Os trabalhos de combate a roedores nas ruas de Uberlândia foram intensificados neste ano pelo Centro de Controle de Zoonoses (CCZ). Apesar da incidência de leptospirose ser considerado baixa na cidade, os trabalhos têm sido desenvolvidos com o objetivo de diminuir a população de ratos e ratazanas, principalmente na região central da cidade.
Desde 2016, não há óbitos registrados por leptospirose na cidade. Naquele ano, três casos da doença foram confirmados. Em 2017, foram 12 casos suspeitos com duas confirmações. No ano seguinte, a situação foi a mesma. Já nos quatro meses iniciais de 2019, foram seis notificações e um caso confirmado.
Apesar da baixa incidência da doença que é transmitida pela urina dos roedores, o CCZ faz um combate constante e em diversas frentes para manter a situação sob controle. São 17 agentes que fazem parte do Programa de Agravos e Roedores do CZZ. Dividindo as atividades em turnos, os servidores realizam o combate aos roedores em espaços e vias públicas durante a manhã. À tarde, são feitas visitas e acompanhamentos em imóveis e estabelecimentos particulares que tenham histórico de incidência de roedores.
Entre os 3.273 atendimentos realizados pelo Programa de Agravos e Roedores no primeiro quadrimestre deste ano, a maior parte, 2.958, focou em vias públicas, onde os animais costumam se esconder em bueiros. Houve ainda 40 visitas a casas onde há acumuladores, 43 em lares onde há pessoas em situação de vulnerabilidade que não têm condições de fazer o combate dos roedores, e seis atendimentos em locais após notificação de mordeduras.
“A gente não tem muito problema com leptospirose em Uberlândia. É bem tranquilo. Nós temos casos pontuais. Não é igual São Paulo, Rio de Janeiro, onde tem aquelas enchentes, alagamentos, que aí realmente aumenta muito o número de casos. Os casos que locais de lepto são quando a pessoa tem um contato [com a urina] durante limpeza, ou vai a uma chácara”, disse Juliana Junqueira, coordenadora do Programa de Agravos e Roedores.
De acordo a ela, apesar da baixa incidência de casos da doença, o combate no âmbito das ruas e avenidas se intensificou neste ano devido ao crescimento da população de roedores em bueiros da cidade, mostrado pelo monitoramento feito pelo programa. “Principalmente nesses bairros centralizados, como Brasil, Martins, na parte bem central, porque tem muito restaurante, lanchonete, então ali há um acúmulo de alimentos, de lixo”, disse.
No caso dos bairros citados, Junqueira disse que as reclamações da população recebidas pelo órgão também mostram uma crescente insatisfação com a presença dos animais no local.
ROEDORES
Segundo Juliana Junqueira, coordenadora do Programa de Agravos e Roedores de Uberlândia, a ratazana é o tipo mais comum de roedor que pode ser visto nas vias públicas e também é o principal responsável pela transmissão da leptospirose. Elas costumam viver em colônias formadas em quintais, terrenos baldios e nos bueiros. Há também os ratos de telhado, que escalam e preferem ficar em lugares mais elevados e são mais comuns em residências.
Em todas as situações, o combate aos roedores feito pelo Centro de Controle de Zoonoses utiliza iscas parafinadas com veneno para verificar, após uma semana, se há consumo do alimento pelos animais. Onde as iscas foram consumidas, os agentes depositam mais do produto semanalmente até que o foco de roedores seja eliminado. Para entender como funciona o processo, Junqueira explica que os roedores se organizam em três castas: os dominantes, os intermediários (aspirantes a líderes) e os dominados.
De acordo com ela, quando uma isca é colocada próxima a um foco, os roedores que estão na base da pirâmide são incentivados pelos outros a consumirem a isca e testarem se não é perigoso para o resto dos animais. “O princípio da isca é sempre o mesmo: mata o rato por hemorragia, interna e externa. Não existe produto que mata o rato na hora. Tem gente que vende produto ilegal alegando ser raticida. E a gente faz o alerta, chumbinho e veneno líquido não são permitidos no Brasil”, disse.
Além da possibilidade de acidentes mais graves, a coordenadora explica que se o produto é muito veloz ao causar a morte de um animal, a situação alerta os outros ratos. De acordo com ela, os casos descritos podem gerar o chamado “efeito bumerangue”. “Se eles percebem que há algum problema, eles avisam toda a colônia. Aqueles que morreram tinham uma função, então a fêmeas começam a entrar no cio, reproduzir e substituir aqueles que estavam faltando”, afirmou.
Após o período de reprodução, alguns roedores podem ser expulsos da colônia e formar outras próximas à original.
Se não tratada, leptospirose pode levar à morte
De acordo com Vinícius Paulino, que é médico infectologista e tem experiência como chefe de controle de infecção hospitalar na cidade, a leptospirose é uma doença infectocontagiosa. Aqueles que contraem a bactéria do gênero Leptospira, seja pelo contato direto com a urina de roedores ou por água contaminada, podem ser contaminados. A doença pode não apresentar sintomas a até, a depender da evolução do quadro, causar morte. Em casos mais raros, a urina de suínos, caninos e bovinos também pode servir de vetor para a bactéria.
“Quando se instalam, os sintomas são febre alta que começa de repente, mal-estar, dor muscular especialmente na panturrilha, hiperemia conjuntival, tosse, cansaço, calafrios, náuseas, diarreia, desidratação, além de manchas vermelhas no corpo e meningite. A leptospirose é autolimitada, costuma evoluir bem e os sintomas regridem depois de três ou quatro dias. Mas há casos que terão hemorragias, complicações renais, torpor e coma em situações mais graves”, explicou o médico.
Mesmo causando poucas mortes no Brasil, o médico ressalta que é preciso sempre procurar assistência profissional e realizar o tratamento, que consiste na hidratação e uso de antibióticos.