Leishmaniose volta a crescer em Minas Gerais e já matou mais que dengue

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Uma doença grave, que pode resultar em morte em 90% dos casos quando não tratada adequadamente, volta a ameaçar a saúde pública em Minas. Com dados em queda até 2013, a leishmaniose visceral voltou a crescer no estado, registrando alta de 74% no número de diagnósticos humanos, na comparação com o ano passado. Naquele ano, 319 pessoas tiveram a doença, contra 558 em 2016. E neste ano, até 31 de agosto, 409 pacientes já foram diagnosticados, o que representa 73,2% de todo o ano passado. As mortes provocadas pela doença seguem também no ritmo de alta: foram 37 em 2013, contra 57 três anos depois. Em 2017, até agosto, 43 pessoas perderam a vida pelo agravamento da enfermidade, que atinge também os cães. Para efeito de comparação, até ontem a dengue tinha provocado 13 óbitos neste ano em Minas.

A leishmaniose é causada pelo protozoário tripanossomatídeo Leishmania chagasi. Ela é transmitida por vetores conhecidos como mosquitos-palha, que vivem e se reproduzem em ambientes escuros, úmidos e com acúmulo de lixo orgânico. Ao picar o cão e também o homem, o mosquito transmite a doença. O animal não contamina diretamente a humanos, mas passa a ser um reservatório do protozoário, com potencial para perpetuação do ciclo. Não há, na rede pública, tratamento para o animal. E, como há indicação do Ministério da Saúde de recolhimento e eutanásia, a doença costuma ser uma sentença de morte para o animal.

Em humanos, a leishmaniose visceral causa manchas no corpo, febre, anemia, palidez acentuada e inchaço abdominal, fraqueza e aumento das vísceras – principalmente do baço, do fígado e da medula óssea. Os cães apresentam sinais como emagrecimento, perda de pelos, lesões na pele e, na fase final da doença, crescimento desordenado das unhas.
Diferentemente da dengue, que é uma virose aguda e tem um curso acelerado, os sintomas da leishmaniose demoram mais para aparecer após a infecção. Esse período pode demorar entre 15 e 30 dias, mas a partir dos primeiros sinais é preciso que o diagnóstico seja imediato para evitar complicações. “É uma doença grave, que precisa de atenção muito grande, tanto pelo paciente que deve procurar de imediato um serviço de saúde, quanto pelos profissionais da área, no diagnóstico, tratamento oportuno e adequado e monitoramento da evolução da doença”, afirma o subsecretário de Vigilância e Proteção à Saúde da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, Rodrigo Said, destacando o risco de complicações. “Ela tem um alto potencial de letalidade e pode levar à morte em 90% dos casos, se não for bem tratada”, afirma. Apesar de haver tratamento para humanos, disponível no Sistema Único de Saúde (SUS), o medicamento indicado é potente, gera complicações e exige acompanhamento durante longo período.

A doença é endêmica em Minas, um dos estados brasileiros com maior registro de casos. “Tivemos momentos distintos em relação à leishmaniose nos últimos anos e percebemos uma curva crescente, desde 2013, que mostra a sazonalidade de doenças transmitidas por vetores. Atualmente, estamos tendo alta densidade do vetor e condições favoráveis para infecção, como a proximidade de pessoas das regiões com transmissão, mudanças no regime de chuvas, presença de matéria orgânica úmida, que favorece a reprodução do vetor, entre outros”, explica o subsecretário.

Até 2012, as regiões com maior número de casos humanos em Minas eram a Grande Belo Horizonte e as regiões de Montes Claros e Leste do estado. Daquele ano em diante, o Vale do Aço passou também a concentrar registros.

Sacrifício animal é maior polêmica

Assunto que provoca divergência entre autoridades sanitárias e representantes de entidades de defesa dos animais, a eutanásia de cães com leishmaniose é prevista pelo Ministério da Saúde, que determina diretrizes para o procedimento. Por meio da Resolução 1.000/2012, o Conselho Regional de Medicina estabelece critérios e o tipo de medicamento a ser usado para evitar sofrimento do animal, que é sedado antes de morrer.

Porém, médicos veterinários como Amanda Brito Wardini, assim como entidades de defesa dos animais, são contra a eutanásia. Para Amanda, o procedimento em nada melhora o controle epidemiológico. “Sou totalmente contra a eutanásia quando é feita para o controle epidemiológico, pois já está provado que não é um método adequado. Sou a favor do tratamento, inclusive foi liberado recentemente pelo Ministério da Saúde o medicamento. É mais um motivo para tratar os animais”, afirmou. “As pessoas têm que se conscientizar de que se pode tratar. Vejo muitas preocupadas e com pânico de deixar agentes da prefeitura entrar em casa e pegar o cachorro. Não existe isso, o tratamento está liberado. Se der positivo o exame, elas devem procurar um veterinário e se informar sobre o tratamento”, completou.

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A posse responsável de cães também deve ser adotada sempre, já que o animal abandonado está mais suscetível a ser infectado pelo vetor. Em Belo Horizonte, a estimativa da Secretaria Municipal de Saúde é de que 10% da população canina (que era estimada em 266,2 mil animais no ano passado) esteja abandonada nas ruas.

Para Amanda Wardini, o abandono de animais passa pela falta de educação e responsabilidade das pessoas que têm cães. “As pessoas precisam se educar para ter animais de estimação. Tem abandono até quando o animal está doente, o que ainda é mais grave. A castração e o controle populacional são fundamentais para controlar esse precedente. Mas os municípios não conseguem dar conta da demanda. Em Belo Horizonte, o número de animais castrados é muito menor que o necessário”, criticou.

Como forma de prevenção da doença, o subsecretário de Vigilância e Proteção à Saúde da Secretaria de Estado de Saúde Rodrigo Said afirma que o ministério tem um manual de vigilância e controle, com ações relacionadas a diagnóstico, tratamento de pacientes e prevenção (veja arte). Como medida de prevenção, as pessoas devem evitar o acúmulo de resíduos sólidos, fezes de animais, folhas secas e outros substratos que favoreçam a reprodução do mosquito-palha. Também deve-se instalar telas em canis, portas e janelas de casa, além de usar coleiras impregnadas de inseticida nos animais – próprias para a prevenção. Diante de qualquer sintoma, pacientes com suspeita da doença devem procurar um serviço de saúde.

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