A cada 4 dias é registrado um caso de leishmaniose visceral humana na capital maranhense. Foram 48 casos da doença em 2018. Dois evoluíram para óbito. A doença, chamada também de calazar, é mais conhecida por infectar cães. A informação tem como base o levantamento repassado a O Estado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES) sobre o número de ocorrências da doença entre 1º de janeiro e 3 de julho deste ano.
A pasta estadual não informou em que dia exato e em quais locais ocorreram as mortes na cidade. Em determinados bairros, como Monte Castelo, Turu, Centro e adjacências, é possível ver a incidência de animais soltos nas ruas e avenidas. Em alguns casos, externam coceira que podem vir a se caracterizar como sintomas da leishmaniose.
“O ideal é que estes animais fossem levados para centros especializados, que houvesse a análise completa de seu organismo para se saber, por exemplo, qual o seu histórico familiar e quais as chances de ter sido contaminado”, disse o presidente da Associação de Clínicos Veterinários de Pequenos Animais (Anclivepa), Renan Nascimento Morais.
Animais infectados
Até 2015, de acordo com dados da UVZ, eram 15 mil animais soltos nas ruas da cidade e que, portanto, sem as condições ideais sanitárias, poderiam ser transmissores da doença. Atualmente, segundo dados do serviço, de 5% a 7% da população canina e felina da cidade vive nas ruas e está abandonada.
No total, ainda segundo informações da unidade do Município de São Luís, são aproximadamente 160 mil cães e gatos na cidade. Deste quantitativo, mais de 60% são apenas cachorros.
Disseminação
Há duas versões para entender o início da disseminação da doença no estado. Há um argumento defendido por determinados estudiosos no assunto que apontam para o nascedouro da leishmaniose entre as décadas de 1930 e 1940. À época, além do Maranhão, estados como o Piauí e o Ceará também foram atingidos pelo transmissor.
Outra versão defende que o primeiro surto da doença ocorreu em meados da década de 1980. Na ocasião, de acordo com dados da Fundação Nacional de Saúde, mais de 71 mil casos de calazar foram registrados somente na Ilha de São Luís. Além da capital, na ocasião, cidades como São José de Ribamar e Paço do Lumiar também apresentaram dados da doença.
No fim da década de 1980, houve expansão da doença, em especial em áreas consideradas periféricas da Ilha. As condições destas localidades, muitas vezes sem a infraestrutura sanitária necessária e tomada por diversas ocupações sem qualquer controle urbano, as transformaram nos principais criadouros do transmissor da enfermidade.
Atualmente, estima-se que aproximadamente 350 milhões de pessoas no mundo vivam em áreas consideradas de risco para a leishmaniose. A doença, inclusive, já foi diagnosticada em cerca de 88 países. Do total de casos, a concentração maior estaria na Índia, Bangladesh, Nepal e Sudão, além do Brasil.
Letalidade
Além da disseminação no número de casos, a taxa de letalidade da doença no país somente aumenta, com base em dados do Ministério da Saúde (MS). De acordo com a pasta, se em 2007 o índice de mortes a partir do quantitativo de registros era de 5,4%, nos últimos anos, esse percentual subiu para quase 8%. Em média, segundo dados da pasta, são registrados aproximadamente 3 mil novos casos de leishmaniose por ano.
O ideal é que estes animais fossem levados para centros especializados, que houvesse a análise completa de seu organismo para se saber, por exemplo, qual o seu histórico familiar e quais as chances de ter sido contaminado”Renan Nascimento Morais Veterinário e presidente da Anclivepa
Sobre a doença
De acordo com especialistas, enquanto a leishmaniose tegumentar (ou do tipo cutânea) é caracterizada por “erupções graves na pele”, a do tipo visceral – ou calazar – é prejudicial a órgãos considerados vitais para o organismo humano, como fígado e baço. Independentemente do tipo, a leishmaniose – segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) – é considerada uma das doenças tropicais (pelo aspecto geográfico dos registros da doença) relacionadas a protozoários de maior relevância mundial, após a malária.
A leishmaniose é transmitida pela picada do mosquito-palha infectado, e o cão doméstico pode ser hospedeiro do parasita. A evolução da doença, na maior parte dos casos, é crônica e – caso não seja tratada – pode levar à morte em até 90% dos registros.
Ainda segundo os infectologistas, o período de incubação da doença – geralmente – é de 3 a 18 meses. Mas, segundo os médicos, quanto mais rápido for o diagnóstico, maiores são as chances de cura. De acordo com dados da Secretaria Estadual de Saúde (SES), nos últimos anos, a taxa de eficácia no tratamento da doença foi de 56%.
Sintomas principais
Entre os sintomas estão febre, palidez, emagrecimento, tosse, calafrios, vômitos, diarreia, além de dores de cabeça.
Dia de controle
Criada pelo Governo Federal a partir da Lei número 12.604, de 2012, a Semana Nacional de Controle e Combate à Leishmaniose foi instituída tendo como objetivo estimular ações educativas e preventivas e, desta forma, promover debates sobre as políticas públicas de vigilância da doença. A iniciativa também deve, neste caso, apoiar atividades da sociedade civil e difundir os avanços relacionados à prevenção e combate da enfermidade.
Nota da SES
A Secretaria de Estado da Saúde (SES) informa que 48 casos foram confirmados de Leishmaniose Visceral, em São Luís, entre 1º de janeiro até 3 de julho de 2018. Destes, dois casos evoluíram para óbito.
Como parte das ações de responsabilidade do Estado, a Secretaria comunica que realiza atividades permanentes como:
1. Fornecimento de teste rápido humano para diagnóstico da leishmaniose visceral humana para todas as unidades
2. Fornecimento de teste rápido canino para a Unidade de Vigilância de Zoonoses (UVZ)
3. Fornecimento de inseticida para ações de controle vetorial
4. Orienta e libera o uso racional da Anfotericina B Lipossomal para tratamento dos pacientes, seguindo critérios do Ministério da Saúde
5. Treinamento para médicos e enfermeiros
Fonte: https://g7ma.com/sao-luis-leishmaniose-pode-ter-epidemia/