Os borrachudo ou simulídeos pertencem à Classe Insecta e apresentam o corpo dividido em cabeça, tórax e abdômen, 3 pares de patas e 1 par de antenas. Órdem Diptera – 1 par de asas anteriores e halteres. Sub-órdem Nematócera antena com seis segmentos ou mais articulados.
São encontram em praticamente todas as regiões geográficas do mundo ao Norte do Círculo Polar Ártico, Groenlândia, ao Sul da Terra do Fogo, às margens do deserto do Saara em rios que cortam os Oásis e nas ilhas Santa Helena, Seychelles e La Reunion.
Existem em quase todos os estados brasileiros como no Mato Grosso, Minas Gerais, Bahia, ES, RJ, SP, PR, SC e RS. Nas Américas são conhecidas cerca de 550 espécies dentre as quais 92 ocorrem no Brasil. O Estado de São Paulo apresenta o maior número de registros, com 52 espécies.
Causam dois grupos de problemas com maior ou menor gravidade, a saúde animal e humana além de problemas econômicos.
Diferentemente dos mosquitos que tem um aparelho bucal sugador os borrachudos apresentam um aparelho bucal mastigador modificado onde suas mandíbulas estão adaptadas a cortar, à semelhança de uma tesoura. Ela corta a pele onde o sangue se acumula e é sugado.
Através de proteínas e peptídeos que tem na saliva este sangue não coagula e a pessoa não sente a picada pela presença de um anestésico. Logo que ela abandona o hospedeiro fica uma gota de sangue no local.
Problemas Sanitários e Econômicos
Causam sérios problemas aos animais em diferentes partes do mundo como choque anafilático no gado e reações alérgicas pela picada, queda na produtividade como diminuição na produção de leite e ganho de peso, morte do gado e aves como frangos patos e perús e outros mais .
Procuram regiões menos coriáceas para facilitar a picada e ingestão de sangue, com isto o úbere é uma área bem afetada podendo ocasionar mastite pelo edema formado pela picada. É comum se observar bovinos entrando na água para proteger o úbere do ataque.
O stress causado pelo incômodo pode ter como consequência falhas vacinais.
Várias doenças são causadas aos seres humanos pelos borrachudos, uma delas é a verminose oncocercose com nódulos onde cada um deles tem um casal de filárias que produzirão mais de um milhão de microfilárias por ano durante 10 a 15 anos, período em que os vermes adultos vivem caso o paciente não seja tratado.
Muitas microfilárias morrem devido à ação do sistema imunitário liberando substäncias que causam coceira e dermatite. As que sobrevivem podem viver por um período de até dois anos período em que o borrachudo picando se infecta ao sugar o sangue do doente podendo transmitir a doença a outras pessoas.
Anteriormente esta doença era restrita à região dos ianomâmis hoje se distribui por várias regiões do Amazonas e fora do Amazonas.
A doença tem ocorrido em Roraima; Goiás e Acre e tem sido encontrado vetores desta filaria em Rondônia, Pará e Mato Grosso.
As microfilárias podem migrar para os olhos causando conjuntivite, edema na pálpebra, inflamação da retina e córnea e pode causar cegueira diminuindo a expectativa de vida em 1/3.
Em grávidas, o parasita pode danificar a glândula pituitária (ou hipófise) de fetos resultando no nascimento de indivíduos anões por deficiência da produção do hormônio de crescimento segundo a Organização Mundial da Saúde.
O borrachudo tem entre a boca e a faringe um órgão chamado cibário, se determinada espécie tiver cerdas no cibário estas matam as filárias e ele não transmite a doença, se for lisa pode transmitir.
A pesquisadora Erika Silva do Nascimento em sua tese de mestrado para a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro em 2005 o considerou que o Simulim pertinax alem da antropofilia apresenta um cibario liso, sem cerdas sugerindo capacidade para vetorar o verme Onchocerca volvulus.
Isto é preocupante uma vez que esta espécie é uma das mais disseminadas e antropofílicas em vários estados do Brasil.
