A prefeitura de Porto Alegre já encaminhou 11 cães para eutanásia após diagnóstico de leishmaniose desde o início do ano. O procedimento não é obrigatório em casos como esse, mas costuma ser a escolha de quem não tem como custear o tratamento dos cães. Em 2019, 56 animais, de diferentes regiões da cidade, já foram examinados pela Coordenadoria Geral de Vigilância em Saúde (CGVS) por suspeita da doença.
No ano passado, amostras de 1.079 cães foram coletadas para testes sobre o protozoário. Destes, 137 foram diagnosticados com leishmaniose. Os cachorros são considerados “reservatórios domésticos” da doença, mas não precisam ser sacrificados em caso de confirmação da patologia. Existe a opção por tratamento, mas o valor, a partir de R$ 1.000,00, e o risco de novas contaminações acabam pesando na decisão dos proprietários.
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Se optar pela eutanásia do animal de estimação, o responsável pode escolher entre clínicas particulares, que cobram pelo serviço, ou pela equipe de Vigilância de Antropozoonoses da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), que realiza o procedimento sem custos.
Este foi o caso de um servidor público estadual que reside no bairro Vila Nova, na zona sul da capital. Dono de seis cães, três já tiveram encaminhamento para eutanásia neste ano, e outros três aguardam diagnóstico, podendo ter o mesmo destino.
– Dois dos que já sofreram eutanásia eram um casal de pastores alemães, de dez meses. Eu e minha esposa os considerávamos nossos companheiros. Imagina a dor de se desfazer – lamenta o proprietário, que pediu para não ser identificado.
Nas proximidades da residência, outros 16 animais tiveram amostras de sangue coletadas em 2019. Destas, seis reagiram ao teste rápido e foram enviadas para o exame final, ainda sem resultado.
A eutanásia em animais que constituam ameaça à saúde pública é indicada pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) na resolução nº 1.000, de 2012. A coordenadoria não sabe ao certo quantos cães já foram sacrificados por conta da doença, já que a opção pelo procedimento é decidida pelos proprietários.
“Proprietários de animais têm a liberdade de levar os mesmos para atendimento em médicos veterinários particulares, seja para tratamento, seja para eutanásia”, afirma a CGVS, em nota.
Leishmaniose visceral pode infectar seres humanos
A leishmaniose visceral é uma zoonose crônica e infecciosa que não tem cura, causada por protozoários do gênero Leishmania. É transmitida pela picada do mosquito-palha e atinge principalmente cães, mas o inseto infectado também pode picar humanos. A doença não é transmitida diretamente de uma pessoa para outra, nem dos cães para os humanos.
Em pessoas, os sintomas são febre por mais de sete dias, aumento do tamanho do baço e do fígado, acompanhados ou não de palidez e emagrecimento. Neste ano, dois casos de leishmaniose foram notificados em seres humanos em Porto Alegre. No entanto, como o início dos sintomas dos pacientes foi em 2018, os casos são contabilizados como do ano passado. Entre 2016 e 2018, 12 pessoas contraíram a patologia na Capital.
Nos cães, o protozoário se manifesta causando emagrecimento do animal, feridas, descamação da pele e perda de pelos. O tratamento nos cachorros reduz os sinais clínicos, mas não garante a eliminação total da doença.
Entre as medidas preventivas, estão o uso de repelentes, a limpeza do ambiente e uso de coleiras com inseticida pelo cães.