Os shoppings do Grande Recife já se preparam para a volta das atividades. Para isso, precisarão adotar algumas medidas de segurança e, uma em especial, vem chamando a atenção de profissionais de saúde. É que os malls estão utilizando um equipamento para espalhar fumaça pelos ambientes, uma medida ineficaz contra o coronavírus e que pode colocar em risco a saúde de quem entra em contato com produto.
A Bióloga e Conselheira do Conselho Regional de Biologia da 5ª Região (CRBio-05), Deborah Rocha, alerta para os riscos do uso da fumaça em ambientes fechados e com circulação de pessoas. Segundo a profissional, que também é presidente da Associação Pernambucana dos Controladores de Pragas (ASPEC), não existem comprovações técnicas de órgãos como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) que atestem a eficiência do método, tanto para a eliminação do vírus em superfícies (mesas, cadeiras e corrimãos, por exemplo) quanto no ar.
“Diante da molécula que é gerada, a fumaça não fixa nas superfícies nem no ambiente. Seria necessário que o produto desinfetante ficasse de cinco a 15 minutos em contato com a superfície, para que pudesse eliminar o vírus”, explica.
Os riscos à saúde de pessoas que inalam a fumaça gerada pela queima do óleo mineral são inúmeros. Os produtos utilizados pelos shoppings não foram testados nesta finalidade e, por isso, a Bióloga não recomenda o seu uso. Eles podem ocasionar dermatites sérias, irritações oculares ou problemas respiratórios agudos, além de intoxicações graves.
“A gente não tem comprovação de que essa fumaça vai eliminar sequer o coronavírus ou qualquer outro vírus no ar. Se tivesse comprovação, não estaria nas notas técnicas a não recomendação do uso do termonebulizador como método de sanitização ou desinfecção ambiental. O óleo mineral é queimado junto com o sanitizante (dependendo do equipamento), e os seus efeitos podem ser modificados podendo tornar-se ainda mais tóxico”, completou Deborah.
A melhor saída para a sanitização de ambientes como shoppings é o uso de equipamentos que permitam uma gota maior do que a fumaça. Isso faz com que o produto caia mais rapidamente sob a superfície e atue contra o vírus existente ali.
“A gente pode utilizar pulverizador costal, manual ou elétrico, pulverizador de compressão prévia, nebulizador a frio e outros que não geram fumaça e sim gotículas ou névoa, onde o sanitizante é diluído em água para poder se fixar nas superfícies dos ambientes. Esses são produtos exclusivos para uso de sanitização e desinfecção com registro no Ministério da Saúde e devem ser aplicados na ausência de pessoas no ambiente”, conclui.
A nota técnica da ANVISA, citada por Deborah, é a NT 26/2020. Nela, o órgão federal indica a lista de produtos indicados como desinfetantes. Sob o uso de termonebulizadores, a Agência o classifica como “equipamentos utilizados no combate a insetos/pragas”, se tornando ineficaz contra o novo coronavírus ou outros micro-organismos.