O almoço, servido em uma sala de reuniões na sede do iFood, em Osasco, na Grande São Paulo, parece saboroso: caixinhas coloridas do restaurante Coco Bambu trazem camarões ao molho, escondidinho de carne e uma cocada ao forno para a sobremesa.
Mas Diego Barreto, CFO do aplicativo responsável pela entrega daquela refeição, não quer comer. “Estou fazendo a dieta do jejum intermitente”, justifica. Sua fome é outra. “Você conhece Campinas?”, ele pergunta, enquanto pega uma caneta e começa a rabiscar em um quadro branco: “Desse lado da rodovia tem um shopping. Do outro lado, tem dois condomínios de alto padrão.
Hoje, o entregador precisa seguir até ali na frente, numa estrada com caminhões, fazer o retorno, subir um viaduto, pegar a outra mão da rodovia e passar pela portaria do condomínio. Depois, fazer tudo de novo para voltar”. O rabisco embolado realça aquele nó logístico.
Diego traça então uma linha reta entre a oferta e a demanda: “Tá vendo? É isso que a gente quer fazer. O drone decola daqui e pousa num droneport dentro do condomínio. Em cidades médias, isso vai aumentar a área de atuação dos restaurantes, concentrar o entregador em roteiros mais produtivos e fazer a refeição chegar com menor custo e maior qualidade para o cliente”.
Pioneiro e líder isolado do mercado brasileiro de entregas de comida, com 26,6 milhões de entregas em novembro de 2019, o iFood busca novos superlativos em 2020. “Queremos ser a primeira empresa no mundo a operar comercialmente um drone de entregas com permissão das autoridades de aviação civil”, diz Diego. Além de drones, a empresa testa um robô de entregas, semelhante a um carrinho de sorvete sem sorveteiro, para ir das praças de alimentação até um ponto de distribuição adequado aos entregadores.
Se tudo der certo, até o fim do ano a empresa terá três drones e três robôs em serviço. “Somos uma das maiores empresas de entrega de comida do mundo e estamos puxando a fronteira dessa tecnologia”, completa Bruno Henriques, vice-presidente de inovação e inteligência artificial do iFood.
“No século 18, as pessoas tinham o costume de costurar as próprias roupas, mas hoje isso é inimaginável”, diz Fabricio Bloisi, CEO da empresa. “Daqui a dez anos, as pessoas vão cozinhar por prazer, por hobby, não porque precisam. Será mais fácil, mais rápido, mais barato e melhor pedir comida pelo nosso aplicativo.”
“Com robôs e drones, vamos ganhar eficiência”, diz Bruno Henriques, VP do iFood
O setor de home delivery faturou US$ 192 bilhões em 2018. É pouco, se comparado aos US$ 3 trilhões da indústria de food service (que reúne lanchonetes, bares e restaurantes). Mas a atividade (e o potencial de crescimento) dos apps de comida redesenham a paisagem das grandes cidades, transformam o modo como nos alimentamos e impactam uma vasta gama de negócios.
Da Nestlé, a maior empresa de alimentação do planeta, com US$ 24,3 bilhões faturados em 2018, ao pipoqueiro que atende no Cristo Redentor — e passou a sofrer a concorrência de lanches que chegam via aplicativo. Dos supermercados e restaurantes à construção civil. O alcance dos aplicativos é tão grande que o banco de investimentos suíço UBS lançou um documento, cujo título provoca: “A cozinha está morta?”.
“Em um mundo com millennials famintos por tempo e desapegados de bens materiais, achamos que o crescimento da entrega online de comida é parte de uma megatendência que não deve ser ignorada”, lê-se no documento.