O Coronavírus e a economia real

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- Pragas e Eventos

Por Tiago Monteiro

Os impactos econômicos e financeiros do coronavírus ainda são desconhecidos. O certo é que não vamos crescer como o esperado, mais uma vez. Tecnicamente falando, desde que o país saiu da recessão econômica no primeiro trimestre da 2017, o PIB anual vem apresentando uma frágil e tímida variação positiva entre um ano e outro. No limiar que separa previsões e realizações e entre uma greve dos caminhoneiros, eleições e falência múltiplas do Estado, as estimativas dos PIBs dos anos anteriores sempre ficaram bem acima dos PIBs finais (realizados). Ou seja, sempre fomos bem mais otimistas do realmente poderíamos ser: 

•  2017 – Estimativa (2,5%) – PIB final: 1,3%;
•  2018 – Estimativa (3,0%) – PIB final: 1,3%;
•  2019 – Estimativa (2,5%) – PIB final: 1,1%;

Em 2020 não será diferente. Na verdade, se compararmos estimativa e realização, será bem diferente. Começamos o ano projetando um crescimento de 2,2% e, mesmo antes do infame vírus, o mercado já vinha revisando negativamente o PIB brasileiro semana após semana, derrubando-o dos sonhados 2,2%, para algo em torno dos 1,6% (Boletim Focus).

Agora, já com o Coronavírus em ação, as estimativas já projetam um crescimento bem mais tímido do estávamos esperando, podendo variar de um crescimento nulo (0%), passando por uma leve variação de 0,5%, ou sendo bem otimista, colocando o PIB brasileiro dentro dos 0,9% – a depender da fonte consultada.

É válido lembrar que essas novas estimativas tomam por base o início da proliferação em terras tupiniquins, ainda com várias incertezas em termos de saúde pública e financeira, o que pode significar novas e constantes revisões nas próximas semanas. A única certeza é que o efeito colateral na economia real será sem precedentes. Estamos falando de diversos segmentos impossibilitados de abrir as portas, receber clientes e gerar faturamento – não por uma decisão gerencial ou por um posicionamento estratégico de curto prazo, mas, simplesmente, porque não é saudável tocar negócios no Brasil, literalmente.

A quarentena é uma atitude louvável para salvar vidas de pessoas físicas, mas certamente ceifará outras incontáveis estruturas que já estão agonizando nesse cenário de incertezas e projeções frustradas – as Pessoas Jurídicas – principalmente se tomarmos por base a quantidade de micro e pequenos negócios que tornam o organismo empresarial brasileiro vivo. Pois correspondem à mais de 90% dos negócios do país e quase 80% dos empregos formais existentes, hoje.

O Coronavírus é uma preocupação de saúde pública, mas também de saúde econômica e financeira. Os rastros deixados para trás serão de um vírus sem precedentes, tanto em termos de proliferação, como em termos de letalidade de pessoas jurídicas ao redor de todo o globo, com: cias aéreas, agência de turismo, restaurantes, hotéis, shoppings, supermercados, escolas, comércio de rua, empresas, indústrias, enfim, qualquer tipo de negócio exposto às quarentenas e, o pior, sem vacina e sem perspectiva de cura.

*Por Tiago Monteiro, consultor econômico e professor do Cedepe Business School
** Os artigos não refletem, necessariamente, a opinião do Movimento Econômico

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