Pombas levam morte nos Correios

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JOANICE DE DEUS
Da Reportagem

A triagem e entrega de pelo menos dois milhões de correspondências ou encomendas ficaram comprometidas com a greve dos cerca de 300 trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios, que atuam na Central de Distribuição, localizada no Bairro Cristo Rei, em Várzea Grande. A categoria paralisou as atividades após um colega de trabalho ter a morte cerebral confirmada por conta de insalubridade no local.

Internado há 15 dias em um hospital particular de Cuiabá, Celso Luiz Gomes, 47 anos, foi vítima de neurocriptococose, doença contraída por vias respiratórias ao inalar fungos encontrados nas fezes de pombos. Ele trabalha nos Correios há 23 anos e, atualmente, atuava como coordenador do setor. É casado e tem uma filha. Além do Estado, a central do Cristo Rei faz a triagem de correspondências de Rondônia e Tocantins.

“A paralisação é por tempo indeterminado até que a empresa atenda as reivindicações dos trabalhadores e tome as medidas necessárias quanto ao problema de insalubridade na Central de Distribuição”, informou o dirigente sindical do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios de Mato Grosso (Sintect), Anderson Carlini.

Conforme ele, a categoria cobra a interdição e a desinfecção completa do prédio. “O local está repleto de pombos e os funcionários correndo o risco de ficarem doentes”, alertou. Segundo ele, o temor é que outros funcionários possam ser ou já terem sido contaminados uma vez que os sintomas da doença podem surgir até um ano após a pessoa ter sido infectada. Eles pretendem fazer exame laboratorial para diagnóstico ou não de possível contaminação.

Carlini afirmou ainda que vários ofícios informando sobre a infestação de pombos e cobrando medidas já foram encaminhados à direção dos Correios, mas que nada foi feito. “Há mais de um ano estamos notificando a respeito disso. Nunca fazem nada. A diretoria tem que reconhecer que precisa fazer um processo de limpeza e verificar junto a empresas especializadas uma forma de impedir que esses pombos tenham acesso ao interior do prédio”, cobrou.

Por meio da assessoria de imprensa, a diretoria dos Correios lamentou o ocorrido e esclareceu que tem prestado suporte à família de Celso Luiz, bem como aos demais empregados e colegas de trabalho.

Os Correios garantiram ainda que atuam para evitar a infestação de pombos em todas as suas unidades, sendo que as medidas respeitam a Legislação Ambiental. “Essas ações incluem desde proteção com telas em locais de maior vulnerabilidade, instalação de cortinas de borrachas em portas de entrada, repelentes para evitar o pouso dos animais, além da instalação de equipamento sonoro ultrassônico com objetivo de espantar as aves”, informou.

Conforme a empresa, as medidas vêm sendo tomadas em alinhamento às demandas apontadas pela Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) e têm dado resultado, “tanto que nas atas recentes não há registro de reincidência sobre o assunto”.

“Com relação à unidade onde o empregado trabalha, além das ações citadas, outras medidas serão desenvolvidas em caráter prioritário, desde a limpeza geral das torres e dos condicionadores de ar do prédio à realização de exames preventivos nos empregados”, afiançou.

OUTROS LOCAIS – Em Cuiabá e Várzea Grande, há vários locais, como praças e escolas, com infestação desses pássaros. Entre esses espaços públicos, estão as Praças Ipiranga, Alencastro e da República. Neste último caso, funciona a agência Central dos Correios, os trabalhadores também convivem com a presença indesejada dos pombos.

Símbolos da paz, os pombos podem transmitir mais de 50 doenças, segundo as autoridades ligadas à área da saúde. A maioria delas, como a salmonelose, criptococose, a histoplasmose e a meningite, pode ser provocada pela inalação de fungos ou bactérias que saem destes pássaros e de suas fezes secas.

Porém, apesar de sua grande população, os pombos são considerados animais domésticos e são protegidos. A Lei 9605/1998 determina que maltratar, ferir ou matar estes animais seja crime ambiental e a pena pode variar de multas até cinco anos de reclusão.

Para reduzir o número de indivíduos, a solução mais efetiva é diminuir a oferta de alimento e abrigo, fatores que possibilitam a sobrevivência destes pássaros.

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