Essa semana o Portal Pragas e Eventos entrevistou o professor Me. Fábio Medeiros da Costa sobre
os cuidados a serem tomados para a redução dos casos de malária, além disso, o professor comenta sobre a vacina para a doença e os motivos para que esta não venha para o Brasil.
O nome malária deriva de “mal aire” (“mau ar” em italiano) e surgiu no século 18, pois se acreditava que a causa da enfermidade estivesse no ar insalubre de certas regiões pantanosas. Porém, foi só no final do século 19, começo do século 20, que se descobriu o papel dos insetos na transmissão do parasita que causa a doença e as alterações mórbidas que provoca no organismo infectado.
A malária é uma enfermidade prevalente em todos os países de clima tropical e subtropical, sendo a África o continente com maior número de casos, muitos deles fatais. Já, aqui no Brasil, a Amazônia é a área mais sujeita à transmissão da doença, especialmente depois que o homem invadiu o habitat natural do mosquito.
Portal Pragas e Eventos – Como ocorre a transmissão da Malária?
Fábio – A transmissão da malária se dá de três formas, duas delas de modo natural e outra artificial.
As formas naturais são:
- Através da picada de mosquitos fêmeas do gênero Anopheles que ao se alimentarem em pessoas doentes de malária, acabam se contaminando e dias depois, ao fazerem uma nova alimentação sanguínea em uma pessoa saudável começa a transmitir os parasitos que são os agentes etiológicos da doença. Essa é forma mais frequente da transmissão.
- Uma mãe grávida infectada com parasitos pode transmitir ao feto os parasitos. É o que se chama de transmissão vertical.
A forma artificial ocorre quando transfusões sanguíneas que não tiveram critérios técnicos adequados permitem que pessoas contaminadas doem sangue e assim é possível transmitir aos receptores.
Portal Pragas e Eventos – No Brasil, quais as regiões que são acometidas pelo vetor e consequentemente pela doença e os motivos para isso?
Fábio – A ocorrência da malária tem maior distribuição nos estados que compõem a região Amazônia (Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Roraima, Rondônia, Tocantins, Maranhão e Mato Grosso), a qual chamamos de zona endêmica. Entretanto, casos autóctones esporádicos podem ocorrer em outros estados, especialmente onde existe cobertura da mata Atlântica que favorece a permanência dos vetores.
Portal Pragas e Eventos – O que falta para o País eliminar a doença?
Fábio – Muito trabalho, compromisso e empenho das autoridades sanitárias para garantir os investimentos na cadeia de controle da doença e de seus vetores.
Portal Pragas e Eventos – Além da aplicação de inseticidas, quais medidas podem e devem ser realizadas para o controle?
Fábio – A proteção das pessoas evitando se expor a locais onde ocorrem os vetores ou usando repelentes. O uso de mosquiteiros impregnados todas as noites. Ter acesso a diagnóstico e tratamento oportunamente. E a proteção das casas com telas em portas e janelas.
Portal Pragas e Eventos – Comente sobre a decisão de liberação da OMS em relação a vacinação ampla em crianças da África Subsaariana. Hoje li uma reportagem sobre e nesta continha que provavelmente o Brasil não receberá tal liberação. Como você analisa esse caso?
Fábio – O maior impacto da malária não ocorre no continente americano, mas sim na África, onde milhares de crianças abaixo de 5 anos de idade morrem por ano acometidos por malária. A proteção dessas crianças por todos os mecanismos possíveis é promover um salto em qualidade de vida para as comunidades tão pobres e desassistidas pela saúde. Existem 5 espécies de agentes etiológicos. A vacina RTS, S / AS01 ou Mosquirix somente pode proteger contra a espécie responsável pela forma mais grave da doença, o Plasmodium falciparum. Ela é a responsável pela gravidade dos casos com severos danos ao cérebro, visto que os parasitos promovem a agregação de elementos sanguíneos causando o entupimento de vasos. No Brasil a circulação de P. falciparum é muito baixa, além de ser uma cepa não muito agressiva, e a doença aqui acomete principalmente pessoas na fase adulta, que são mais resistentes, e muito poucas crianças. Por esta razão, o foco da Organização Mundial da Saúde está principalmente direcionado para salvar as crianças na zona geográfica do planeta de maior mobimortalidade. Embora a Morquirix não proteja com segurança de 100% de uma infecção por P. falciparaum (assim como qualquer outro tipo de vacina para outras doenças), mas ajudará fortemente a reduzir os riscos de gravidade. Pelo que se sabe sobre essa vacina, ela evita em 50% a contaminação e 30% a ocorrência de casos graves. É uma vacina pré-eritrocítica, ou seja, impede ou reduz a penetração dos esporozoítos (formas infectantes dos plasmódios) de chegarem até o fígado onde, silenciosamente (sem sintomas), desencadeiam as outras etapas de multiplicação e danos ao organismo. Convém destacar que essa vacina para o Brasil seria desnecessária atualmente, pois as infecções por P. falciparum são menores aqui e carga da doença está concentrada na faixa etária que não confere maiores riscos ao organismo, por isso temos tão poucos casos de morte por malária no país. Obviamente que tendo outro cenário instalado futuramente, será necessário repensar os programas vacinais. Por hora, a OMS está correta em direcionar todos os recursos nos países africanos onde as mortes, especialmente de crianças são mais frequentes.
Leia também sobre O controle integrado da Malária