Pragas sinantrópicas podem ter alguma relação epidemiológica com o novo coronavírus? Entre elas as baratas, que são mais comuns em nossos ambientes.
Vamos por partes
Sabemos que as pragas sinantrópicas são bastante diversificadas e existem diferentes grupos, com diferentes comportamentos em áreas urbanas.
Pragas peçonhentas
Grupo de relevância crescente, com ocorrências cada vez mais frequentes e representado, principalmente, por escorpiões e aranhas. Têm importância médica em destaque, pelo fato de inocularem peçonha em suas vítimas, causando reações que podem levar à morte.
Pragas econômicas
Grupo onde se destacam cupins e brocas, insetos que causam danos materiais em patrimônios públicos e privados, destruindo acervos, pela necessidade de busca de material celulósico para sua sobrevivência.
Pragas sanitárias
Grupo cujo nome pressupõe agravos na área de saúde, tendo como característica principal a contaminação de ambientes, alimentos, etc, em diferentes setores, como hospitais, restaurantes e indústrias de alimento, sendo “ponte” de contaminação e intoxicação, gerando danos sanitários, incômodos sociais e econômicos.
Os dois primeiros grupos não têm relação direta com a propagação de enfermidades permeadas pelo ambiente, enquanto as pragas sanitárias possibilitam esta ligação.
Vamos, então, comentar sobre as pragas sanitárias de maior relevância.
Mosquitos
Insetos voadores que transmitem doenças pelo ato de hematofagia, além de alergias e incômodos sociais;
Moscas
Como os mosquitos, são insetos voadores, sendo algumas espécies hematófagas, frente a uma grande maioria de hábito lambedor. Frequentam ambientes caracterizados por padrões precários de higiene, intermediando patógenos de áreas contaminadas para áreas limpas e, até mesmo, áreas assépticas.
Baratas
Pragas “rasteiras” como as formigas e que, à semelhança das moscas, fazem a “ponte” entre áreas sujas e áreas limpas. Apresentam um agravante como potencializadores de contaminação, por andarem sobre todo tipo de superfície, alimento, equipamentos hospitalares, etc. Isto se dá pelo hábito de serem “rasteiras” e se locomoverem em contato direto com o substrato.
Vamos dar foco às baratas como tema de nossa publicação.
Comportamento de Baratas Sinantrópicas:
O que define o potencial transmissor de doenças de uma praga é sua biologia e, principalmente, seu comportamento.
As espécies prevalentes de baratas que ocorrem no meio frequentado pelo Homem são a Periplaneta americana ( barata de esgoto ) e a Blattella germanica ( barata de cozinha ), embora existam outras espécies de importância médica.
O potencial absoluto de contaminação da barata de esgoto é claramente mais elevado do que o da barata de cozinha, pela questão da primeira habitar áreas de maior risco sanitário, como esgotos, subsolos com sujidades e outros locais críticos. Por outro lado, a barata de cozinha está associada a áreas de menor potencial de contaminação, mas sua reprodução é tão elevada, gerando uma alta densidade populacional nas áreas infestadas, possibilitando uma contaminação mais abrangente. Associado a este fato, a circulação da barata de cozinha é muito mais ampla e, relativamente, muito contaminante.
As baratas apresentam movimentos voluntários e percorrem distâncias consideráveis por transporte ativo, bem como movimentos involuntários pelo transporte passivo, sendo intercambiadas para diferentes locais, seja por transferência de mercadorias de um ponto a outro e até mesmo por navios e outros meios de transporte.
Suas pernas são apropriadas para corridas indoor ou outdoor, escalam grandes alturas, fazendo essa permuta de sujidades e, consequentemente, de micro-organismos patogênicos de forma exacerbada.
Sua velocidade e direção imprevisíveis, associadas a seus hábitos noturnos, favorecem a passagem nas superfícies, onde depositam secreções, excreções, bactérias, fungos, parasitas e vírus que se encontram aderidos em seu corpo.
Quão frequentemente as baratas são associadas a eventos de veiculação de doenças?
A resposta não tem uma precisão, embora existam diferentes pesquisas relacionadas à presença e diversidade de patógenos encontrados no corpo destes insetos. Pela lógica, é viável. Em resumo, os micro-organismos estão no corpo das baratas que percorrem grandes distâncias em superfícies; os micro-organismos se desprendem, contaminam as superfícies de passagem, tornando-se pontos de contaminação humana.
Há relatos e suposições sobre o potencial de contaminação resultante deste conjunto apontado por etapas, ou seja, a presença do binômio – micro-organismos na superfície corpórea X passagem por superfícies distintas – contudo a correlação de surtos epidêmicos ou ocorrências pontuais de doenças decorrentes são apenas sugestivas.
