Pragas & Eventos: Quais as razões pela escolha desse campo do conhecimento da Biologia e qual é a importância de estudar a genética e a ecologia de vetores?
Dra. Vera Scarpassa (resposta): Os artigos publicados pelo nosso grupo estão concentrados nas áreas de genética de populações, genética evolutiva, taxonomia morfológica e molecular, aspectos ecológicos e biológicos e estudos de infecção natural para Plasmodium, particularmente de mosquitos do gênero Anopheles, incluindo os vetores de malária da Amazônia brasileira.
Estes estudos têm por objetivo ampliar e aprofundar os conhecimentos acerca da biologia, da genética, dos padrões de dispersão (fluxo gênico), da estrutura genética de populações, da dinâmica populacional, dos aspectos ecológicos de imaturos e adultos, da taxonomia e da identificação de espécies críticas. Os conhecimentos gerados são imprescindíveis para aprimorar as metodologias dos programas de vigilância e controle dos mosquitos vetores de doenças na Amazônia brasileira.
Pragas & Eventos: Recentemente seu grupo de pesquisa tem publicado diversos trabalhos com um gênero, os Mansonia, que diferente de outros mosquitos, não estão associados à transmissão de patógenos aos humanos no Brasil. Por que os Mansonia se tornaram importantes que chamou a atenção de vocês para estudá-los?
Dra. Vera Scarpassa (resposta): Este grupo de mosquitos nos chamou atenção por sua elevada densidade populacional e estratégia adaptativa, particularmente em áreas de empreendimentos hidrelétricos e, também, pela carência de estudos nas diversas áreas do conhecimento, tais como de estudos biológicos, ecológicos, taxonômicos e genéticos, visando implementar uma metodologia de controle direcionada para este grupo. Considerando que os adultos (fêmeas) são hematófagos vorazes, este grupo de mosquitos, quando em densidade elevada, pode causar desconforto às populações humanas e de animais locais. Diferente de outros mosquitos, os mosquitos do gênero Mansonia apresentam uma forma peculiar de sobrevivência e desenvolvimento dos estágios imaturos, os quais se desenvolvem por meio da fixação do seu sifão (larvas) e trombetas (pupas) nas raízes das plantas aquáticas (Eichornnia spp., Pistia spp., entre outras) de onde retiram o oxigênio para a sua sobrevivência e desenvolvimento. Por exemplo, em lagos ou rios onde há presença destas plantas, formando verdadeiros tapetes verdes, a densidade de Mansonia pode ser elevada.
Pragas & Eventos: No artigo intitulado “DNA barcoding suggests new species for the Mansonia subgenus (Mansonia, Mansoniini, Culicidae, Diptera) in the area surrounding the Jirau hydroelectric dam, Porto Velho municipality, Rondonia ˆ state, Brazil” – vocês apontam que podem existir espécies de Mansonia ainda não descritas pela ciência? Qual é a importância dessas descobertas?
Dra. Vera Scarpassa (resposta): Sim, neste artigo nós reportamos evidências de novas espécies para o subgênero Mansonia na Amazônia brasileira. A importância destas descobertas é estimar com maior precisão os índices de diversidade de espécies na área, distribuição geográfica das espécies e os estudos de possíveis vetores de arboviroses na Amazônia brasileira, os quais podem auxiliar nas estratégias de controle deste grupo de mosquitos. Por exemplo, um estudo recente realizado na área do empreendimento hidrelétrico – UHE Jirau – reportou mosquitos Mansonia spp. infectados com nova classe de vírus, a qual não tem relação com doenças para animais e humanos (Miranda et al. 2022). Contudo, neste estudo os autores não reportaram qual espécie de Mansonia está infectada.
Pragas & Eventos: Trabalhos como esse do Mansonia podem gerar vários novos estudos ou desdobramentos. Quais as possibilidades de estudos adicionais seu grupo vislumbra a partir dessa publicação?
Dra. Vera Scarpassa (resposta): Os resultados deste primeiro estudo indicam a necessidade de estudos adicionais, tanto morfológicos quanto moleculares, com o objetivo de entender a taxonomia do grupo e suas relações evolutivas.
Pragas & Eventos: Aprendemos que Mansonia é uma fauna pouca estudada. Existe a possibilidade de dar continuidade a projetos que contemplem os Mansonia? Há muito por descobrir ainda?
Dra. Vera Scarpassa (resposta): Sim, este é um grupo de mosquitos pouco estudado sob diferentes aspectos, como acima mencionados. De nossa parte, estamos abertos a continuidade dos estudos com Mansonia, assim como a novas colaborações.