A doença ainda causa intenso prurido, pele seca, despigmentação da pele, interrupção da circulação da linfa causando edema.
O homem ao se coçar pela alergia pode introduzir bactérias causando infecções secundárias além de febre, inchaço, dor de cabeça e dores nas articulações.
Outra doença é o prurigo estrófulo que são pequenas bolhas avermelhadas sempre acompanhada de coceira intensa por vários dias podendo surgir novas lesões sem a picada. Quando se coça as vesículas se rompem deixando feridas recobertas por crostas amareladas ou de sangue coagulado. Pode ocorrer infecção bacteriana secundária com pus nas lesões.
Outra doença causada pelo borrachudo é a Síndrome Hemorrágica de Altamira que ficou assim conhecida quando na década de 70 emigrantes do Sul do país se instalaram em agrovilas em Altamira, no Pará. É causada por múltiplas picadas de borrachudos causando o aparecimento de bolhas e vesículas na pele, distúrbios de coagulação sistêmica, aparecimento de pequenos pontos hemorrágicos sob a pele ou sob as mucosas como na boca cobrindo toda a superfície do corpo ou restrita à face ou extremidades podendo ainda causar sangramentos nas gengivas e na mucosa nasal podendo levar ao óbito.
Outra doença causada por borrachudos é a Mansonelose, doença provocada pelo verme Mansonella ozzardi. Estas filárias invadem o sistema linfático e cavidade abdominal, atacando o sistema nervoso central (SNC) e os tecidos de proteção em torno do coração.
A doença provoca sintomas como dores nas articulações do corpo e cabeça, coceira, febre e frio nas pernas, erupções pruríticas da pele, frieza nas pernas e inflamação de gânglios linfáticos da região inguinal.
A presença de borrachudos tem trazido problemas econômicos e turísticos como passeios ecológicos, áreas de lazer como acampamentos, pescarias além de chácaras de produtos hortifrutigranjeiros, pousadas rurais, cafés e restaurantes coloniais, festas de comunidades e igrejas na área rural e outros.
O ataque aos adultos e crianças ocorre tanto na área rural como urbana. Em algumas cidades tem se observado extensas áreas de terras férteis e agriculturáveis abandonadas pelo ataque de borrachudos.
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Ciclo Biológico
Os borrachudos tem um ciclo biológico completo, são holometábolos, ou seja, passam pelas fases de ovo, larva, pupa e adulto. O tempo deste ciclo depende da espécie e de condições climáticas. As fases de ovo, larva e pupa ocorrem dentro da água e a fase adulta é aérea.
Macho e fêmea se alimentam de seiva vegetal ficando este alimento armazenado no papo e sendo digerido como fonte alimentar. Após ter sido fecundada, e ela só é fecundada uma vez, o macho deposita no oviduto o espermatóforo onde estão os espermatozoides, ela precisa encontrar um animal de sangue quente para realizar hematofagia e poder ovular.
Após a hematofagia ela fica digerindo este sangue por uma semana onde usa as proteínas do sangue para maturar os ovócitos. Os óvulos encontram o espermatóforo no oviduto onde ocorre a fecundação propriamente dita.
Depois ela procura uma coleção de agua corrente onde os ovos podem ser postos sobre gravetos, pedras, folhas e outros objetos dentro, mas acima da água ou na margem, desde que recebam respingos de água.
A fêmea realiza voos sobre o local e deposita seus ovos fazendo isto várias vezes até depositar todos os ovos deste ciclo gonotrófico. Posteriormente ela volta a ingerir sangue, ovular e fecundar os óvulos. Faz novos voos depositando todos os ovos finalizando novo ciclo gonotrófico. E isto se repete mais vezes. Dependendo da espécie pode ter de 3 a 6 ciclos ovarianos ou gonotróficos.
A pesquisadora Fabiane Petry observou em Almirante Tamandaré, PR, uma média de 352 ovos por postura com um percentual de fertilidade que variou de 94,66 a 100%.
