Nova tecnologia usa mosquitos estéreis liberados por drones para controlar a população do Aedes aegypti
Para combater a população de mosquitos Aedes aegypti, responsáveis pela transmissão da dengue e outras doenças, cientistas estão recorrendo a tecnologias avançadas de controle de natalidade dessas pragas urbanas. Uma das mais inovadoras é a liberação de mosquitos estéreis através de drones.
Técnica do Inseto Estéril
O método foi desenvolvido pelo cientista brasileiro Ricardo Machado, que trabalha desde 2002 em parceria com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), um órgão de controle nuclear da ONU. Essa estratégia utiliza a Técnica do Inseto Estéril (TIE), que envolve a esterilização dos mosquitos machos através de irradiação.
Sem utilizar inseticidas, a TIE pode atingir uma taxa de eficiência de até 90%, dependendo da sistematização da soltura e da combinação com outras políticas públicas de controle vetorial. As fêmeas do Aedes aegypti copulam apenas uma vez na vida e, ao se acasalarem com machos estéreis, não conseguem produzir descendentes, reduzindo a população de mosquitos ao longo do tempo.
Implementação no Brasil
Em dezembro do ano passado, a Coordenação Geral de Vigilâncias das Arboviroses do Ministério da Saúde recomendou a implementação de novas tecnologias de controle vetorial, incluindo a TIE, em municípios com mais de 100 mil habitantes. O Brasil já demonstrou interesse em adotar essa tecnologia, juntando-se aos EUA e à Polinésia Francesa.
Em 2024, o país registrou 4.207 mortes confirmadas por dengue e mais de 6,1 milhões de casos prováveis. Esses números refletem a urgência de métodos eficazes de controle do Aedes aegypti.
Drones: a evolução da técnica
Inicialmente, a TIE previa a soltura dos mosquitos apenas por terra, mas Ricardo Machado desenvolveu pesquisas para realizar essa soltura através de drones. Os drones podem liberar um maior volume de insetos em uma área maior e de forma mais homogênea, aumentando a eficiência da TIE.
Na soltura por terra, os mosquitos estéreis são liberados semanalmente em carros abertos. A soltura aérea com drones, no entanto, pode reduzir em 90% a população de mosquitos e novos casos de dengue entre três e quatro semanas, comparado aos três a quatro meses necessários com a soltura terrestre.
Um drone pequeno pode liberar 17 mil insetos por voo, cobrindo uma área de 100 mil metros quadrados em dez minutos. Isso permite o lançamento de quase 300 mil insetos por dia, tornando a soltura por drones mais rápida, econômica e eficiente.
Resultados e Aplicabilidade
Vários locais no mundo, como a Polinésia Francesa e as Ilhas Cook, já testaram a tecnologia com sucesso. No Brasil, Recife avaliou o método entre 2018 e 2021, liberando em média 500 mil mosquitos estéreis por semana. A soltura por drones mostrou-se mais eficaz, reduzindo a população de Aedes aegypti em mais de 80%, comparado a 25% com a soltura por terra.
Em Recife, os mosquitos eram esterilizados no Departamento de Energia Nuclear da UFPE e marcados com pó fluorescente para distinção entre mosquitos estéreis e selvagens. A Prefeitura chegou a inaugurar o Centro de Emergência de Mosquitos Estéreis (Cemer), com capacidade de produção de 250 mil mosquitos por semana.
Conclusão
A tecnologia de liberação de mosquitos estéreis por drones é uma ferramenta promissora no combate ao Aedes aegypti. Com a adoção dessa técnica, cidades em risco, como as afetadas pelas chuvas no Rio Grande do Sul, podem reduzir significativamente a incidência de dengue e outras doenças transmitidas por esse mosquito.