O uso de armadilhas adesivas, armadilhas colantes ou “armadilhas cola” como acessórios de controle para roedores tem sido bastante polemizado, com base nas interpretações pontuadas a seguir:
– causam sofrimento ao animal capturado quando se debatem, na tentativa de soltar-se;
– expõe o animal capturado, com indícios de inadequação ética e estética do procedimento.
Vale à pena discutir o tema, lembrando que a intoxicação de roedores pelo método convencional de ingestão de raticidas anticoagulantes é caracterizada por um período de ação até a provável mortalidade que leva 6/7 dias. Ao longo deste período, o roedor passa a ter de pequenas a graves hemorragias, externas e internas até a descoordenação motora e consequente dificuldade de deslocamento. Outros sintomas sobrevêm como: inapetência, sonolência e falta de força muscular, resultando na sua necessidade de recolher-se ao ninho ou toca, por incapacidade de sobrevivência e interação com o meio biótico e abiótico. Na realização de bioensaios de laboratório, onde os sinais de intoxicação são detalhadamente observados para avaliação da reação do animal frente ao raticida utilizado, o sofrimento do animal é igualmente percebido, o que é de se esperar, dado que o processo tem como objetivo final a mortalidade do mesmo.
A intenção, para ficar bem claro, não é comparar qual o maior ou menor sofrimento, nem responsabilizar este ou outro método por tal sofrimento, mas sim, deixar óbvio que a intenção é de controle e, há necessidade de utilização de diferentes estratégias agregadas para um resultado final satisfatório.
Parece que a discussão quanto ao emprego da armadilha cola se apresenta pelo fato de roedores serem animais mamíferos, mais evoluídos e terem um sistema nervoso mais apurado, pois a captura de baratas ou outros insetos em armadilhas adesivas são técnicas de uso rotineiro e não causam este tipo de impacto emocional, social ou humanitário. No campo acadêmico, no entanto, também se discute qual poderia ser o sofrimento destes animais, como baratas e moscas, para os quais armadilhas adesivas são amplamente utilizadas, ainda que tenham um sistema nervoso mais rudimentar. Contudo, sabe-se que baratas grávidas induzem um “aborto” , ou seja, liberam as ninfas em formação prematuramente quando submetidas a um desconforto físico, como submissão à praguicidas em bionsaios ou quando aderidas em armadilhas cola. Isto tudo para “salvar” a prole.
Baratas e roedores são igualmente pragas no meio urbano, carreiam bactérias podendo causar doenças no Homem e nos animais domésticos o que é totalmente indesejável. Este é o foco de nosso objetivo. Controlar significa matar em troca do bem ambiental e humano.
Procurando uma posição neutra e isenta, a intenção é de mostrar a necessidade real do uso desses acessórios no controle de roedores e minimizar as desvantagens que possam estar vinculadas ao seu emprego.
Considerações sobre o uso de “armadilhas cola”:
Considerando que a “armadilha cola” tem como função a captura aleatória e proposital de roedores sinantrópicos, ou seja, daquelas espécies que vivem nas proximidades do ambiente do Homem, as espécies-alvo são o camundongo doméstico (Mus musculus), a ratazana (Rattus norvegicus) e o rato de forro ou de telhado (Rattus rattus).
O posicionamento das armadilhas deve ser adequado e obedecer aos hábitos de comportamento das espécies infestantes, para otimizar a captura e, portanto, a instalação deve ser realizada por profissionais especializados no controle de pragas que conheçam o comportamento destes animais.
Armadilhas mal instaladas não apresentam resultados satisfatórios. Não há indicação para o uso de isca atrativa na “armadilha cola”, pois o roedor supostamente “passeia” por ela quando sai da toca ou dos abrigos em busca de alimento, ou seja, quando em forrageamento. Daí, a importância da correta instalação, sempre nos locais de passagem característicos dos roedores.
Existem armadilhas comercializadas para este fim ou pode-se utilizar papéis cartonados (papelão) pincelados com cola específica comercializada para o objetivo. A qualidade, quantidade e eficácia da cola é de extrema importância, pois vão garantir a captura propriamente dita e o poder de permanência do animal, evitando sua tentativa de, fuga, o que poderia gerar pânico e maior sofrimento.
