O Distrito Federal passa pela pior epidemia de dengue da história. Os casos notificados da doença na capital do país chegaram a quase 27,7 mil, com mais de 24 mil pacientes classificados como prováveis infectados pelo vírus transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. Os dados da Secretaria de Saúde vão até 1º de junho, quando foram registradas 26 mortes.
O levantamento mais recente mostra um acréscimo de 12% em relação ao boletim epidemiológico anterior, de 25 de maio, quando o número de pacientes prováveis era de 21,4 mil. Também houve aumento de cinco mortes pelo vírus: em maio, o governo confirmou 21 casos fatais, o que representa um crescimento de 23,8%. Trata-se do segundo maior número de óbitos por dengue nos últimos cinco anos, conforme apuração do Correio. O recorde do período era de 2015, com 28 mortes. No entanto, o número pode ser superado, pois a Secretaria de Saúde investiga o óbito de nove pessoas.
A servente Karen Figueiredo, 38 anos, perdeu o sogro, Francisco José Roque de Almeida, 64, para a doença. “A gente sabe que dengue mata, mas nunca imagina que será alguém tão próximo. O meu sogro, mesmo sendo um homem forte e saudável, foi para o hospital e não resistiu. Essa poderia ter sido a minha realidade e de outras oito pessoas da nossa família que também contraíram a doença”, alerta.
A família de Francisco mora no Setor de Chácaras do Guará, área com muita vegetação e pouca atuação do Estado, segundo Karen. “Foi um absurdo o número de moradores da região que ficaram doentes. O filho da vizinha, de 9 anos, teve de lutar pela vida depois de pegar a forma hemorrágica da doença. O pior é que a gente aciona o governo para passar o fumacê, recolher o lixo em lotes abandonados e ninguém vem. Nem repelente nos postos de saúde a gente consegue com facilidade. A gente faz a nossa parte dentro de casa, mas, às vezes, o problema está do outro lado do muro”, lamenta.
Segundo a servente, mesmo após a retomada do fumacê, que ficou 24 dias suspenso por determinação do Ministério Público do Trabalho da 10ª Região (MPT-10), o serviço nunca passou perto da casa dela. “A comunidade está bastante assustada e não é para menos. O jeito é viver com repelente na bolsa e proteger os meus filhos para que outra tragédia não aconteça”, afirma.
Hiperpopulação
O aumento na quantidade de casos é reflexo das questões climáticas e do tipo de vírus em circulação, avalia o subsecretário de Vigilância em Saúde, Divino Valero Martins. “Choveu muito mais e, consequentemente, houve crescimento no número de mosquitos em todo o Distrito Federal. A hiperpopulação do Aedes aegypti, em conjunto com um dos tipos mais agressivos da dengue, trouxe uma resposta que é vista nos dados”, esclarece.
No entanto, Divino ressalta que o papel da sociedade é fundamental no combate ao mosquito. “O Brasil tem quase 80 milhões de imóveis e, na contramão, pouco mais de 50 mil agentes. É humanamente impossível atribuir toda a responsabilidade apenas ao governo, que faz a parte dele. O nosso serviço no DF será intensificado, mas a própria população precisa entender que o combate à dengue é coletivo”, explica.
Apesar de os números mostrarem alta de 12% em uma semana, o subsecretário explica que isso se deve a dados que não foram computados nas datas corretas. “A explosão dos casos foi um registro das semanas epidemiológicas anteriores, e o que realizamos foi a consolidação desses dados. Primeiro, acompanham-se e conferem-se resultados para, depois, publicar. A tendência é a desaceleração”, avalia Divino.
Descaso
Em 6 de maio, o MPT-10 interrompeu o fumacê no Distrito Federal. A proibição decorreu de uma diligência na Diretoria de Vigilância Ambiental do Distrito Federal (Dival), em Taguatinga. Segundo o MPT, faltavam itens básicos de treinamento, de higiene, de segurança e de proteção ao meio ambiente e ao trabalhador. Os veículos que espalham o inseticida voltaram a rodar em 30 de maio, após ser aprovada a reforma no espaço e o cumprimento das exigências.
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