Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) divulgou nesta quarta-feira (29) uma pesquisa que identificou a presença de material genético (DNA) do parasito que transmite a doença de Chagas em alimentos que possuem o açaí como base e que são vendidos no Pará e no Rio de Janeiro.
O estudo analisou 140 amostras de alimentos à base de açaí e que foram coletadas em feiras e supermercados do Pará (2010 à 2015) e do Rio de Janeiro (2010 à 2012). A presença do material genético do parasito Trypanosoma cruzi foi detectada em 14 produtos, ou seja, 10% do total das amostras. O DNA do inseto que transmite o parasito, conhecido como barbeiro, também foi identificado em uma das amostras.
Segundo a Fiocruz, a contaminação foi verificada em produtos comercializados nos dois estados, sendo que o DNA do parasito foi detectado em diferentes alimentos, incluindo frutos frescos, sucos de açaí e polpas congeladas, misturadas ou não com xarope de guaraná e frutas.
A Fiocruz destacou que a identificação do DNA do parasito nos alimentos não implica, necessariamente, no risco de transmissão da doença de Chagas, porque o material genético pode ser detectado mesmo se o organismo estiver morto e, com isso, incapaz de provocar infecção. Mesmo assim, a Fundação alerta para a necessidade de reforço das boas práticas de higiene e manufatura dos produtos derivados do açaí.
“Reforçamos que, como não foi avaliado o potencial de infecção dos microrganismos, é provável que eles estivessem mortos e não pudessem provocar o agravo. Mas a simples presença do DNA do parasito mostra que houve contato com o alimento, apontando para falhas no processo de produção que podem levar à transmissão da doença de Chagas”, afirmou Otacílio Moreira, pesquisador do Laboratório de Biologia Molecular de Doenças Endêmicas da Fiocruz.
Os pesquisadores ressaltaram que o DNA do parasito foi encontrado em itens produzidos por indústrias de alimentos, que deveriam aplicar normas rígidas para garantir a segurança dos produtos.
“Apesar de existirem importantes estratégias sendo implementadas, o Brasil ainda está num estágio embrionário e pontual no combate à doença de Chagas transmitida pelo consumo alimentar, incluindo o açaí. As boas práticas de higiene e de manufatura, assim como a aproximação entre instituições de ciência e os produtores de açaí, são essenciais para contribuir na solução deste problema”, disse a pesquisadora Renata Trotta Barroso Ferreira.
Doença de Chagas
Dados do Ministério da Saúde, entre 2007 e 2016, o Brasil registrou, em média, 200 casos agudos de doença de Chagas por ano. Destes, 69% foram causados por transmissão oral, derivada da contaminação de bebidas e comidas.
Embora casos de infecção já tenham sido ligados ao consumo de outros alimentos, o açaí é o item mais frequentemente associado a essa rota de transmissão do Trypanosoma cruzi. Entre as notificações registradas de 2007 a 2016, cerca de 95% ocorreram na região Norte, com 85% no estado do Pará, onde o consumo do suco fresco de açaí é um item tradicional da cultura alimentar.
Casos recentes no Pará
O Instituto Evandro Chagas confirmou no dia 20 de agosto a contaminação de 20 pessoas com a doença de Chagas em Acará, no nordeste do estado. Os casos foram confirmados após dois surtos da doença terem ocorrido em duas famílias após terem ingerido o açaí contaminado.
Em Tucuruí, sudeste do Pará, a Secretaria de Saúde do município confirmou no dia 7 de março três de casos de doença de chagas. As vítimas são da mesma família e a suspeita de contaminação teria sido pelo consumo do açaí.