Mais de mil tanques foram construídos para criação de peixes em São Gabriel da Cachoeira, a 851 km de Manaus, nos últimos anos. Alguns estão abandonados e podem ter contribuído para a proliferação do mosquito transmissor da malária no município. Segundo a Secretaria de Saúde do município, a cidade registra 6.506 casos da doença entre janeiro a maio deste ano. A situação deixou em alerta as autoridades públicas do município.
O alerta foi feito pelas comissões técnicas de Compras e Recursos Humanos e a de Análise de Dados Epidemológicos da Malária criadas para frear a infestação e controle da doença, após a análise de dados epidemiológicos e entomológicos no município.
De janeiro a abril deste ano foram 5.053 casos, o que significa um aumento de 40% em relação ao mesmo período do ano passado. Segundo dados da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS), somente São Gabriel é responsável por 24% de todos os casos de malária do estado.
A Instituição Socio Ambiental (ISA), que construiu parte dos tanques, informou ao G1 que não é mais responsável pela gestão do projeto de criação de peixe na região desde 2008. O ISA disse ainda que constatou, na última visita, que às instalações dos tanques, criadouros de peixes e à Estação de Yauaretê – onde estão os tanques – estavam em bom estado e viveiros escoando água continuamente. A comunidade Yauaretê deveria seguir com a utilização dos tanques.
Criadouros
De acordo com a secretaria municipal de Saúde de São Gabriel, a gerência de endemias possui um cadastro de 1.169 criadouros de peixe, dentre eles naturais e artificiais. A administração do município não informou, no entanto, quantos destes estão abandonados e quantos estão na comunidade Yauretê.
O suposto abandono dos tanques de criação de peixe artificiais, como tanques e açudes de psicultura, tem sido mais um do fator potencializador à proliferação do mosquito transmissor da malária, segundo denúncias feitas ao G1.
“Há vários atores e fatos que contribuem para o foco. Alguns criadouros foram abandonados e etc. A maioria dos focos é dos criadores abandonados ou com falta de manutenção”, comentou um representante da secretaria de saúde de São Gabriel, que não quis ter o nome divulgado.
Os criadouros de anofelinos (mosquito transmissor da malária) estão distribuídos tanto em áreas urbanas como em aldeias indígenas.
No distrito de Yauaretê – localizado na fronteira da Colômbia, que fica a margem do rio Waupes – foram registradas 732 casos de malária em indígenas de mais de dez etnias, distribuídos em 12 vilas. No local, os criadouros foram abandonados ao longo do tempo.
Foram 211 casos na Vila São José da comunidade Yauaretê, seguido de 124 casos na Vila São Miguel, 112 casos na Vila Aparecida 1.102 na Vila de Fátima, 94 casos na vila Dom Pedro Massa e 89 casos na Vial do Cruzeiro.
Segundo a Secretaria de Saúde, alguns tanques foram constituídos por ONGs para o projeto de desenvolvimento sustentável, entre eles o Instituto Socioambiental (ISA), que promove projetos há mais de 20 anos em comunidades indígenas do Rio Negro.
“A localidade de Yauaretê se tornou um problema devido ao abandono de alguns desses tanques – pois o mesmo é o principal foco de malária no distrito”, contou o representante da secretaria de saúde.
Ações articuladas pela administração municipal realizam serviços de drenagens de igarapés (com focos de mosquito) e realiza manejo ambiental nas demais localidades.
Em nota, o ISA informou que não é proprietário dos viveiros, ou responsável pela gestão, desde o ano de 2008.
Nota
O Instituto informou que ajudou a construir, conseguir recursos e oferecer a assistência técnica – tanto na construção como na manutenção. Além disso, técnicos indígenas e piscicultores foram treinados pelo ISA.
“Os donos dos viveiros são famílias, comunidades e escolas indígenas enquanto as Estações são das associações. Somente eles podem decidir o que fazer com os viveiros. O ISA não tem autoridade para mandar famílias, comunidades, limpar ou esvaziar os viveiros”, diz trecho de nota enviada ao G1.
O instituto disse, ainda, que pesquisadores estiveram em Yauaretê em 2015. Eles apontaram que as instalações da estação estavam em bom estado, com tubulações, barragens e viveiros escoando água continuamente.
Eles apontaram, também, que os viveiros construídos com apoio do projeto contaram com um sistema de drenagem de água. No caso de não serem usados para piscicultura, eles poderiam ser esgotados, não acumulando água e nem servindo à reprodução de insetos.
“A Estação de Yauaretê entrou em funcionamento com duas barragens, três viveiros de alevinagem, todos equipados com tanques e açudes necessários à reprodução de espécies nativas em cativeiro”, informou a nota, que cita ainda que o projeto foi finalizado em 2008.
O objetivo do projeto foi promover a segurança alimentar de comunidades indígenas em áreas críticas por meio da implantação de projeto de criação de peixes em três regiões do Rio Negro: Alto Tiquié, Alto Uaupés e Alto Içana.
Segundo o Instituto, foi uma demanda das comunidades indígenas locais por conta da escassez de peixes que as afligia naquele momento.
Dados da Malária
De acordo com dados repassados pela secretaria de saúde da cidade, de janeiro a maio deste ano foram 6.506 casos, isso significa um aumento de 900% em relação ao mesmo período do ano passado.
Em janeiro foram registrados 1.649 casos, em fevereiro foram 1.397, em março foram 1,558 casos, em abril 1.474 casos de malária e em maio 428, até a o fim da primeira quinzena. Duas comissões constituídas pelo município vão agir para organizar medidas de controle da doença.