Grande número de casos de leishmaniose em Belo Horizonte merecem atenção

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O mosquito-palha (flebótomo) é o vetor de transmissão da leishmaniose, que vem registrando um grande número de casos em Belo Horizonte (foto: Wikimedia/James Gathany/CDC/Reprodução)

O grande número de casos de leishmaniose visceral em Minas Gerais está chamando a atenção. Até agosto de 2017, foram 31 casos notificados da doença em humanos em Belo Horizonte, dos quais quatro resultaram em óbito. Desde os anos 2000, o pico de ocorrências da doença foi em 2008, quando a cidade registrou 161 casos e 18 óbitos. Segundo a professora Ana Paula Fernandes, pesquisadora da UFMG e do CTVacinas, proporcionalmente, a leishmaniose sempre matou mais do que a dengue.

O Brasil tem, em média, quatro mil casos de leishmaniose em humanos por ano, com uma taxa de mortalidade que gira em torno de 10%. Embora a dengue atinja um número maior de vítimas, a taxa de mortalidade costuma ser menor, ou seja, cerca de 3%. Os dados são da Gerência de Controle de Zoonoses da Prefeitura de Belo Horizonte.

Assim como é feito em relação à dengue, a prevenção da leishmaniose depende da eliminação do vetor. O acúmulo de matéria orgânica nos quintais das casas favorece a proliferação do mosquito-palha (flebótomo). Com isso, são muito importantes as ações de conscientização da população.

Por outro lado, tratamento dos cães infectados é encarado como uma medida individual. Até pouco tempo, o único método aprovado pelo Ministério da Saúde era a eutanásia dos animais. Hoje, existem outras alternativas, como a medicação e o uso de coleira inseticida. “Existe também uma vacina desenvolvida por pesquisadores da UFMG, com eficácia significativa na prevenção da doença e que vem sendo usada também para tratamento. Impedindo a proliferação do parasita, a vacina evita que o cão adoeça e transmita a leishmaniose para humanos e outros animais”, comenta Ana Paula Fernandes.

O diagnóstico precoce dos cães assume importância fundamental na prevenção, já que a cura só é possível dependendo do estágio da doença e das condições de saúde do animal. Por outro lado, a viabilidade do tratamento também esbarra da capacidade do dono de minimizar os riscos de contágio e custear o tratamento. É possível que o cachorro seja medicado por anos sem eficácia, o que acaba sendo um sofrimento para o bichinho.

Controlar os surtos de leishmaniose depende, portanto, de um alinhamento de medidas governamentais junto a ações individuais. “A doença dos cães não pode ser vista como algo isolado: é uma questão de saúde pública”, esclarece a pesquisadora da UFMG.

Ciclo da doença

A leishmaniose é causada por um parasita (protozoário), transmitido pela picada de um inseto conhecido como mosquito-palha. Há vários tipos de leishmaniose no Brasil. As mais comuns são a cutânea, a mucosa, a cutânea difusa e a visceral. Algumas podem atingir tanto humanos quanto cães e outros mamíferos urbanos ou silvestres, como roedores.

A transmissão depende de cães ou roedores infectados. Isso porque no Brasil, o homem não é um hospedeiro eficiente como fonte de infecção para os vetores. Uma vez instalada no corpo, a infecção destrói tecidos e órgãos como a pele, a faringe, a laringe, o baço e o fígado, causando lesões que comprometem o sistema imunológico, a coagulação sanguínea e as funções renais.

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