Por Marcelo Pereira
Realizada entre 21 e 24 de outubro de 2025, em Orlando, Flórida (EUA), a PestWorld confirmou o que muitos especialistas já previam: o setor de controle de pragas está entrando definitivamente na era da inteligência artificial, do monitoramento em tempo real e da sustentabilidade.
Mais do que uma feira de produtos, o evento foi um retrato vivo da transição tecnológica e cultural pela qual o Manejo Integrado de Pragas (MIP) está passando no mundo todo. Com mais de 200 expositores de 20 países e uma área de exposição de 9.300 m², a PestWorld 2025 reuniu milhares de profissionais, pesquisadores e fabricantes, consolidando-se como o principal evento global do setor.
O Brasil também marcou presença com um grupo de 11 representantes, formado por empresários e profissionais do setor de controle de pragas. Ficamos impressionados com o poder do associativismo no exterior e de como a ABCVP e a Feprag RS estão seguindo bem esse exemplo, fazendo parcerias com associações internacionais e incentivando seus associados a participar de eventos como a PestWorld, sendo representantes brasileiros na reunião Global Pest Management Coalition (GPMC). A Ultralight teve o orgulho de apoiar essa iniciativa, contribuindo para que o grupo participasse da feira e se hospedasse em um hotel próximo ao local do evento — um gesto de incentivo à troca de conhecimento e à valorização do setor brasileiro em um dos maiores palcos mundiais da área.
Inspiração e conhecimento nas palestras
As palestras da PestWorld 2025 mostraram um setor em transformação, no qual ciência, tecnologia e comportamento humano caminham juntos. O congresso contou com mais de 70 sessões educacionais (educational sessions), distribuídas em trilhas temáticas como fumigação, saúde pública, manejo técnico, segurança, pragas armazenadas, insetos de madeira, gestão e liderança.
Foram abordados temas como resistência a rodenticidas, saúde pública, biossegurança, mudanças climáticas, novas regulamentações e aplicação prática da inteligência artificial. Apesar do avanço tecnológico apresentado, ainda é evidente que há um longo caminho a percorrer — as soluções baseadas em IA e monitoramento remoto estão evoluindo, mas os custos continuam altos e a acurácia na identificação de pragas ainda precisa melhorar.
Entre as apresentações internacionais, vale mencionar a do pesquisador brasileiro Carlos Peçanha, do Mosquito Research & Control Unit das Ilhas Cayman e diretor da ABCVP – Associação Brasileira de Controle de Vetores e Pragas. Ele apresentou uma visão ampla sobre o papel dos mosquitos na história da humanidade, os desafios atuais das arboviroses e novas estratégias de controle, como a liberação de mosquitos estéreis, infectados com Wolbachia ou portadores de genes letais. Sua fala reforçou a complexidade do manejo vetorial e a importância de combinar ciência, tecnologia e políticas públicas para alcançar resultados duradouros.
O congresso deixou claro que o controle de pragas está se tornando uma disciplina cada vez mais conectada à segurança de alimentos, saúde pública e sustentabilidade, mas também mostrou que o ritmo de adoção tecnológica ainda varia bastante entre os países.
Empresas e tecnologias que foram destaques
O pavilhão de exposições foi um mosaico de ideias e soluções em diferentes estágios de maturidade tecnológica. Entre as inovações apresentadas estavam armadilhas digitais com sensores conectados à nuvem, capazes de registrar e enviar dados em tempo real; plataformas integradas de IoT que permitem monitorar roedores, insetos e moscas em um único sistema; e soluções baseadas em IA para identificação automática de pragas — ainda com limitações de precisão, mas promissoras.
Também chamaram atenção os avanços em feromônios de liberação controlada para pragas de grãos armazenados e os sistemas automatizados de monitoramento de mosquitos, que simulam a respiração humana por meio de emissão de CO₂ e utilizam câmeras e algoritmos para reconhecimento de espécies.
Na área de controle de aves, foram apresentadas soluções de repelência automatizada com sensores e laser, além de métodos contraceptivos para pombos, ainda em fase de adoção em vários países e com barreiras culturais no Brasil.
Essas tecnologias mostram que o setor caminha para uma nova era de monitoramento contínuo, análise de dados e intervenções baseadas em evidências, mas ainda enfrenta desafios em custo, viabilidade e adaptação à realidade de mercados emergentes.
A realidade brasileira e o desafio da integração tecnológica
Embora as tendências apresentadas na PestWorld apontem para o futuro, o Brasil ainda está nos primeiros passos na adoção dessas tecnologias. O uso de armadilhas inteligentes no país é praticamente inexistente, e a maioria dos softwares de gestão de controle de pragas ainda oferece recursos limitados ou pouco integrados às exigências das indústrias de alimentos.
Uma exceção é o sistema iGEO ERP, representado no Brasil pela Ultralight. A plataforma já permite a integração do MIP com o APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle) e também com armadilhas inteligentes, conectando dados de captura, localização e tendência diretamente ao sistema de gestão. Essa funcionalidade facilita a rastreabilidade e a tomada de decisões baseadas em evidências, atendendo aos requisitos das principais normas internacionais de segurança de alimentos, como FSSC 22000, BRCGS, IFS e SQF.
Essa convergência entre tecnologia, gestão e segurança de alimentos representa o caminho natural para o fortalecimento do setor no Brasil. O futuro do MIP depende dessa integração: dados confiáveis, rastreabilidade e decisões cada vez mais orientadas por análise e prevenção.
Uma nova era para o MIP: dados, ética e sustentabilidade
A PestWorld 2025 mostrou que o manejo de pragas caminha para um modelo preventivo e baseado em evidências, no qual a coleta e análise de dados são o centro das decisões. A tecnologia permite monitorar mais e aplicar menos, reduzindo o impacto ambiental e aumentando a eficiência operacional.
No entanto, a grande lição do evento é que a tecnologia por si só não resolve o problema — ela é uma ferramenta poderosa, mas depende de pessoas qualificadas, de análise crítica e de uma cultura de prevenção bem estruturada.
O futuro do controle de pragas será construído com ética, ciência e sustentabilidade, mas principalmente com responsabilidade compartilhada entre quem fabrica, quem aplica e quem fiscaliza.
Conclusão
A PestWorld 2025 não foi apenas uma vitrine de produtos — foi uma oportunidade de reflexão sobre o papel da tecnologia e da inteligência humana no futuro do Manejo Integrado de Pragas. O evento mostrou que a inovação é importante, mas que o verdadeiro avanço está em usar o conhecimento para agir de forma mais inteligente, preventiva e sustentável.
Volto para o Brasil com a certeza de que o próximo passo é unir ciência, inovação e propósito, adaptando as melhores práticas globais à nossa realidade — com os pés no chão, mas o olhar no futuro.






