Patogenicidade de isolado de Aspergillus westerdijkiae a ootecas de Periplaneta americana

7 min. leitura
materia - Pragas e Eventos

Mariah Valente Baggio-Deibler1*, Marcelo da Costa Ferreira1, Antonio Carlos Monteiro2, Walter Maldonado Junior2, Manoel Victor Franco Lemos3

1Núcleo de Estudo e Desenvolvimento em Tecnologia de Aplicação (NEDTA), Departamento de Fitossanidade, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias (FCAV), Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), 14884-900, Jaboticabal, SP, Brasil.

2Departamento de Produção Vegetal, FCAV, UNESP, Jaboticabal, SP, Brasil.

3Departamento de Biologia Aplicada à Agropecuária, FCAV, UNESP, Jaboticabal, SP, Brasil.

Os programas de tratamento contra pragas urbanas são de interesse crescente no mundo, visando diversos alvos como mosquitos, cupins e baratas. O controle destes insetos é comumente realizado com a aplicação de inseticidas químicos sintéticos. Métodos menos agressivos ao meio ambiente com baixa pressão seletiva sobre populações de tolerância ou resistência têm mostrado resultados promissores, como os fungos Metarhizium anisopliae e Beauveria bassiana, conhecidos como entomopatogênicos (que causam doenças em insetos) e utilizados para o controle de baratas.

Há relatos de que o Aspergillus flavus é patogênico da baratinha alemã (Blattella germanica). Considerando estas possibilidades, a equipe de pesquisa do Núcleo de Estudos e Desenvolvimento da Tecnologia de Aplicação – NEDTA, Depto. Fitossanidade UNESP, Jaboticabal/SP, liderada pelo Prof. Dr. Marcelo da Costa Ferreira elaborou um projeto de pesquisa conduzido como trabalho de Doutorado da Bióloga Mariah Valente Baggio-Deibler (Projeto FAPESP 12/14503-1: Controle de populações de Periplaneta americana (Linnaeus, 1758) (Blattodea: Blattidae) utilizando nebulização a frio de inseticidas químico ou biológico).

A espécie Periplaneta americana (barata voadora, barata americana ou barata de esgoto) é uma das de maior importância no Brasil, sendo comumente encontrada em grandes populações nas redes de galerias de esgoto e é capaz de transportar patógenos para habitações oferecendo riscos à saúde humana, além de depreciar alimentos, vestimentas e documentos.

Em uma das etapas do trabalho foi utilizado o fungo Aspergillus westerdijkiae, isolado do cadáver de P. americana. Este fungo produz toxinas, com potencial de controle para a barata americana.

A maioria dos estudos é realizada em períodos pós-embrionários de insetos, mas eles deveriam ser essencialmente sobre estágios de propagação do organismo, tais como com os ovos. Pouco é conhecido sobre a infecção de ootecas por fungos, especialmente aqueles do gênero Aspergillus, mas a possibilidade de encontrar novos isolados patogênicos para oothecas de P. americana pode trazer novas perspectivas de controle, uma vez que não há inseticidas químicos eficazes até o momento quando aplicados topicamente sobre esta fase do inseto.

O objetivo deste estudo foi investigar a patogenicidade do JAB 42 isolado de A. westerdijkiae a ootecas de P. americana e demonstrando o seu mecanismo de ação sobre o alvo, para uso em programas de controle biológico.

Para a pesquisa foi usado o isolado 42 JAB de A. westerdijkiae, identificado pelo Dr. Stephen W. Peterson (Agricultural Research Service – US Department of Agriculture), obtido de um adulto de P. americana e mantido na coleção de microbiologia agrícola da FCAV/UNESP. As ootecas de P. americana foram obtidas à partir da criação massal de laboratório coordenado junto ao NEDTA / UNESP, Campus de Jaboticabal.

Como principais resultados foi observada a mortalidade de 58% de ootecas utilizando uma concentração de 3 x 108 conídios/mL do isolado JAB 68, com presença de conídios na superfície da ooteca 1h após imersão em suspensão fúngica (Figura 1A). Depois disso foi observada a formação de tubo germinativo (Figura 1B) e apressórios se preparando para penetrar o tegumento da ooteca (Figura 1C). Após 14h da imersão da ooteca, a penetração do processo fungo foi iniciada no hospedeiro.

Figura 1. Eletromicrografia de varredura de elétron de ootecas de P. americana em diferentes momentos após imersão em suspensão de conídios do isolado JAB 42 de A. westerdijkiae. A – Conídios presentes na ooteca (seta) 1h após a infecção; B – Formação de tubo germinativo 14h após a infecção; C – Formação de apressórios (seta) 14h pós infecção; D e E – Hifas formadas sobre o tegumento ooteca parcialmente digerido com aparente de penetração (seta) três dias após a infecção; F e G – Extrusão do patógeno e formação do corpo frutífero na superfície externa da ooteca seis dias após a infecção; H e I – Conidióforo na ooteca seis dias após a infecção.

A formação de hifas e penetração da ooteca ocorreu no terceiro dia (Figuras 1D e 1E) através de orifícios presentes no tegumento da ooteca. Essas perfurações podem resultar da ação de enzimas secretadas pelo fungo, especialmente proteases, uma vez que a ooteca é composta em mais de 85% de proteínas. O fungo extrusou no sexto dia (Figuras 1F e 1G) com a presença de conidióforos (Figuras 1H e 1I). A extrusão de A. westerdjikiae ocorreu através dos dentes na parte superior da ooteca e as aberturas superiores existentes para a troca de ar.

Como conclusão do trabalho têm-se que o isolado JAB 42 de A. westerdijkiae é patogênico a ootecas de P. americana, sendo observada a adesão, germinação, penetração e extrusão do fungo sobre ootecas da barata.

Os autores externam seus agradecimentos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pela bolsa de Doutoramento de Mariah Valente Baggio-Deibler e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo financiamento à pesquisa (Processo n. 2012/14503-1).

O artigo original complete pode ser consultado em:

BAGGIO, Mariah Valente et al. Pathogenicity of Aspergillus westerdijkiae to females and oothecae of Periplaneta americana. Cienc. Rural [online]. 2016, vol.46, n.1, p.20-25. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-84782016000100020&lng=en&nrm=iso&tlng=en

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