Segundo a Dra. Doralice Pedroso da Embrapa suínos e aves, Concórdia, SC os borrachudos podem voar até cinco quilômetros de distância em apenas oito horas para depositar os ovos.
A primeira larva que nasce faz movimentos mede palmos para cair dentro da água e é levada pela correnteza quando suas glândulas salivares produzem um fio de seda que se adere a um objeto onde se fixa continuando sua biologia.
Após o último instar larval se transforma na pupa dentro da qual o futuro adulto está se desenvolvendo.
É comum as fêmeas repetirem a ovipostura sempre no mesmo local devido à presença de feromônios que saem dos ovos recém depositados que ficam cobertos por uma matriz gelatinosa que os protege contra a desidratação, os mantem unidos e presos ao substrato até a eclosão.
Cada vez que a larva cresce ela muda de pele (exuvia) e, dependendo da espécie, pode fazer de 6 a 9 mudas (ecdises).
Apesar de estarem fixadas em objetos as larvas, independentemente do estágio, podem se locomover usando a propata e a ventosa como lagartas mede palmos, sobre o local onde estão fixadas em busca de uma melhor posição para adquirirem mais alimento.
Algumas vezes se soltam do substrato e a correnteza as leva quando produzem o fio de seda que se prende em um objeto aonde ela vai se fixar. Este recurso é usado na busca de alimento.
A pupa não se alimenta e respira por meio de brânquias torácicas; ela permanece no casulo formado de fios de seda tecida pela larva de último estágio desenvolvendo o novo adulto usando a energia armazenada durante a fase de larva.
Larvas e pupas ficam sob a água presas em algum tipo de substrato respirando oxigênio da água através de brânquias filamentosas específicas.
Na fase final do desenvolvimento, os adultos emergem numa bolha de ar até a superfície da água e voam para um substrato próximo até que as asas adquiram a rigidez completa. Logo após a emergência, costuma ocorrer o acasalamento.
Para facilitar a captura de partículas alimentares as larvas se posicionam contra a correnteza. Possuem um par de leques na cabeça que se movimentam rapidamente formando uma corrente de água que direciona o alimento para a abertura bucal.
Se alimentam de plâncton (fito e zooplancton), algas, bactérias, matéria orgânica e restos de organismos superiores. O alimento se prende aos leques que são passados pela boca a fim de retirar os alimentos além daqueles que são impulsionados para a boca através do movimento destes leques.
Os simulídeos estão adaptados a ambientes aquáticos de água corrente (riachos, córregos e rios) fixando-se em substratos como folhas, raízes, galhos, pedras e lixo jogado pelo homem. Estes ambientes podem ser de águas mais lentas até águas de extrema rapidez.
Também há desenvolvimento da fase aquática em vertedouros de tanques de piscicultura, açudes e barragens por onde a água escorre continuamente para manter o nível da água.
Diferentes espécies estão adaptadas a diferentes níveis de poluição. Entretanto qualquer espécie precisa de oxigênio para as larvas e pupas e detritos orgânicos como fonte alimentar para as larvas.
A entrada de poluição orgânica como esgoto doméstico e fezes animais aumenta a oferta de alimento e aumento de larvas, mas dentro de certos limites pois o excesso vai consumir muito oxigênio para mineralizar este material diminuindo a taxa de oxigênio.
Segundo a Dra. Doralice, em águas límpidas e cristalinas sua população seria baixa (menos de 50 larvas por 100 cm2) e em águas com abundante, mas não excessiva quantidade de matéria orgânica, chega-se a contar até 1500 larvas/100cm2.
Nas coleções de água em sistemas cobertos por vegetação a luz do sol não entra diminuindo a produção de plâncton, principalmente os fotossintetizadores, com isto diminui a população de larvas de borrachudos.
Outro fato importante no aumento populacional é o sangue de animais de sangue quente, quanto mais sangue estiver disponível, seja humano ou animal mais borrachudos haverão.
As larvas precisam de substrato para se prenderem e continuar o ciclo por isto é fundamental que se retire da água aquilo que não é dela, ou seja, garrafas, sacos plásticos, pneus, latinhas, tampas de garrafas e outros objetos.
