O novo coronavírus trouxe muitas mudanças no dia a dia. Máscaras tornaram-se itens onipresentes até mesmo fora dos hospitais. Já dentro do serviço de saúde, há a necessidade e o uso desse utensílio e também de outros equipamentos de proteção pessoal, como avental, luvas e óculos. A questão é que a necessidade aumentou no mundo inteiro e a produção não dá conta da demanda.
Diante disso, preocupações sobre como se proteger e desinfectar roupas, objetos e ambientes de forma correta e eficaz ganharam importância e o uso da radiação ultravioleta apareceu como uma opção. Essa tecnologia é usada há mais de um século para esterilização de hospitais, aviões, escritórios, fábricas e água – onde seu uso começou. Ela é fundamental para higienizar água potável, pois alguns parasitas são resistentes a desinfetantes químicos.
Embora não tenha havido nenhuma pesquisa sobre a eficácia da radiação artificial UVC contra o Sars-Cov-2, estudos anteriores mostraram sucesso em destruir o Sars. Como resultado, seu uso entrou na linha de frente na luta contra o novo coronavírus. No final de março, o Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP cedeu à Santa Casa da Misericórdia da cidade rodos UV-C para a descontaminação dos pisos do hospital, de acordo com informações do Jornal da USP. Na China, ônibus inteiros são esterilizados com essa tecnologia. Emissores de UVC limpam o chão dos hospitais em diversos países e até alguns bancos usam essa luz para desinfetar dinheiro.
Agora, ela começa a ser testada inclusive para a esterilização de equipamentos de proteção pessoal (EPIs), como máscaras N95 e aventais. Recentemente, emitiu novas orientações sobre métodos de descontaminação dessas máscaras em situações de emergência, como as enfrentadas na atual pandemia de Covid-19 e o uso de radiação UVC está entre as opções.CONTINUA APÓS PUBLICIDADE
Essa radiação elimina vírus, bactérias e outros micro-organismos porque consegue penetrar nas células desses patógenos e seu código genético. Também há evidências de que os raios ultravioleta podem danificar os aminoácidos e proteínas que protegem o vírus ou permitem que ele se ligue e infecte uma célula hospedeira. “Essa tecnologia é conhecida e estudada desde 1908. Tudo o que estiver ao alcance da luz é esterilizado. Por isso, não podem haver pessoas no ambiente no momento que o equipamento está funcionando.”, explica Patrícia Faulin, CEO da Macam Tech, que desenvolveu o primeiro equipamento de esterilização por emissão de radiação eletromagnética UVC com tecnologia 100% nacional.
Ainda não há muita pesquisa para determinar se essa radiação é eficaz na higienização de máscaras e outros equipamentos de proteção individual. Afinal, essas máscaras deveriam ser usadas apenas uma vez antes de serem descartadas. Entretanto, acredita-se que essa tecnologia atinja o objetivo e eliminar o vírus das máscaras sem prejudicar sua capacidade de filtrar partículas ou se ajustar confortavelmente à pele.
Em breve, esse equipamento passará a ser utilizado no Instituto Emílio Ribas em São Paulo para desinfecção de ambientes e equipamentos de proteção. A iniciativa é uma parceria do hospital com a empresa Macam Tech, que recentemente lançou no país um equipamento que emite radiação eletromagnética UVC. De acordo com a empresa, para esterilizar um ambiente de 10 metros quadrados de área, são necessários 10 minutos de aplicação da radiação.
‘Essa é uma tecnologia válida, que existe e funciona, desde que bem desenhada, pois a eficácia depende da distância entre o emissor e a superfície a ser esterilizada e a potência do emissor”, explica o médico e empreendedor Carlos Eduardo Kapins.
O que é UVC?
Para entender o que é radiação ultravioleta, é preciso lembrar das aulas de física, quando aprendemos que a luz é uma onda. As diferentes cores, por exemplo, são vistas por nós porque têm comprimentos de onda diferentes. Lembra? A luz ultravioleta (UV) é a luz invisível aos seres humanos, pois seus comprimentos de onda estão abaixo da luz visível.
Ela está dividida em três tipos: UVA, UVB e UVC. A radiação UVA é a mais abundante. É ela que provoca aquele bronzeado instantâneo, mas também causa o envelhecimento precoce da pele. Já a radiação UVB chega até nós em menor quantidade, pois a maior parte desses raios é absorvida pela camada de ozônio. No entanto, o pouco que passa é suficiente para causar as doloridas queimaduras solares, além de causar mutações genéticas que podem levar ao câncer de pele.
Por fim, a radiação UVC é a mais potencialmente danosa, pois tem a capacidade de destruir não só o RNA do vírus, mas também o DNA. Felizmente, em ambiente natural, esses raios não chegam até nós, pois são completamente absorvidos pela camada de ozônio e pela atmosfera da Terra – daí mais um fator importante para mantermos a camada de ozônio intacta. Por isso, é importante que quando equipamentos que utilizam esse tipo de radiação entejam em funcionamento, não haja nenhum ser humano no local.
Para tentar aumentar o uso dessa tecnologia, principalmente em um momento em a higienização constante e eficaz de roupas e ambientes não é somente necessária em hospitais e espaços públicos, mas também dentro de casa, pesquisadores da Universidade Columbia, nos Estados Unidos, avaliam um novo tipo de tecnologia chamada far-UVC.
Ela utiliza lâmpadas que emitem doses baixas e contínuas de luz ultravioleta. Essa luz seria capaz de matar vírus e bactérias sem prejudicar a pele, olhos e outros tecidos humanos, como é o problema com a luz UVC convencional, que utiliza uma alta intensidade para fazer esse serviço. “A luz far-UVC tem o potencial de ser um ‘divisor de águas.”, disse David Brenner, professor de biofísica de radiação e diretor do Centro de Pesquisa Radiológica da Universidade Columbia, em entrevista ao Columbia News.
Pesquisas anteriores mostraram que o método eficaz na inativação do vírus da influenza H1N1, de bactérias resistentes a medicamentos e de dois tipos de coronavírus sazonais, que causam tosse e resfriado. Estudos em animais e humanos confirmaram que a exposição ao far-UVC não causa danos à pele ou aos olhos. Agora, os pesquisadores iniciaram os testes no SARS-CoV-2, com resultados iniciais animadores, de acordo com o pesquisador.