Sabe-se que algumas linhagens de vírus de poliomielite já foram isolados em baratas em locais com ocorrência da doença. Experimentos de laboratório já demonstraram a transferências destes para substratos de passagem, evidenciando este carreamento. Contudo, são evidências circunstanciais. A ocorrência de alergias causadas por baratas é fato comprovado. Tudo leva a crer nessa capacidade vetorial de transferência de patógenos, podendo eclodir na veiculação e ocorrência de enfermidades. Pesquisas complementares de suporte são necessárias.
Baratas X novo coronavírus:
Pergunta-se então, neste momento de ocorrência do novo coronavírus em escala pandêmica, qual poderia ser o papel e a importâncias das baratas como contaminantes ambientais? a contaminação cruzada.
Pesquisa recente mostra a presença de coronavírus em rede de esgoto no Brasil. O vírus Sars-Cov-2 foi descoberto em rede de esgoto e a presença do vírus é um indicador do espalhamento da Covid-19 na população. O vírus, assim, é excretado nas fezes. Este achado não significa que haja transmissão pelo esgoto, mas serve como sentinela para correlação de casos da doença. Por outro lado, no Rio de Janeiro a rede de esgoto deficiente não viabiliza uma pesquisa confiável. Pesquisas anteriores em outros países também detectaram o vírus nas fezes.
Potencial de Contaminação:
Juntando fatos e suposições, já ficou claro que as baratas são veiculadoras de microrganismos patogênicos por permitirem a aderência de sujidades em seu corpo. Esta aderência é facilitada pela presença de cerdas, espinhos e outras estruturas morfológicas, além de um diferencial de carga iônica. Ficou claro, também, que as baratas são “andarilhas”, passando em áreas sujas onde se contaminam, tanto quanto em áreas limpas e até mesmo “sensíveis”, onde estes contaminantes podem ser “largados” ou desprendidos.
Se registrarmos o trajeto por onde uma barata passa ao sair de seu abrigo ou esconderijo ao se dirigir à área de forrageamento ou alimentação, teremos percursos de até 10 a 45 metros, dependendo da espécie.
Parece bastante plausível, assim, a veiculação do novo coronavírus, causador da Covid-19 por essas pragas na área urbana.
Tempo de permanência do vírus em superfícies:
A sobrevida do coronavírus em diferentes superfícies é motivo de várias pesquisas. Um estudo foi realizado pelo CDC, Centro de Controle e Prevenção de Doenças, da Universidade da Califórnia, com avaliação da permanência do vírus em cinco locais distintos. Através de um nebulizador e uma forma aerolizada do vírus, foi definido o tempo em suspensão no ar e de retenção em superfícies, com os resultados a seguir.
Também foi realizado estudo de viabilidade em diferentes tecidos. Pela porosidade, os poros retêm por mais tempo o vírus, até 96 horas e o controle fica limitado à lavagem, pela acessibilidade de água e sabão.
Medidas a serem adotadas:
As medidas mais imediatas a serem adotadas envolvem o controle de baratas nas áreas propícias à infestação – ou já infestadas – e a sanitização ambiental. Claro está que tais procedimentos devem ser realizados dentro de uma periodicidade peculiar a cada local, com avaliação criteriosa dos resultados, através de monitoramento contínuo.
O controle de baratas deve obedecer à filosofia do Manejo Integrado de Pragas/MIP, que contempla o controle ambiental e o controle químico, com adoção de ações de bloqueio da acessibilidade das pragas, correções estruturais de edificações e higienização dos ambientes, pelo manejo de resíduos e de restos alimentares em geral. A higienização de superfícies e equipamentos, já contempladas no MIP, devem ser reforçadas e ampliadas.
Recomenda-se procedimentos de Sanitização Ambiental mais abrangentes, de modo a assegurar a exclusão do vírus de forma mais direcionada.
As falhas de limpeza , com acúmulo de camadas de gordura, tornam-se atrativas para as baratas e devem ser alvo de correção.
Cresce a importância destas atitudes, com base na prevenção e orientação da população envolvida.
Quebrar o ciclo de replicação do vírus é o caminho para o controle da pandemia e a possibilidade para a flexibilização do distanciamento e isolamento social.
E vida que segue!
Lucy Figueiredo
Bióloga com Especialização em Saúde Pública
Hola, los escribo desde Perú, estoy interesado en participar de los eventos que ustedes van a dictar, por favor comunicarme las fechas en que lo realizarán; saludos y muchos exitos.