Sem solução para evitar besouro metálico, BH perde uma árvore atacada pela praga por dia

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Pelo menos uma árvore de grande porte deixa de existir, diariamente, em Belo Horizonte. Só nos últimos dez meses, 300 foram suprimidas após serem atacadas pelo besouro metálico. A praga urbana ainda pode ameaçar outros exemplares, já que os trabalhos de vistoria não foram finalizados.

As espécies mais atacadas são munguba, paineira, barriguda, embaré e imbiruçu, segundo a Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SMMA). O problema é a larva do besouro, que mede até 12 centímetros. Ela come o miolo da árvore e as raízes. Em seguida, as árvores ficam frágeis e há risco de queda.

Um exemplo da perda de arborização devido à presença do inseto pode ser visto na rua Diabase, no bairro Prado, Oeste da capital. Só em um trecho da via com menos de 100 metros, 12 árvores foram cortadas. A mesma ação ocorreu recentemente em ruas dos bairros Anchieta e Cruzeiro, na região Centro-Sul de BH.

Segundo a engenheira florestal Marina de Souza, a recomendação é que não se plante na cidade mais de 10% de uma mesma espécie

Desde setembro do ano passado, mais de 3 mil árvores foram vistoriadas por técnicos da SMMA. Em muitos casos, a única alternativa foi a supressão. “Para a árvore que já teve o tronco degradado, não tem jeito. O melhor a fazer é a retirada, porque oferece risco. A prefeitura tem estudado algumas alternativas, mas o controle manual do besouro também vai evitar que novas árvores sejam infectadas”, explica a engenheira florestal da Cemig Marina Moura de Souza.

Ela salienta que a legislação brasileira não permite que produtos químicos sejam utilizados para controlar pragas no ambiente urbano. Mesmo que fosse possível, seriam necessários novos estudos para definir as ações.

Árvore podada, cortada no bairro Prado

Motivos

Para o professor do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, João Renato Stehmann, um dos fatores que contribuiu para que a infestação se alastrasse foi o manejo equivocado. Segundo ele, a arborização da cidade não recebeu o tratamento adequado no passado.

“A infestação se dá por rachaduras nos troncos. A gente está pagando o preço pelas podas indiscriminadas”, avalia.

Outro problema citado pelo professor é que as árvores são cortadas, mas o toco do tronco e a raiz permanecem.

“A questão é que tem um custo para retirar o tronco, tem que trazer uma máquina. A remoção e a eliminação das larvas que estão nesse tronco é importante para evitar a contaminação de outras árvores”, explica.

Já o biólogo da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), Francisco Mourão Vasconcelos, reforça que é fundamental diversificar as espécies plantadas na capital.

Além disso, ele cobra que a prefeitura invista em pesquisa, em parceria com universidades, para encontrar novas soluções, evitando a derrubada.

Sem resposta

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente foi procurada pela reportagem para responder algumas questões relacionadas às árvores suprimidas. No entanto, a pasta não retornou até o fechamento da edição desta qquarta-feira (12). Veja as questões sem resposta:

– Quando uma árvore é infectada pelo besouro metálico, há outra solução que não seja a poda completa?

– Quais medidas a PBH/Secretaria de Meio Ambiente têm feito para impedir a proliferação do besouro?

– É possível enviar os laudos que atestaram que as árvores cortadas estavam condenadas?

– Por que as árvores cortadas não são retiradas pela raiz, e no lugar plantada outra árvore? Há alguma limitação para que a raiz não seja retirada?

– Nos locais onde foram cortadas as 300 árvores, recentemente, outras já foram plantadas?

– Qual a atual situação do inventário das árvores de BH? Quantas catalogadas? Quantas pertencentes à família bombacaceae, conhecidas como munguba, paineira, barriguda, embaré e imbiruçu, que são as espécies mais atacadas pelos besouros metálicos?

– Quantas árvores foram suprimidas em função da mosca-branca em BH? Foram apenas os fícus ou a praga atingiu outras espécies? A mosca branca foi erradicada em BH?

Árvore podada, cortada no bairro Prado

Árvores foram podadas uma atrás da outra em rua do Prado

Além Disso

Inaugurada em 1897, a capital mineira ficou conhecida, nacionalmente, como “Cidade Jardim”. Conforme o artigo “À sombra dos fícus: cidade e natureza em Belo Horizonte”, da professora do Departamento de História da UFMG, Regina Horta Duarte, em 1930 houve a primeira poda dos fícus da avenida Afonso Pena. Mas foi na década de 1960 que as espécies foram suprimidas. Primeiro, na Praça 7 em 1962 e, depois, no restante da avenida.

A justificativa para o corte foi um inseto chamado tripe. Na época, houve muita polêmica. Quem se opunha à medida acusou a prefeitura de ter “plantado” os insetos para retirar as árvores e aumentar a largura das pistas da avenida.

Outros cortes de árvores que ganharam repercussão ocorreram em 2014. Os fícus centenários das avenidas Bernardo Monteiro e Barbacena, na região Centro-Sul, foram atacados pela mosca-branca. Dezenas de árvores foram podadas ou mesmo suprimidas. A administração municipal tentou utilizar um inseticida natural, chamado Neem, mas não houve sucesso.

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