Coordenadora do Núcleo de Ofiologia e Animais Peçonhentos da Bahia ainda cita registro de aranhas do tipo na região de Morro de São Paulo
Para Rejane Lira, professora titular do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia e coordenadora do Núcleo de Ofiologia e Animais Peçonhentos da Bahia (NOAP/UFBA), é improvável que o turista que morreu após supostamente ter sido picado por um animal peçonhento, em Morro de São Paulo, tenha sido vítima de uma aranha-marrom.
O homem teria sido picado por um animal peçonhento na terça-feira, 9, e morreu no último domingo, 14.
Segundo Lira, não existem registros da aranha do gênero Loxosceles, ao qual pertence a aranha-marrom, na região de Morro de São Paulo. Ainda de acordo com a especialista, este tipo de aracnídeo é encontrado em grutas da região da Chapada Diamantina.
“Das oito espécies de Loxosceles da Bahia, somente duas já foram registradas em área de Mata Atlântica, em área de grutas em Pau Brasil e apenas uma aranha em Salvador, na Lagoa do Abaeté, área de dunas”, disse.
Além disso, após ter acesso às fotos do caso do turista de Morro de São Paulo, Rejane Lira ainda apontou que a lesão mostrada nas imagens não é característica da aranha-marrom.
“Quase impossível ter sido este tipo de aranha”, afirmou a especialista.
A professora aponta ainda que a informação de que a vítima supostamente teria sido entubada no hospital não condiz com os efeitos do veneno da aranha-marrom.
“Essa aranha não leva a distúrbios que ocasionam insuficiência respiratória. Tudo leva a crer que não foi a Loxosceles”, disse Rejane Lira.
Ela explica que, como não se tem o animal responsável pela suposta picada, a causa presumida da lesão é determinada ao analisar outras características.
“A picada da Loxosceles causa insuficiência renal aguda, pois o veneno degrada a hemácia e libera hemoglobina, que cai no rim. Nos casos graves, há comprometimento renal importante. E quando se faz o exame de urina, acusa a hemoglobina na urina. Os olhos do paciente ficam amarelados, como se a pessoa tivesse hepatite. São vários sintomas que fecham o diagnóstico”, afirma a especialista.
Rejane Lira ainda destacou que “aranha-marrom” é o nome genérico do animal, e que não é todo aracnídeo da cor marrom que se encaixa na especificação. Ela diz que há algumas características que ajudam a identificar a Loxosceles.
“As Loxosceles têm seis olhos, agrupados de dois em dois, enquanto a maioria das aranhas têm oito olhos. Além disso, na cabeça, tem uma manchinha em forma de violino. Tem seis olhos, tem manchinha em forma de violino, é uma Loxosceles. No entanto, como é pequena, às vezes é difícil que as pessoas enxerguem esses seis olhos”, diz.
Secretaria de Turismo não encontrou aranha-marrom
Em conversa com o Portal A TARDE, o secretário de Turismo de Cairu – município ao qual Morro de São Paulo pertence -, Cláudio Márcio de Jesus Brito, afirmou que uma operação conjunta entre a pasta e a Vigilância Sanitária vistoriou toda a área da segunda praia, onde fica o restaurante onde o turista supostamente teria sofrido a picada da aranha, e não encontrou nenhum sinal da presença do aracnídeo. Ele também disse que nunca houve registro de picadas de aranha-marrom na cidade.
“Não foi ainda comprovado que foi uma aranha que causou a morte do rapaz, mesmo porque em Morro, em todos esses anos, nunca deram entrada nos hospitais daqui alguma vítima desse tipo de aranha. Estamos aguardando um parecer do hospital, mas ainda não saiu”, falou o secretário, que ainda destacou que a dedetização do restaurante está em dia.
Através de nota oficial, a Secretaria de Saúde de Cairu informou que, na última quarta-feira, 10, a Unidade de Saúde do Morro de São Paulo recebeu um paciente que apresentava vermelhidão no membro inferior, sem causa definida.
“Ao dar entrada na unidade, todos os protocolos necessários foram prontamente seguidos de acordo com o quadro clínico apresentado. Imediatamente, foi acionado o Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (CIEVS), da Secretaria de Saúde do Governo do Estado da Bahia, para a realização do protocolo específico para possível picada de inseto não identificado”, destaca a nota.
Como o soro antiaracnídico fica na Sede da Regional de Saúde, em Gandu, e nas Unidades Hospitalares de Referência, os pacientes de Cairu são encaminhados para a Santa Casa de Misericórdia de Valença, o que foi feito.
Declaração do Restaurante
Também através de nota, o Restaurante Sambass, onde a suposta picada do animal peçonhento teria ocorrido, informou que funciona no local há 20 anos e “nunca aconteceu nenhum incidente em seu estabelecimento envolvendo clientes e animais silvestres de qualquer natureza”.
Disse ainda que “desconhece os fatos que desencadearam o falecimento do turista, na medida em que não houve nenhum incidente colocando em risco os clientes que frequentam ou tenham frequentado o restaurante nas últimas semanas”.
A direção do restaurante destacou ainda que está com todos os alvarás sanitários em dia, “além de realizar dedetização mensal, de forma preventiva, visando repelir a presença de qualquer animal nos ambientes do restaurante”.
A nota ressalta também que nesta segunda-feira, 15, uma equipe da Vigilância Sanitária da prefeitura esteve no local e constatou a regularidade sanitária das atividades.
Um turista de São Paulo morreu no domingo, 14, supostamente após ser picado por uma aranha em um restaurante de Morro de São Paulo, na terça-feira, 9. Ele chegou a ficar cinco dias internado, mas não resistiu.
Segundo o secretário de Turismo de Cairu, o turista começou a se sentir mal um dia depois de ter ido ao restaurante e procurou atendimento na Unidade de Pronto Atendimento de Morro de São Paulo.
Posteriormente, ele foi levado à Santa Casa de Valença, cidade do baixo-sul, próxima a Morro de São Paulo e, de lá, foi transferido ao Instituto de Cardiologia do Recôncavo (Incar), em Santo Antônio de Jesus, onde morreu.