As armadilhas têm grande indicação para áreas de muita competição alimentar, onde age como complemento de captura e monitoramento da infestação reduzindo o uso de rodenticidas.
Cada empresa prestadora de serviço define seus objetivos e pode optar, por exemplo, por usar as placas colas em áreas de passagem de roedores, em ambiente interno ou áreas de produção, evitando o uso de raticida químico nestas áreas.
O prazo de avaliação da ocorrência ou não de captura podem variar até no máximo 30 dias, dependendo da área, pois estas ferramentas têm o papel de “sentinelas”. Mas, quando capturado um animal, este deve ser coletado pelo técnico o mais imediato possível.
Importante alertar para o fato de excesso de umidade ou de poeira nos locais de instalação, o que gera perda de aderência da placa cola, podendo não ser a estratégia adequada para estes locais. Neste caso, podemos lançar mão da gaiola de captura.
Uso inteligente de “armadilhas cola” para roedores:
A fim de tornar a captura não somente eficiente, mas também sustentável do ponto de vista de redução ou exclusão do sofrimento dos roedores capturados, recomenda-se:
– dependendo da área alvo e seu grau de utilização pelo ser humano, a “armadilha cola” deve ser instalada no final da tarde ou ao anoitecer e, obrigatoriamente, recolhida o mais cedo possível na manhã seguinte a sua instalação, se houver captura de animal. Isto porque os animais capturados tentarão libertar-se e, neste processo, irão ferir-se e emitir sons (muitas vezes, guinchos), assustando as pessoas próximas e causando pânico ou lamentações pelo estado dos roedores. Um atendimento de emergência 24 horas por parte da empresa prestadora de serviços é indicado, por precaução e segurança adicional.
ISTO É DE EXTREMA IMPORTÂNCIA.
– o posicionamento das armadilhas deve ser o mais discreto possível. Sempre que couber, recomenda-se instalar em locais apropriados, de modo a não ficarem muito expostas. Se as armadilhas são confeccionadas em papel cartonado, é sugerido que sejam longitudinais, para que possam ser posicionadas da mesma forma sugerida, longitudinalmente ao anteparo, quer dizer, menos expostas. É muito comum serem encontradas armadilhas confeccionadas em grandes quadrados postos de forma aleatória no meio de compartimentos de supermercados, por exemplo. Além de não ser tecnicamente correto, torna-se ética e esteticamente mal aceito, até por alguns clientes. A qualidade do serviço gera melhor aceitação da estratégia.
ISTO TAMBÉM É DE EXTREMA IMPORTÂNCIA.
– quando o uso recair em armadilhas comerciais, recomenda-se a escolha por aquelas que apresentam um “túnel” que recobre a superfície adesiva. Este modelo desmistifica,
em parte, o desagrado pela visão da exposição do roedor “colado”.
MIP e armadilhas cola:
O Manejo Integrado de Pragas engloba o uso de armadilhas. Contudo, o MIP é uma FILOSOFIA de controle e não uma TÉCNICA de controle. Requer avaliação e acompanhamento. Fechar uma fresta faz parte do MIP, mas não caracteriza o MIP como muitos acreditam. No caso das armadilhas cola, da mesma forma, há que avaliar e, mais que tudo, usas-la como estratégia complementar, no âmbito de estratégias químicas e não químicas abrangentes.
Considerações finais:
O uso de armadilhas adesivas não deve ser encarado como uma rotina para quaisquer locais, mas sim para situações onde se apresente alguma dificuldade no controle de roedores, dada a elevada competição alimentar do local. Áreas mais “nobres” ou locais que têm programa de qualidade podem não desejar este tipo de serviço.
A empresa prestadora deve adequar-se e balizar qual a metodologia mais recomendada para cada local/cliente.
Quando utilizada, deve haver feedback do cliente, para evitar insatisfações imprevistas.
Lucy Figueiredo
Bióloga, com especialidade em Saúde Pública
Sócia proprietária e diretora técnica da Ambiental Consultoria Técnica Ltda
Email: [email protected]