O Gerenciamento de Borrachudos
O gerenciamento de borrachudos está na dependência de uma série de fatores agindo em conjunto como manutenção de mata ciliar, educação das crianças e adultos em relação ao cuidado com o ambiente, retirada de lixo da água, manutenção de predadores e o uso de um agente biológico para o controle larval como o Bti. O uso de qualquer um destes isoladamente não trará o efeito que se espera.
O uso de predadores é um processo que mantem o equilíbrio natural. No caso de borrachudos são predadores de larvas ou adultos o barrigudinho, cascudo, lambari, sanguessuga, libélulas, sapos, pererecas, lagartos, pássaros insetívoros por exemplo.
Entomobactérias (Bti) entram no conceito de controle biológico. São bactérias usadas no controle biológico de larvas de insetos através de toxinas ativas que são potentes venenos intestinais surtindo efeito apenas se forem ingeridos.
Estas bactérias não atuam sobre os inimigos naturais permitindo que eles auxiliem no controle do inseto alvo. Também são inofensivas ao homem e outros animais podendo, por isto, serem aplicados em sistemas naturais e sistema de abastecimento de água.
No início do século XX (1901 – 1902) o pesquisador Ishiwata, no japão, isolou uma bactéria na forma de bacilo causando alta mortalidade em larvas do bicho da seda.
Alguns anos mais tarde, o pesquisador alemão Berliner isolou esta mesma bactéria de larvas da traça da farinha mortas e deu a este bacilo um nome em homenagem à sua cidade, a Thuringia, passando a se denominar Bacillus thuringiensis.
Em 1976, pesquisadores da Universidade Ben Gurion (Israel) encontraram numa poça no leito de um riacho quase seco, muitas larvas do pernilongo Culex pipiens mortas. Isolaram desse material uma variedade ainda não conhecida do Bacillus thuringiensis e deram a ela o nome de Bacillus Thuringiensis var. israelensis (Bti).
Posteriormente se observou que esta bactéria ao esporular produzia um cristal constituido de proteinas CRY que tem mostrado atividade inseticida altamente específica.
Após este cristal ser ingerido secreções intestinais da larva solubilizam o cristal convertendo a protoxina em uma toxina (delta-endotoxina ou proteina CRY) causando destruição do epitélio do intestino médio matando a larva de culicídeos e simulídeos após 15 a 20 minutos.
O pH do trato digestivo do segundo instar larval é menor que do quarto , por isto larvas jovens são mais susceptíveis, além do fato que estágios finais da fase de larva diminuem sua ingesta alimentar pois está iniciando a formação da pupa.
O processo de controle baseado na eficácia do Bti depende diretamente do cálculo da vazão que pode ser feito de várias formas, uso de medidores fixos (Calhas modelo Parshall modificada); fluxômetros e o método do flutuador.
O Instituto de Pesquisas Hidrológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul criou para a Secretaria Estadual da Saúde em 1985 uma metodologia para medir a vazão baseada na implantação de uma rede de medidores de vazão, as chamadas Calhas Parschal modificadas construídas em alvenaria de forma que o riacho passe por dentro da calha. Assim, primeiro é necessário fazer o desvio do curso do riacho, construir a calha e voltar o curso do riacho para que a água passe pela calha.
A medida de vazão que iremos demonstrar está baseada nos trabalhos de Amrine (1983); Undeen, Lacey and Avery (1984) com modificações feitas por Ruas Neto e Matias, 1985 (dados não publicados) acrescentando ao método o cálculo do erro padrão.
O primeiro passo é a escolha do local onde as medidas serão realizadas. Este local deverá ter um comprimento de 10m o mais próximo possível da foz, sem curvas e sem obstáculos que impeçam a água de correr livremente.
