Aedes aegypti: expansão geográfica, resistência aos inseticidas e cenários de riscos.

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Aedes aegypti (Diptera, Culicidae) é um mosquito originário do continente africano e que atualmente possui distribuição cosmopolita, sendo considerada uma das mais bem-sucedidas espécies invasoras do planeta. É vetor de diversas arboviroses, tais como a dengue, a zika, a Chikungunya e a febre amarela. Estima-se que anualmente pelo menos 390 milhões de pessoas são infectadas por essas arboviroses. As estratégias evolutivas desenvolvidas pela espécie permitiram que Ae. aegypti esteja em franca expansão geográfica, especialmente em ambientes urbanizados, acompanhando a dinâmica humana. São capazes de colonizar diversos tipos de recipientes servíveis (potes, toneis, caixas d´água, tanques, piscinas) e inservíveis (pneus, latas, garrafas, copos, lonas) que possam acumular água, além de corpos d´água com elevados níveis de poluição tais como esgotos e fossas sépticas. Também possuem estratégias de dispersão passiva de seus ovos que resistem por meses sem água no ambiente, podendo ser deslocados facilmente pelos meios de transportes marítimos, terrestres e aéreos, como também alternar-se entre estações secas e chuvosas, quentes e frias.

As mudanças climáticas também podem contribuir para aumentar o range de atuação desse vetor, seja expandindo áreas disponíveis para colonização (centro urbanos localizados em maiores altitudes, áreas extensamente alagadas), encurtar o ciclo de desenvolvimento, prolongar estações do ano de ocorrência, colapsar os sistemas de vigilância entomológica, com drásticas consequências para os cenários de transmissão das arboviroses.

Embora existam alternativas de controle dessa espécie por meio de mecanismos de transgenia, com a liberação de machos estéreis ou contendo a Wolbachia-infectante, ambos visando a supressão de gerações do mosquito na natureza; ou a implementação de cuidados na proteção e na eliminação de criadouros; o método de controle químico permanece como a principal estratégia de combate do mosquito, especialmente durante os surtos epidêmicos. Por essa razão, se faz necessária a vigilância entomológica e de resistência aos inseticidas empregados em campanhas de saúde pública para o manejo de vetores.

Diversos países, incluindo o Brasil, têm notificado a resistência de Ae. aegypti aos dois principais grupos de compostos químicos utilizados no controle: fosforados e piretróides. Recentemente, no Vietnã e no Camboja foi detectada a frequência de elevados níveis de resistência, >78%, aos piretróides (Kasai et al. 2022). Trata-se de um cenário de extrema preocupação, pois isso sinaliza a espécie segue seu curso evolutivo em resposta à pressão exercida pela aplicação desses inseticidas.

Considerando que em geral uma nova molécula inseticida para uso em saúde pública leva entre 10 e 20 anos desde o seu desenvolvimento até estar disponível no mercado, o desdobramento desse cenário pode ser agravado, já que sinaliza que temos populações cada vez mais resistentes convivendo entre os humanos, e em contraposição, temos cada vez menos moléculas disponíveis para combatê-las. Isso nos coloca em um universo de riscos cada vez maiores para aumentar a morbi-mortalidade das doenças transmitidas pelo vetor.

O que fazer para contornar esses cenários tão problemáticos?

  • Educação em Saúde e Mobilização Social: produzir e executar campanhas para esclarecimento da população sobre o manejo adequado de vetores, obter o apoio e engajamento social nas ações de promoção a saúde;
  • Ampliação e fortalecimento dos serviços de vigilância entomológica, vigilância de resistência aos inseticidas e controle de vetores;
  • Uso racional de inseticidas: utilizar produtos devidamente testados, respeitando as concentrações, diluições, equipamentos adequados, com base em indicadores entomo-epidemiológicos;
  • Implementação de outras medidas recomendadas no Manejo Integrado de Mosquitos: eliminação, tratamento e proteção e criadouros, uso de biolarvicidas, técnicas de genéticas, estímulo à proteção das pessoas com telas em residências e uso de repelentes;
  • Integrar os serviços de vigilância entomológica com as ações nos comitês e órgãos gestores de crises diante de catástrofes naturais e mudanças climáticas;
  • Desenvolver e melhorar as medidas legais para definir as responsabilidades, a obrigatoriedade de ações de controle e prevenção, e punições diante do não cumprimento nos termos de cada lei.

Kasai et al. 2022. Disponível em: https://www.science.org/doi/10.1126/sciadv.abq7345?utm_campaign=SciMag&utm_source=Twitter&utm_medium=owned

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