Criado em 2015, no auge da crise nacional de dengue, o programa goiano Goiás Contra o Aedes tem evoluído ano a ano no combate aos focos do mosquito Aedes Aegypti, o que permitiu retirar da situação de alto risco municípios goianos fortemente afetados pela doença. Contando com aparato tecnológico inédito em saúde pública no país, o programa chega ao seu segundo ano com meta de intensificar as visitas domiciliares, necessárias para garantir a prevenção contra o mosquito transmissor de doenças como dengue, zika e chikungunya.
Como foi criado o programa
Na época em que foi criado o programa, em 2015, Goiás concluiu o ano contabilizando mais de 189 mil casos notificados de Dengue, sendo destes, mais de 95 mil confirmados. Esse índice representava um aumento de 51,82% da incidência da doença, em comparação ao mesmo período do ano anterior. Diante desse quadro alarmante, não só no Estado mas em todo país, foi decretado estado de emergência nacional contra a doença. Em Goiás, a resposta veio com a instituição do Comitê Executivo Estadual de combate à doença.
Conforme explica o coordenador de vigilância epidemiológica de dengue, Marcello Rosa, tal comitê, coordenado pela Secretaria da Saúde, foi montado tendo a participação de secretarias afins como Defesa Civil, Educação, Meio Ambiente, Cidadania e Saneago. Para fortalecer a atuação do grupo, foi instalada a sala de coordenação e controle na SES, aos moldes da versão adotada pelo Governo Federal. “Foi um momento crucial para aplicarmos todas as forças no combate ao vetor”, recorda Marcello.
Como funciona o Goiás contra o Aedes?
Em linhas gerais, o Goiás contra o Aedes intensificou as ações de prevenção e combate ao foco do mosquito Aedes Aegypti, mas de uma forma capilarizada, devido à participação conjunta das 18 regionais de saúde e das 42 regionais da Defesa Civil espalhadas por todo o Estado. “Essa parceria criada pelo Núcleo de atuação foi fundamental para se chegar de forma mais incisiva nos domicílios goianos”, ressalta Marcello.
Os agentes de endemias, que em média faziam 25 visitas por dia, viram seu trabalho ser reforçado com a conclamação de demais servidores de outras pastas, nas forças tarefas organizadas uma vez ao mês em cada um dos 246 municípios goianos. Em algumas cidades de menor porte, foi possível percorrer 100% dos domicílios em apenas três dias.
As visitas consistem em identificar os focos do mosquito e combatê-los, além de oferecer à população as recomendações necessárias para se manter em dia esse trabalho preventivo. Além disso, parceria estabelecida com as prefeituras municipais, junto ao setor de limpeza urbana, permitiu que as forças tarefas promovidas fossem incrementadas com a limpeza de terrenos baldios, logradouros e praças públicas, além do recolhimento de entulhos das vias públicas. “Ao promovermos grandes mobilizações em torno do combate aos focos do mosquito, conseguimos retirar municípios do patamar de alto risco de infestação, para fora desta classificação”, pontua o coordenador.
Ganhos com a mobilização
Até 2015, a média anual de visitas domiciliares em Goiás era de 9 milhões ao ano. Segundo o IBGE, Goiás tem em média 2 milhões e meio de imóveis, o que significa que cada domicílio era visitado três vezes por ano pelos agentes de endemias. Com a implantação do Programa Goiás contra o Aedes, em 2016 foram realizadas mais de 16 milhões de visitas; e a expectativa é de que este ano se encerre próximo às 20 milhões de visitas domiciliares.
“Passarmos de 9 milhões para quase 20 milhões de visitas realizadas, em apenas dois anos, é um salto quantitativo considerável. Isso significa que o poder público tem estado presente de forma mais constante com ações preventivas no lar dos goianos. E isso repercute positivamente nas quedas verificadas nas notificações da doença”, reflete Marcello.
No início do programa, em 2016, o índice de infestação em Goiás era em média de 4%, o que significa que a cada 100 imóveis visitados, quatro apresentavam focos do mosquito. No decorrer do ano, com a intensificação das ações de prevenção foi verificada uma redução de 0,15%, que configura baixo índice de infestação. Em 2017, no maior índice registrado foi de 1,24%, aferido no período das chuvas de início de ano. “Em sua totalidade, ficamos abaixo de 1%, o que, segundo o Ministério da Saúde, é classificado como aceitável, de baixo risco”, analisa Marcello.
Inovação tecnológica
Um forte aliado para o bom desempenho do programa Goiás contra o Aedes foi o investimento em tecnologia. A Secretaria da Saúde desenvolveu um sistema informatizado, que disponibiliza meios de se alimentar dados em tempo real, sobre as visitas realizadas pelos agentes de endemias. Inspirado em um programa utilizado pela Defesa Civil no combate aos focos de incêndio, o programa georreferenciado da SES conectou todos os municípios goianos, disponibilizando login e senha, para que as informações coletadas em campo pudessem ser analisadas automaticamente após serem inseridas na plataforma.
Com isso, a cada 30 segundos, o núcleo estratégico da SES recebe atualizações referentes às visitas realizadas, locais onde foram encontrados focos do mosquito, onde não foram possíveis realizar as visitas pois o imóvel estava fechado, e residências livres do mosquito. “Com isso, temos uma visualização imediata dos pontos de maior incidência, onde precisamos dedicar maior esforço no combate”, analisa Marcello.
O tempo gasto para análise e tomada de decisões foi drasticamente diminuído. Antes, o relatório de visita dos agentes comunitários poderia levar até dois meses para ser sistematizado e analisado. Agora, com o sistema online disponível, ele é automaticamente analisado a partir do momento que é inserido no sistema.
O seu desenvolvimento chamou a atenção até do Governo Federal, que já deslocou três ministros de Estado para verem de perto a sua agilidade em fornecer importantes métricas. A intenção é que o governo federal desenvolva um sistema semelhante para disponibilizar em âmbito nacional. Essa é a primeira ação totalmente integrada entre todos os municípios e uma secretaria de estado, em tempo real.