Sabemos que os desinfetantes são fortes aliados nos processos de biossegurança em diversos setores da economia, pois são ferramentas valiosas no combate aos microrganismos e nas medidas de prevenção às doenças infecciosas. Vimos recentemente em outra matéria as várias infecções que podem incidir na população e como o uso desses produtos em processos de sanitização podem representar uma estratégia eficaz em evita-las.
O que muitas vezes não percebemos é o impacto que o uso dos desinfetantes tem em diferentes segmentos. Na indústria de alimentos, por exemplo, passamos por muitas décadas de avanço tecnológico na produção de alimentos industrializados.
Paralelamente, muito se desenvolveu no que diz respeito às medidas de controle de produção, biossegurança e medidas preventivas para evitar a contaminação dos alimentos processados. E a sanitização dos ambientes, através do uso de desinfetantes para descontaminar as superfícies de equipamentos e utensílios utilizados, é hoje um dos pontos críticos para o controle do processo produtivo.
Entretanto, cada vez mais cresce o interesse por alimentos mais saudáveis e menos processados, o que representa maior risco de contaminação e, consequentemente, requer maior atenção às medidas de controle. A falha nas medidas de boas práticas de fabricação na área de alimentos pode resultar em surtos de infecções relacionadas ao consumo de alimentos contaminados.
Estima-se que nos Estados Unidos, por exemplo, ocorram mais de 9 milhões de casos de infecções e intoxicações gastrointestinais todos os anos (Dewey-Mattia et al., 2018).
No ambiente hospitalar, as infecções relacionadas à áreas de atendimento a saúde (IRAS, também conhecidas como infecções hospitalares) são bastante conhecidas, inclusive da população leiga, gerando até o medo e receio de frequentar o ambiente hospitalar.
De fato, essas infecções adquiridas dentro do ambiente hospitalar são muito preocupante, especialmente por serem associadas à linhagens de microrganismos resistentes aos antibióticos geralmente usados na clínica. Só nos Estados Unidos, são em torno de 90 mil mortes anuais causadas por IRAS.
No mundo, são mais de 150 mil mortes associadas à linhagens resistentes de microrganismos (Lathrop et al., 2015). Esses dados mostram como o surgimento de patógenos resistentes aos antibióticos é uma realidade preocupante e que impacta de forma significativa a saúde pública.
Por isso, a maioria dos hospitais dispõem de um centro de controle de infecções, para rastrear essas infecções adquiridas no próprio hospital e para desenvolver estratégias de controle da sua disseminação, o que envolve, entre outras medidas, o uso de desinfetantes para manter as superfícies livres de microrganismos que podem ser carreados para diferentes locais e pacientes.
Mas será que o aparecimento de resistência aos antibióticos que observamos também pode acontecer com os desinfetantes? Devemos nos preocupar com desinfetantes que podem deixar de agir eficientemente no controle dessas infecções?
Usar desinfetantes requer responsabilidade
Para respondermos as perguntas acima, precisamos entender a dinâmica de resistência dos microrganismos aos antibióticos. É bem sabido hoje que a resistência aos antibióticos vem do uso incorreto desses medicamentos, como o uso indiscriminado e sem necessidade. Isso faz com que os antibióticos estejam em constante contato com os microrganismos, matando as células sensíveis e dando espaço para as células resistentes ocuparem posição de destaque. Isso é o que chamamos de pressão seletiva, quando uma atitude feita pelo homem pressiona o maior crescimento dos microrganismos resistentes. Por isso, o uso desses medicamentos com responsabilidade é de suma importância para evitar o surgimento de linhagens que resultam em infecções difíceis de tratar.
E com os desinfetantes, a mesma dinâmica pode acontecer. Apesar de os desinfetantes terem mecanismos de ação mais generalizados em relação aos antibióticos, o que em teoria torna o surgimento de resistência a eles mais difícil, vários relatos já identificaram linhagens de microrganismos resistentes aos desinfetantes.
Dessa forma, assim como o que acontece com os antibióticos, nós temos a responsabilidade de usar os desinfetantes da forma adequada, evitando seu uso indiscriminado para que o surgimento de resistência não seja observado. Por isso, os profissionais especializados em processos de sanitização e que fazem uso de desinfetantes com frequência precisam estar devidamente capacitados, visando não só realizar a sanitização com sucesso e segurança para seu cliente, mas também para usar esses produtos valiosos com responsabilidade. Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades, e todos os usuários de produtos desinfetantes precisam desempenhar um papel de preservação desses produtos.
Portanto, aproveite nossos cursos e o plano de assinaturas para se capacitar e conhecer mais técnicas de uso de desinfetantes e as melhores estratégias para promover a sanitização da forma correta.
Referências
Dewey-Mattia, D., Manikonda,K., Hall,A.J., et al., 2018. Surveillance for food borne disease outbreaks—United States, 2009–2015. Surveill. Summ. 67,1–11. https://doi.org/10.15585/mmwr.ss6710a1.
Lathrop,S.K., Binder,K.A., Starr,T., et al., 2015. Replication of Salmonella entérica serovar Typhimurium in human monocyte-derived macrophages. Infect. Immun. 83,2661–2671. https://doi.org/10.1128/IAI.00033-15.