A falta de uma cultura de medicina preventiva entre pacientes e médicos, o envelhecimento da população e o insucesso no combate as doenças infecciosas no País estão convergindo em um “dos piores cenários” possíveis para a saúde dos brasileiros, avalia a gigante da medicina diagnóstica Dasa.
“Existe hoje um dos piores cenários no Brasil. A população está começando a envelhecer e a incidência de doenças crônicas vai aumentar, [ao mesmo tempo que] diferente de outros países com população mais velha, nós não conseguimos reduzir a prevalência de doenças infecciosas”, avaliou o vice-presidência de área médica da Dasa, Emerson Gasparetto.
Adicionalmente, o número ainda alto de mortes por acidentes ou violência e a inexistência de uma cultura sólida de prevenção de doenças – tanto entre pacientes quanto no próprio setor de saúde – tornariam o cenário ainda mais complicado. “Nossa medicina preventiva é extremamente falha”, admitiu Gasparetto.
Indícios da pouca capacidade de prevenção foram revelados ontem (04), quando a Dasa divulgou estudo sobre o comportamento do brasileiro em relação a saúde: segundo o grupo, 58% dos entrevistados só procuram um médico após descobrirem problemas de saúde (entre os homens o patamar bate 68%). Ao mesmo tempo, 24% da população evita exames porque tem medo do que iria descobrir.
“Hoje o brasileiro não vai ao médico se não estiver doente e o sistema [de saúde] não o contata se ele não estiver doente”, lamentou o executivo da Dasa. “Se eu tenho informações do meu paciente, eu posso intervir de forma preditiva. O futuro da medicina é baseado em dados.”
Segundo Gasparetto, a própria Dasa já conta com uma equipe de 30 profissionais focados na análise de dados gerados a partir de exames. Nos últimos doze meses, cerca de 240 milhões de procedimentos de mais de 20 milhões de pacientes foram efetuados pelas marcas do grupo.
Um exemplo de abordagem preditiva já utilizado pela empresa envolve a identificação de pacientes que não sabem que são pré-diabéticos. “Entre os pacientes que fazem exames de glicose, 6% tem diabetes definida como diagnóstico, mas [entre os que se enquadram] na pré-diabetes, nós chegamos a 20% da população adulta”, revelou Gasparetto.
Dados
A Dasa ainda constatou que a população do País é mais otimista do que deveria quando o assunto é saúde, com 78% avaliando a própria qualidade de vida como positiva.
“[Os brasileiros] declaram ter saúde muito boa, mas quando perguntamos de forma específica sobre como eles dormem, comem ou o seu peso, a realidade é diferente”, afirmou o vice-presidente médico do grupo. Exemplos deste cenário seriam as taxas de sedentarismo e de obesidade descobertas pela empresa.
Segundo o levantamento (realizado ao lado do Ipsos), pelo menos 52% dos brasileiros não tem o costume de realizar atividades físicas moderadas; entre as mulheres, a parcela chega a 57%. Ao mesmo tempo, 54% da população estaria acima do peso; neste caso, o problema afetaria todas as faixas etárias.
Em relação ao sono, constatou-se que 38% da população não dorme o suficiente em três ocasiões por semana ou mais; já 39% dos brasileiros admitem tomar medicamentos sem recomendação médica.
O caso também é preocupantes se analisadas a incidência de doenças infecciosas. Além de destacarem o retorno de problemas como a febre amarela, especialistas da Dasa afirmaram que o combate ao mosquito aedes aegypti (responsável pela transmissão de doenças como dengue, zika e chikungunya) ainda precisa ser aperfeiçoado.
Segundo dados do Ministério da Saúde trazidos pela companhia, até 10 de novembro já havia 228 mil infecções de dengue identificadas em 2018; os números superam as 226 mil ocorrências registradas ao longo de 2017. “A luta contra a dengue continua sendo inglória”, afirmou Gasparetto. No caso da zika e chikungunya, os números diminuíram no mesmo intervalo.
Entre as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), o cenário é igualmente complicado. Além de classificar como uma “epidemia” a incidência atual de casos de sífilis no Brasil (que seria elevada entre todas as classes sociais), a área médica da Dasa observou que “todas as doenças sexualmente transmissíveis estão crescendo” – entre elas a hepatite B e a HIV/Aids. Uma das razões seria o aumento do sexo sem proteção entre os jovens.