Parte do sertão pernambucano está em surto epidêmico de dengue. Apesar de os casos da doença e da Chikungunya terem diminuído em relação ao ano passado, em todo o estado, quando consideradas as estatísticas da área mais seca, a situação é diferente. Somente na região da sétima gerência regional de Saúde (Geres), que engloba sete municípios, dentre eles Salgueiro, foram notificados 480 casos suspeitos de dengue em 2019. O número significa um aumento de 53 vezes ou 5,200% em relação ao mesmo período de 2018. Em relação a Chikungunya , o aumento foi de 800% de um ano para o outro.
A cidade de Salgueiro está em surto epidêmico, enquanto outras três – Angelim, Custódia e Verdejante – estão em situação de alerta para as arboviroses. De acordo com o Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), o salto nas notificações pode ter relação com o padrão das epidemias em anos anteriores, que não chegaram com força ao Sertão. Por isso, nessa região há mais pessoas suscetíveis à infecção. “O Sertão, tanto no período de 2012 quanto no de 2015 e 2016, as epidemias anteriores, foi uma localidade que registrou um menor número de casos. No Agreste e na Região Metropolitana do Recife (RMR), teoricamente há mais pessoas imunizadas”, explica a gerente do Programa de Controle das Arboviroses da SES, Claudenice Pontes.
Na região de Salgueiro, para se ter uma ideia, a quantidade de casos de dengue registrados em 2018 foi nove até a semana epidemiológica sete, ou seja, até o dia 16 de fevereiro. “A situação epidêmica ocorre quando os números estão acima do limite máximo que se esperava para aquela localidade. A de alerta, como está a cidade de Custódia, é quando a quantidade de casos está na média, mas próximos desse limite. Desde a semana epidemiológica, final de janeiro, que identificamos esse aumento de casos e essa fuga do padrão”, acrescentou Claudenice Pontes. Também chama atenção o aumento nas notificações de dengue na 10ª Geres, com sede em Afogados da Ingazeira e que compreende mais 11 municípios (foram 10 notificações de dengue em 2018 e 36 em 2019, um aumento de 260%).
Segundo a gerente, foram realizadas buscas ativas na região para potencializar a identificação de casos suspeitos. Além disso, foi ativado o Comitê de Mobilização Social para toda a região do Sertão, realizadas reuniões para intensificar o controle vetorial, enviados pulverizadores para bloqueio e o carro fumacê para as áreas de maior risco. Também foi disponibilizado transporte para que as coletas sejam enviadas com maior velocidade para análise laboratorial e confirmação dos quadros no Recife.
A ação mais recente aconteceu ontem, com a capacitação de 300 profissionais para identificação de sinais de alarme das arboviroses e manejo clínico dos pacientes suspeitos. A atual situação epidemiológica do Estado foi apresentada aos profissionais de todas as regionais de saúde, via web conferência. A ideia é que os capacitados se transformem em multiplicadores das informações nos respectivos serviços. Os dados da situação do Sertão foram apresentados aos profissionais, sobretudo para que seja feita a identificação rápida dos casos, evitando assim o agravamento e um possível óbito.
“Fizemos um alerta para a questão da faixa etária e formas de identificar os sinais em uma criança. Os últimos surtos epidêmicos ocorreram em faixa etária adulta, essa é uma faixa que teoricamente está imunizada. As crianças, sobretudo aquelas que nasceram pós-período epidêmico de 2012, são faixas mais suscetíveis a infecções por arboviroses”, lembrou Claudenice Pontes. “Os pais ou responsáveis precisam ficar atentos para mudança no comportamento das crianças, que podem ficar molinhas, apresentar quadro febril, vômito, diarréia. Nessas situações, é preciso relembrar de manter a hidratação, indispensável para evitar o agravamento, e seguir imediatamente para um serviço de saúde”, avisa a infectologista pediátrica do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC) Regina Coeli.
O último surto epidêmico em Pernambuco ocorreu entre 2015 e 2016, quando houve a entrada em circulação local de novos dois vírus, zika e chikungunya, e o boom de casos que culminou com a síndrome congênita do zika. De acordo com Claudenice Pontes, o Estado estuda a realização de uma nova capacitação com os profissionais direcionada para a macrorregional do Sertão.
Pernambuco neste ano notificou até agora seis óbitos, um a mais do que o mesmo período de 2018. Cinco envolvem pacientes do sexo masculino e um do sexo feminino. Em relação à idade, três casos foram no público abaixo de 15 anos e três na faixa etária de 30 a 59 anos. Os óbitos foram notificados nos municípios de Ipojuca (8 de janeiro, homem, 46 anos), Custódia (9 de fevereiro, homem, 39 anos), Camaragibe (1 de fevereiro, mulher, 59 anos), Jaboatão dos Guararapes (12 de fevereiro, menino, 8 anos), Arcoverde (13 de fevereiro, adolescente masculino, 15 anos) e São Benedito do Sul (13 de fevereiro, menino, 4 meses). Todos os casos estão em investigação.
Saiba mais
ARBOVIROSES – semana 7
Dados do período entre os dias 30 de dezembro de 2018 a 16 de fevereiro de 2019
DENGUE
1,8 mil notificados
182 confirmados
214 descartados
Presente em 61% dos municípios
9,5% a menos de casos suspeitos do que em 2018
CHIKUNGUNYA
262 notificados
5 confirmados
31 descartados
Presente em 20% dos municípios
30,1% a menos de casos suspeitos do que em 2018
ZIKA
86 notificados
1 confirmados
60 descartados
Presente em 13% dos municípios
4,9% a mais de casos suspeitos do que em 2018
Óbitos
6 casos em investigação para todas as arboviroses
Aprenda a identificar os sintomas
Dengue
Febre alta (39° a 40°C), de início abrupto, que geralmente dura de 2 a 7 dias; dor de cabeça, dores no corpo e articulações, dor atrás dos olhos, erupção e coceira na pele. A forma grave da doença inclui dor abdominal intensa e contínua, vômitos persistentes, sangramento de mucosas.
Chikungunya
Febre alta, dores intensas nas articulações dos pés e mãos, além de dedos, tornozelos e pulsos. Outros sintomas possíveis são dor de cabeça, dores nos músculos e manchas vermelhas na pele.
Zika
Normalmente, a doença é assintomática e tem evolução benigna em até uma semana. Os principais sintomas são dor de cabeça, febre baixa, dores leves nas articulações, manchas vermelhas na pele, coceira e vermelhidão nos olhos.