A diferença entre o remédio e o veneno é a dose e os cuidados ao usar

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Diferença entre remédio e veneno é a dose

Um dos pontos chaves para o sucesso da desinfecção é utilizar a concentração correta dos produtos. Mas por que é tão importante se atentar a concentração de uso dos desinfetantes? Sempre falamos que é necessário seguir as recomendações do fabricante quanto à concentração que se deve utilizar, mas qual é o motivo de se seguir essas recomendações? A verdade é que usar os produtos na concentração errada pode trazer consequências graves para a desinfecção, que envolve tanto a não eliminação dos microrganismos do ambiente como até colocar o manipulador em risco. Então vamos entender esse tema.

Utilizar o desinfetante em uma concentração muito baixa, ou seja, usar o produto muito diluído pode levar ao insucesso da sanitização. Isso acontece pois o desinfetante muito diluído não se encontra na concentração capaz de eliminar os microrganismos. Com isso, mesmo aplicando o desinfetante nas superfícies, os microrganismos permanecem vivos e em uma quantidade que coloca em risco a saúde das pessoas que frequentam esse ambiente, deixando uma falsa sensação de segurança no ambiente. Para entender melhor, observe o gráfico abaixo.

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Por outro lado, engana-se quem acha que quanto mais concentrado for o produto, melhor é a sua ação. Um desinfetante muito concentrado pode colocar em risco o manipulador, pois expõe esse trabalhador à uma concentração mais tóxica do produto de forma desnecessária. Além disso, um produto mais concentrado não significa que ele funcione melhor. Veja o exemplo do álcool abaixo, onde diferentes concentrações são utilizadas. Percebe-se que as condições onde se observa a atividade antimicrobiana do álcool é quando este é usado nas concentrações entre 60-90%. Curiosamente, quando se usa o álcool etílico a 100%, a desinfecção não acontece. Nesse caso específico, isso acontece pois o álcool precisa da água na formulação para conseguir entrar nas células microbianas.

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Tortora et al., Microbiologia, 10a ed. 2012.

Um outro aspecto importante da manipulação errada de produtos desinfetantes é o risco de intoxicação. Em 2002, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a livre comercialização de álcool etílico a 70%, com o intuito de evitar acidentes domésticos, como queimaduras e intoxicação. Contudo, devido à pandemia de COVID-19, voltamos a encontrar esses produtos nos mercados, os quais foram liberados para facilitar o combate à infecção pelo novo Coronavírus. Isso acarretou no aumento de mais de 400% nos casos de intoxicação associada à produtos de limpeza, como relatado nas notas técnicas Nos 11 e 12 de 2020 da Anvisa.

https://www.saudedafamilia.org/coronavirus/informes_notas_oficios/anvisa_nota_tecnica_11-2020.pdf

https://www.gov.br/anvisa/pt-br/arquivos-noticias-anvisa/438json-file-1#:~:text=Alerta%20sobre%20exposi%C3%A7%C3%A3o%20t%C3%B3xica%20por,Informa%C3%A7%C3%A3o%20e%20Assist%C3%AAncia%20Toxicol%C3%B3gica%20%2D%20CIATox.

Dessa forma, percebemos que o lema “quanto mais melhor” não se aplica aos desinfetantes. Não por acaso, a Anvisa exige em sua RDC 14, de 2007, que os fabricantes incluam no rótulo do produto a concentração de uso recomendada e que deve ser utilizada para os procedimentos de limpeza e desinfecção. Vale ressaltar que cada formulação apresenta sua concentração de uso ideal. Por exemplo, podemos encontrar desinfetantes à base de quaternários de amônio que tenham como recomendação de uso a diluição de 1/100 ou 1/500. Mas isso não significa que um produto é melhor do que o outro, apenas que a formulação de cada produto é diferente, apesar de serem compostos pelo mesmo tipo de ativo.

Os fabricantes investem em estudos, formulações e testes para garantir a eficácia do produto nas concentrações de uso recomendadas, por isso devemos respeitar essas informações contidas nos rótulos ou nas fichas técnicas dos produtos. E não esqueça, o que faz um produto ser eficaz são os testes realizados pelos fabricantes e exigidos pela Anvisa para o seu registro, por isso devemos utilizar sempre produtos registrados na Anvisa e autorizados a serem comercializados no nosso país.

Com isso, o que difere um remédio de um veneno é a sua dose, e por isso temos que estar atentos à concentração do desinfetante que utilizamos, para que ele desempenhe o papel de ferramenta de promoção da saúde e segurança do ambiente, e não o papel de vilão que aumenta o risco de intoxicação e que gera a falsa sensação de proteção.

Se quiser conhecer mais sobre a formulação de desinfetantes e os principais fatores que influenciam nos processos de sanitização, não deixe de buscar os cursos de capacitação na área oferecidas pela PragFlix. Lá abordamos esse e diversos outros assuntos para deixa-lo preparado para realizar a sanitização de ambientes.

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