 e 2018.
Já o Nordeste foram 12 ocorrências entre 2010 e 2018. Estes dados são parte da edição especial do Boletim Epidemiológico Secretaria de Vigilância em Saúde, lançado na quarta-feira (25), em Brasília.
A Febre maculosa brasileira é uma doença transmitida pelo carrapato-estrela infectado pela bactéria Rickettsia rickettsii. Ele pode ser encontrado em animais como cães, aves domésticas, roedores e, especialmente, na capivara, que é considerada o principal vetor da zoonose.
Por este motivo, o Ministério da Saúde caracteriza que a doença atinge especialmente homens em idade economicamente ativa, com exposição aos carrapatos pelo contato com animais domésticos e silvestres.
De acordo com a Diretoria de Vigilância Epidemiológica (Dive/SC), os casos de Santa Catarina são uma exceção em relação ao restante do país, pois apresentam o que é considerado quadro clínico moderado, ou seja, não são tão graves e nem fatais.
O médico infectologista da Dive/SC, Luiz Escada, explica que o motivo para isso está no fato de existirem diferentes micro-organismos que causam a doença. Eles vivem dentro do carrapato e são chamados de Rickettsia. A variedade presente no Estado se mostra menos agressiva que a de São Paulo.
— No Estado notamos uma concentração de casos na região do Vale do Itajaí. Em relação ao número de ocorrências é possível conjecturar várias coisas, como por exemplo, o fato de geograficamente termos cidades de médio porte, o que facilita a transição cidade/campo. O que também é importante levar em consideração é que aqui se foi mais “atrás da doença”, o que impacta no crescimento do número de notificações em relação a outros estados — explica Escada.
Em SC, apesar do alto número de pessoas infectadas pela doença, não há registros de mortes por febre maculosa, de acordo com Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) com dados de 1997 a 2017. O Ministério da Saúde estima que entre 2003 e 2018, em média de 40% dos casos resultaram em morte. O percentual, no entanto, pode chegar a 80% em situações mais graves.
Segundo o ministério, nota-se que em outubro há um crescimento nas ocorrências, pois é o período no qual se observa maior densidade de larvas de carrapatos (conhecidos comumente por “micuins” ou “vermelhinhos”) .
O órgão ressalta que apesar das capivaras serem os principais vetores da zoonose, não há evidência de que a remoção, translocação ou controle populacional (eutanásia) diminua o risco de contaminação.
Além disso, para realizar qualquer um destes procedimentos é necessário obter autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Febre Maculosa
A febre maculosa é uma doença originada por diversas bactérias, sendo a espécie Rickettsia rickettsii a mais importante do Brasil. Descrita pela primeira vez em 1899, nos Estados Unidos, a zoonose chegou ao Brasil em 1929.
A transmissão ocorre pela picada de um carrapato infectado. Porém, para adquirir a doença, é preciso que ele fique aderido ao corpo por algumas horas (por um período de 4 a 6 horas). Além desta forma de contágio, as lesões na pele pelo esmagamento do carrapato também podem gerar contaminação.
Os sintomas mais comuns são:
– Febre acima de 39ºC e calafrios, de início súbito;
– Dor de cabeça intensa;
– Náuseas e vômitos;
– Diarreia e dor abdominal;
– Dor muscular constante;
– Inchaço e vermelhidão nas palmas das mãos e sola dos pés;
– Gangrena nos dedos e orelhas;
– Paralisia dos membros que se inicia nas pernas e vai subindo até os pulmões (causando paragem respiratória).
Além disso, com a evolução da doença é comum o aparecimento de manchas vermelhas nos pulsos e tornozelos, que não coçam, mas que podem aumentar em direção às palmas das mãos, braços ou solas dos pés.