Dois mil e dezenove começou trazendo de volta as doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. Muitas cidades já registraram aumento impressionante de casos de dengue, como a gente já mostrou no Jornal Nacional. E mais de seis mil casos de chikungunya foram registrados no estado do Rio de Janeiro. É mais da metade do número nacional.
Campo Grande, Zona Oeste do Rio. Está difícil escolher uma parte do corpo do químico Valdecir Antunes que não esteja doendo.
“Eu não consigo mexer os pés, mexer a mão, aqui o punho, o joelho”, disse.
O diagnóstico é chikungunya. Dele e da mulher. Mas tinha tanta gente por perto com as mesmas dores, que a dona Tânia de Sá Suzano, aposentada, resolveu contar quantos estavam com chikungunya só no condomínio de casas onde eles moram. E o número assustou: 43.
“Até onde eu conseguir andar, porque também tinham pessoas que não estavam em casa e estavam acamadas no hospital”, afirmou.
Enquanto o Brasil registrou menos casos de chikungunya em 2019, o estado do Rio foi na contramão e bateu um recorde: 6.765 casos só nos primeiros três meses de 2019. E se fosse uma competição para saber onde tem mais registros de chikungunya no estado, a disputa ia ser apertada.
Em Vila do Tinguá, em Queimados, na Baixada Fluminense, o tamanho do estrago que o mosquito Aedes aegypti deixou, só em uma casa, tem três pessoas com chikungunya. Em outras duas, mais pessoas doentes; em uma outra, são seis; do lado, são cinco pessoas. Na vizinha do lado, na vizinha da frente; ou seja, só em uma rua, são 30 pessoas com chikungunya. Mas não acabou, não. Virando a esquina, outras 30 pessoas também com a doença. Ou seja, 60 só em um pedacinho do bairro.
“Dói tudo, minha filha. Tudo, tudo que é junta que você pensar dói”, relatou a dona de casa Lecy Alves Galeão.
Na casa vizinha, o Aedes aegypti não poupou nem as visitas.
“O meu namorado veio passar o fim de semana aqui comigo e aí, quando foi na semana seguinte, ele foi diagnosticado com chikungunya”, afirmou a professora de educação física Mayara Galeão.
A origem dessa concentração de casos pode estar em uma casa abandonada. Ela é coberta de vegetação e cheia de lixo na calçada; e, no quintal, um criadouro de mosquitos. O infectologista Edimilson Migowski explica que apenas poucos focos de água parada podem provocar muitos casos de chikungunya, dengue e zika, porque a fêmea do mosquito espalha os ovos.
“A fêmea se adaptou. Ela não coloca todos os ovos num único cesto. Ela coloca os ovos em vários recipientes para garantir e perpetuar a espécie. Cada um tem que ser o seu próprio agente de saúde e buscar dentro de casa os focos”, explicou.