A primeira medida é da largura média (média aritmética) do trecho. Para isto, com uma trena, medimos, de margem a margem, a largura da lâmina de água em pontos distanciados entre si, de 1 metro, até o final do trecho. Assim teremos 10 medidas de largura. Somamos todas as medidas e dividimos por 10 que foi o número total de medidas. Assim teremos a largura média (LM).
Vamos supor que tenhamos realizado as medidas de largura de um trecho de 10m com os seguintes valores: 50 – 85 – 72 – 66 – 57 – 74 – 55 – 70 – 82 – 83. Como estes valores estão em cm precisamos passar para metros uma vez que estamos calculando a vazão e sua unidade é m3/m.
Para passarmos de centimetro para metro dividimos o valor encontrado em cm por 100 e teremos este valor em metros: 0,5 – 0,85 – 0,72 – 0,66 – 0,57 – 0,74 – 0,55 – 0,7 – 0,82 – 0,83.
Calculamos a largura média, somando todos os valores e dividindo o total pelo número de medidas, neste caso sempre serão 10 medidas – LM = 0,69.
A segunda medida é a profundidade média (média aritmética). Nos mesmos transectos utilizados para as tomadas de largura, com uma trena, tomamos medidas de profundidade a cada 20 cm ao longo destes transectos, de margem a margem. Assim teremos um determinado número de medidas que vai depender da largura do trecho. Somamos todas as medidas e dividimos pelo número delas. Assim teremos a profundidade média (PM).
Os valores obtidos em centímetros foram: 9 – 12 – 8 – 12 – 13 – 8 – 10 – 6 – 4 – 4 –8 -15 -18 – 11 – 12 – 12 – 10 – 10 – 9 – 12 – 12 – 10 – 13 – 13 – 15 – 16 – 12 – 8 – 6 – 10 – 8 – 12 – 11 – 13 – 12 – 15 – 9 – 6 – 10 – 10 – 12 – 10 – 16 – 12 – 9 – 9 – 10 – 6.
Passamos para metros dividindo por 100 e temos: 0,09 – 0,12 – 0,08 – 0,12 – 0,13 – 0,08 – 0,10 – 0,06 – 0,04 – 0,04 – 0,08 – 0,15 – 0,18 – 0,11 – 0,12 – 0,12 – 0,10 – 0,10 – 0,09 – 0,12 – 0,12 – 0,10 – 0,13 – 0,13 – 0,15 – 0,16 – 0,12 – 0,08 – 0,06 – 0,10 – 0,08 – 0,12 – 0,11 – 0,13 – 0,12 – 0,15 – 0,09 – 0,06 – 0,10 – 0,10 – 0,12 – 0,10 – 0,16 – 0,12 – 0,09 – 0,09 – 0,10 – 0,06.
Calculamos a Profundidade Média somando todos estes valores e dividindo por 48 que foi o número de medidas realizadas: PM = 0,11 metros.
A terceira e última medida é a velocidade média da água (média aritmética). Para isto calculamos a velocidade da água através do tempo médio que um flutuador superficial (bolinha de ping-pong) leva para percorrer os 10m. Toma-se uma bolinha de ping-pong e injeta-se 25 ml de água fechando o orifício da injeção com uma cola.
Verifica-se o tempo que esta leva para percorrer os 10m. Uma pessoa solta a bolinha no início do trecho e outra a pega no final deste trecho. Fazer isto umas cinco vezes ou mais soltando-a em pontos diferentes.
Cada tempo deverá ser convertido para minutos, pois a vazão é dada em m³/min. Soma-se estes tempos dividindo pelo número de vezes em que o flutuador foi solto. Com isto teremos o tempo médio (TM) que o flutuador levou para percorrer os 10 metros.
Temos então as seguintes medidas em segundos: 18 -25- 36 – 30 – 28 – 35 – 32 – 22.
Como as medidas estão em segundos dividimos cada um por 60 para termos os resultados em minutos: 0,30 – 0,42 – 0,50 – 0,47 – 0,40 – 0,58 – 0,53 – 0,36.
