As bactérias entomopatogênicas são utilizadas no controle de larvas de mosquitos e simulídeos visando o controle de doenças transmitidas por vetores em várias partes do mundo. Esses micro-organismos apresentam a vantagem de serem bastante efetivos e seletivos contra larvas desses insetos e apresentam baixo impacto ambiental negativo.
Do ponto de vista aplicado a Bacillus thuringiensis subespécie israelensis (Bti) e a Lysinibacillus sphaericus (Ls) (antigamente nomeada como Bacillus sphaericus) são as espécies mais utilizadas no controle de insetos de importância médica.
Em Bti as principais toxinas que são responsáveis pela atividade larvicida são: Cry4A (125 kDa), Cry4B (135 kDa), Cry11A (68 kDa) e Cyt1A (28 kDa). Em Ls é encontrada a toxina binária (duas proteínas) as quais são responsáveis pela mortalidade larval: BinA (42 kDa) e BinB (51 kDa). Em ambas as espécies o modo de ação é bastante semelhante, ocorrendo quando as larvas ingerem os componentes bacterianos que são solubilizados pelo pH alcalino do intestino e as protoxinas solúveis são ativadas pelas proteases de serina do intestino médio, liberando assim as toxinas ativas.
Essas toxinas se ligam as células epiteliais na superfície das microvilosidades no intestino médio e nos cecos gástricos do inseto, provocando a formação de poros (permeabilização) resultando em interrupção do balanço osmótico, com ruptura da membrana celular, lise das células e finalmente morte do inseto.
Os produtos à base de Bti são mais efetivos contra as larvas de Aedes sp., além disso, os criadouros artificiais utilizados por esses mosquitos possuem pouca matéria orgânica o que potencializa a ação das bactérias. Já os formulados com Ls são mais efetivos em larvas de Culex sp. e Psorophora sp., menos ativos em Anopheles sp. e Mansonia sp. e certos formulados são ineficazes para o Aedes aegypti. Em geral, o efeito de mortalidade nas larvas é alcançado mais rápido pela Bti, provavelmente pelo sinergismo do conjunto de toxinas presente.
Em contraposição, a Ls tem ação mais prolongada, além de apresentar melhor desempenho em ambientes aquáticos com altas concentrações de matéria orgânica. No entanto, ambas podem ser afetadas por diversas condições ambiente, por exemplo, altas temperaturas nos criadouros, pela exposição à radiação solar direta, pela profundidade e a turbidez da água para dispersão do produto, pela presença de taninos que podem oxidar as toxinas, pelo conteúdo de matéria orgânica, pela presença de vegetação aquática entre outros.
Diversos programas ambientais de controle de vetores são desenvolvidos na Amazônia onde a malária, a dengue, a zika e a chicungunya são doenças prevalentes na região. Por ser Amazônia, requer maior responsabilidade ambiental para evitar a contaminação das cadeias tróficas nos ambientes aquáticos. Desta forma, os profissionais têm cada vez mais adotado o uso de bactérias entomopatogênicas no controle biológico de mosquitos, tratando criadouros e alcançando resultados importantes na proteção de trabalhadores em ambientes laborais e em comunidades.
As experiências desenvolvidas pela Oikos Consultoria e Projetos em campo em diversos Estados da Amazônia Legal têm demonstrado o potencial do controle biológico de mosquitos e a proteção dos ecossistemas aquáticos naturais, além de colaborar para o desenvolvimento regional com a expansão da atividade da psicultura de forma segura prevenindo a procriação de vetores em áreas rurais.