Um estudo inédito feito por pesquisadores mineiros mostra que o vírus da febre amarela está conseguindo se manter no Sudeste do país. Os resultados, publicados recentemente na revista “Plos Neglected Tropical Diseases”, mostram que isso ocorreu nos últimos três anos. O achado comprovando a circulação do vírus da febre amarela por tempo prolongado fora da Bacia Amazônica, onde o vírus é endêmico, é extremamente importante. O tipo de bioma da Amazônia – com clima quente e úmido e as florestas com a presença de macacos (hospedeiros) e dos mosquitos Sabethes e Haemogogus – é propício para a manutenção do vírus.
Os cientistas analisaram parte dos genomas dos vírus que circularam nas epidemias de 2016-2017 e 2017-2018 no Sudeste. “Achávamos que o vírus de 2018 era o mesmo de 2017, mas não tínhamos provas”, conta a bióloga Betânia Drumond, professora do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e orientadora do estudo, que foi tema de doutorado das alunas do Programa de Pós-Graduação em Microbiologia da UFMG e biólogas Izabela Rezende e Lívia Sacchetto.
“Analisamos parte dos genomas desses vírus e comparamos com outros vírus, como os que circularam em São Paulo em 2016”, explica a orientadora. O que os pesquisadores descobriram foi que todos esses vírus têm uma única origem em comum. “Isso significa que o vírus entrou na região Sudeste e se manteve aqui, disseminando-se para diferentes Estados”, relata. “Tínhamos, eventualmente, surtos no Sudeste e no Sul do país. Mas eram surtos menores, pontuais, em algumas cidades apenas, com distribuição geográfica menor, e durante um ou dois anos somente. A Vigilância Epidemiológica detectava, vacinava (a população) no entorno e, no ano seguinte, não havia mais – ou havia poucos – casos de febre amarela”, explica Betânia.
As descobertas trazem novos questionamentos. “Será que o vírus vai permanecer aqui durante mais tempo?”, indaga. Um tempo mais prolongado pode significar novos surtos no Sudeste. Betânia diz que as autoridades sanitárias do Estado têm monitorado a situação, mas que as pessoas têm que colaborar e se vacinar para prevenir a infecção. A vacina é oferecida nos postos de saúde.
Avanço
Saúde pública. Desde 2016, surtos e/ou epidemias de febre amarela têm ocorrido no Sudeste do país, com mais de 1.900 casos humanos relatados até abril de 2018, segundo o artigo.
Principal hipótese é que origem estaria na região Centro-Oeste
O estudo não conseguiu informações para determinar a origem do vírus da febre amarela que causou as duas últimas epidemias no país, em 2017 e 2018. Mas os pesquisadores levantaram algumas hipóteses. Uma delas, segundo Betânia Drumond, é que o vírus teria vindo do Centro-Oeste. “Estimamos que o ancestral mais recente dos vírus que estão circulando no Sudeste desde 2016 existiu em 2015. Fomos olhar nos boletins do Ministério da Saúde e vimos que houve casos de febre amarela em 2014 e 2015 no Centro-Oeste”, conta Betânia. As informações coincidiam com a estimativa do vírus ancestral em 2015 – o que levantou a hipótese de que a origem poderia ser a região Centro-Oeste. “Isso faz sentido pela proximidade geográfica da região Centro-Oeste com a Bacia Amazônica, onde o vírus é endêmico, e também com o Sudeste”, diz.
Flash
Colaboração. O estudo teve participação de instituições como a Fiocruz/MG e a Funed e foi financiado por CNPq, Fapemig, Capes, European Commission e Institut Pasteur de La Guyane.
Fonte: https://www.otempo.com.br/interessa/estudo-da-ufmg-revela-v%C3%ADrus-da-febre-amarela-persiste-1.1863995