Então o tempo médio que o flutuador levou para percorrer os 10 m é: TM = 0,44
Para calcularmos a vazão utilizaremos a seguinte fórmula:
Q = Lm x Pm x C x 0,85/Tm
Onde: LM = Largura média
PM = Profundidade média (m)
C = Comprimento do trecho (10 m)
0,85 = Fator de correção relativo ao substrato de fundo para compensar o atrito do fundo deste vertedouro. É um valor fixo.
TM = Tempo médio que o flutuador leva para percorrer os 10 metros.
A unidade de vazão deverá ser em m3/min
A vazão obtida é então: 0,69 x 0,11 x10 x 0,85 / 0,44
Q = 1,45 m3 /min
Agora precisamos calcular a dose de Bti a ser aplicado. Para isto usamos a seguinte fórmula: D = Q x Concentração
A vazão já calculamos e deu 1,45 m3/min agora precisamos calcular a concentração. Esta será encontrada na escala móvel abaixo, desenvolvida pelo Instituto de Pesquisas Hidrológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 1985 para o Programa Estadual de Controle do Borrachudo do Serviço de Controle de Vetores e Zoonoses da Secretaria Estadual da Saúde e Meio Ambiente do Rio Grande do Sul.
Procura-se na coluna da vazão, o valor calculado, verificamos que o valor encontrado está entre 1,26 e 2,50.
Na linha deste valor verifica-se, na coluna da concentração, o valor correspondente, que neste caso é 40 ppm.
Agora calculamos a dose multiplicando a vazão pela concentração, então teremos o seguinte: 1,45 x 40 = 58. Esta é a dose de Bti a ser aplicada por ponto de aplicação.
Finalmente calculamos de quantos em quantos metros iremos aplicar estes 58 ml de Bti.
Para isto mais uma vez olhamos na linha de vazão calculada, ou seja na linha de 1,26 e 2,50 e na coluna correspondente de carreamento encontramos o valor de 125. Isto significa que aplicaremos 58 ml a cada 125m.
Nós teremos que aplicar esta dose, de margem a margem, em 1 minuto. Para isto colocamos 1 litro de água em um regador com o chuveirinho e vemos se conseguimos aplicar em 1 minuto. Se não conseguirmos aumentamos ou diminuímos a quantidade de água. Então misturamos a dose de Bti calculada com este volume de água e aplicamos a cada 125 m que foi o carreamento calculado para nossa vazão.
A razão de aplicarmos em 1 minuto é para mantermos a concentração da tabela (40 ppm) no trecho definido por ela. Vamos lembrar que estes cristais são sólidos e que tendem a sedimentar. Esta é a razão de mantermos o carreamento determinado em tabela caso contrário ficaremos com regiões sem os cristais suspensos a nível de ingestão larval.
Durante a aplicação cuidar para não movimentar o fundo do riacho pois estes sólidos em suspensão dificultam a alimentação das larvas e os cristais se aderem a estas partículas indo ao fundo rapidamente deixando de ser ingerido.
Repetir o tratamento a cada 20 dias até que o problema seja controlado.
Quando chover nos dias marcados para se realizar a aplicação, esta deverá ser suspensa, devendo realiza-la somente quando as condições climáticas voltarem ao normal;
Caso chova no dia seguinte à aplicação, repeti-la quando o tempo melhorar.
Cuidar os locais onde a água fica parada, nestes locais aplicar uma parte do Bti proporcional à área antes e depois do remanso.
O BTI não causa impacto ambiental é um produto seguro mas seus resultados somente serão obtidos se aplicado junto com a retirada de lixo das coleções de água, com educação ambiental, evitando a pesca predatória e a derrubada de mata ciliar.
Escrito por
Ricardo Soares Matias
Médico Veterinário MSc – CRMVRS – 1968
Consultor em Gerenciamento de Sinantrópicos
Credenciado pela Aliança Internacional de HACCP (APPCC)
Instrutor SENAR RS e SESCOOP RS, SC e PR
Especialista em Atenção Primária de Saúde/Saúde Comunitária
Ótimo material, técnico, mas de fácil entendimento. Parabéns.