O mosquito transmite doenças como o zika, o dengue, a malária ou a febre amarela. Anna-Bella Failoux, diretora de pesquisa do Instituto Pasteur em Paris, analisa estes organismos no seu microscópio para aprender a combatê-los. Já lá vão 20 anos.
“Tentamos perceber qual é o ponto fraco da dupla mosquito/vírus”, explica, advertindo de antemão que “não há uma solução milagrosa. Mesmo se afogássemos o planeta num pote de inseticida”, estas doenças não desapareceriam.
Por ocasião da publicação do livro “Geopolítica do mosquito” em França, na segunda-feira, de Erik Orsenna, embaixador do Instituto Pasteur desde 2016, a investigadora e a sua equipa abriram as portas do Instituto ao universo destes seres minúsculos e letais.
Nas estantes do Instituto encontram-se frascos com mosquitos em todos os estados de desenvolvimento: ovos, larvas, ninfas e adultos de Aedes Albopictus e Aedes Aegypti, espécies responsáveis pela transmissão de várias doenças aos seres humanos.
Os exemplares são capturados com um aspirador de pó portátil e são depois transportados em tubos de cartão furados e cobertos de tule, para que não fujam. Caso isso aconteça, o kit inclui uma raquete elétrica para prevenir eventuais danos. Já no laboratório, quando os vírus são inseridos nos mosquitos, há todo um processo que se realiza num laboratório de grau de segurança P3, explica Failloux.
Há 20 anos que esta entomologista disseca estômagos, glândulas salivares e ovários de mosquitos fêmea (as únicas que picam) para entender como os vírus que as infectam se comportam, e porque é que determinada espécie pode transmitir certos patógenos e não outros.
Os trabalhos do laboratório já permitiram confirmar a responsabilidade do mosquito Aedes Aegypti nas epidemias de Zika, no Brasil.
Da mesma forma, o vínculo entre o Zika e a microcefalia conseguiu ser estabelecido rapidamente graças ao trabalho de investigadores sobre a epidemia ocorrida dois anos antes na Polinésia, explica Jean-François Chambon, diretor de comunicação do Instituto.
Jean-François Chamber ressalta ainda a importância destes trabalhos. “Precisamos de equipas que trabalhem e que se mantenham mobilizadas em temas que podem não parecer perigosos em termos de saúde pública, mas que com o tempo podem chegar a ser”, adverte.
Erik Orsenna, o cavalheiro da entomologia médica
O “passeio” de Erik Orsenna, embaixador do Instituto Pasteur, pelo mundo dos mosquitos transformou-o no “cavalheiro da entomologia médica”, escreve a AFP.
No seu livro, escrito a quatro mãos com a médica Isabelle de Saint Aubin, lançado em França, o investigador escolheu o mosquito como “personagem” para ilustrar a globalização dos desafios de saúde.
Orsenna lista também estratégias de luta dos investigadores, na medida em que os mosquitos, vírus e parasitas desenvolvem novas resistências aos tratamentos e inseticidas. Entre as mais promissoras está a de inocular a bactéria Wolbachia no inseto para evitar que o vírus se reproduza.
Há, ainda, outras possibilidades em estudo, como a modificação genética para tornar os mosquitos estéreis ou melhorar o seu sistema imunológico, embora estas estratégias não agradem a todos os especialistas devido à falta de garantias sobre os seus efeitos.