Representantes do Ministério da Saúde, técnicos e pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e das secretarias municipais e estadual de Saúde estiveram reunidos nesta terça-feira (16) para discutir estratégias para implementação do projeto que utiliza mosquitos geneticamente modificado para fazer o controle da dengue, zika e chikungunya, doenças transmitidas pelo Aedes aegypti. Campo Grande é a primeira cidade a integrar a nova fase da pesquisa utilizando mosquito infectado com a bactéria “Wolbachia” capaz de inibir a transmissão das doenças. Os municípios de Belo Horizonte (BH) e Petrolina (PE) também devem fazer parte do estudo .
Segundo o pesquisador da Fiocruz, Luciano Moreira, o primeiro passo é iniciar um planejamento estratégico que envolve desde a definição territorial e de logística à orientação e consulta popular, seguindo os protocolos éticos pré-definidos.
“Inicialmente é necessário que a população conheça e entenda qual a finalidade do projeto. Por isso é necessário que haja uma ampla divulgação em todos os setores, em especial entre as lideranças comunitárias e nas escolas. É preciso ainda difundir sobretudo a ideia de que essa é uma ferramenta a mais no enfrentamento às arboviroses que por sua vez não substituí as demais ações e que não traz riscos de contaminação por outros vírus, questionamento bastante comum”, diz.
O pesquisador explica que simultaneamente a fase de mobilização deve ser iniciada a fase de criação dos mosquitos que devem ser posteriormente soltos na natureza em forma adulta ou de ovos, em pontos considerados estratégicos. A proposta é capturar mosquitos “nativos” que serão encaminhados para um laboratório em Belo Horizonte onde serão infectados com a bactéria e multiplicados para posteriormente serem reintroduzidos.
“Esse mapeamento também deve ser feito nessa fase inicial do projeto. Precisamos saber a áreas mais críticas e com melhor potencialidade para que haja maior eficácia na introdução do mosquito infectado. A Wolbachia é passada naturalmente das fêmeas para os filhotes, o que garante uma autossustentabilidade não sendo necessário a introdução permanente de novos insetos.”, esclarece.
O secretário municipal de Saúde, José Mauro Filho, acredita que é posteriormente é possível se pensar em se criar uma estrutura própria em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde, o que tornaria Mato Grosso do Sul referência para os estados e países vizinhos para uma futura difusão desta tecnologia.
“A partir deste estudo, Mato Grosso do Sul pode se tornar referência e quem sabe o caminho seria investirmos em uma biofábrica para que possamos avançar ainda mais”, disse.
A partir da reunião realizada nesta terça-feira está sendo deliberada a criação de um comitê gestor que vai reunir integrantes do Ministério da Saúde, Fiocruz, secretarias municipal e estadual de saúde e será responsável por conduzir os trabalhos.
A expectativa é de que o projeto comece efetivamente na prática ainda no segundo semestre deste ano, dado o cumprimento das fases pré-estabelecidas.
Wolbachia
Wolbachia é uma bactéria amplamente presente entre os invertebrados e pode ocorrer naturalmente em até 60% de todos os insetos do mundo, incluindo borboletas e diversos mosquitos, como o Culex, o comum ‘pernilongo”.
O estudos da introdução da bactéria no Aedes aegypti tiveram início em 2005 na Austrália, onde foi constatado a potencialidade na inibição das arboviroses.
A tecnologia foi introduzida nas pesquisas desenvolvidas pela Fiocruz no Brasil e em 2014 testes foram realizados em Niteroi, no Rio de Janeiro, sendo comprovada a sua eficácia.