Setembro Amarelo: como a sua empresa controladora de pragas pode prevenir o suicídio

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set - Pragas e Eventos

Setembro Amarelo é o mês dedicado à prevenção do suicídio. Trata-se de uma campanha que teve início no Brasil em 2015, e que visa conscientizar as pessoas sobre o suicídio, bem como evitar o seu acontecimento (1). E de que forma a sua empresa tem a ver com isso?

Diversos artigos na literatura científica apontam uma estreita relação entre o uso de agrotóxicos e a elevada taxa de suicídio nos trabalhadores rurais, em comparação com populações de outras regiões. Porém, o suicídio é apenas o desfecho de problemas anteriores, como problemas mentais, depressão, entre outros (2).

E a causa mais apontada nas pesquisas é a falha no uso dos equipamentos de proteção individual (EPI’s) por parte destes trabalhadores (3). Um estudo realizado em 2007 com trabalhadores rurais da cidade de Luz (MG), apontou que 72% não utilizavam nenhum equipamento de proteção e 56% deles nunca leram as bulas dos agrotóxicos (4).

A não utilização de EPI’s infelizmente é registrada diariamente nas redes sociais, como Facebook e Instagram, pelas próprias empresas controladoras de pragas, mostrando operadores realizando desinsetizações sem óculos, máscara, luvas, roupas adequadas, e até mesmo de bermudas e chinelos de dedo! Isto revela que a triste realidade vivida no campo também está no meio urbano, inclusive por empresas ditas “especializadas”.

Então, a primeira ação que sua empresa controladora de pragas deve ter para evitar problemas neurocomportamentais e o suicídio de seus funcionários é: fornecer todos os EPI’s descritos na Ficha Técnica e FISPQ dos saneantes domissanitários que são utilizados para todos os integrantes da equipe.

O segundo passo é fornecer treinamento no ato da entrega de cada EPI, registrando este momento em uma ata, coletando a assinatura do colaborador, a fim de gerar um comprometimento quanto ao uso e conservação do equipamento.

O terceiro passo é fiscalizar frequentemente o uso dos EPI’s, e também as condições de limpeza e conservação dos mesmos. Máscara rachada, óculos quebrado, luva furada não são capazes de proporcionar a proteção que o operador precisa ao manipular e aplicar produtos tóxicos.

Se você é o aplicador de domissanitários, leia o rótulo e os documentos técnicos dos produtos que você utiliza, exigindo do seu empregador o fornecimento de todos os EPI’s necessário para um trabalho seguro. Isto é um direito seu.

E o quarto passo que sua empresa controladora de pragas pode dar na direção de preservar a saúde e a segurança das pessoas (desta vez a dos seus clientes) é não fornecer amostras ou pequenas quantidades de inseticidas ou raticidas, para que o cliente faça o controle de pragas nos dias que transcorrem entre as inspeções. Esta prática é ilegal, pois os produtos são para uso exclusivo de empresas especializadas. Seu cliente não conhece todos os riscos destes produtos, e provavelmente não terá todos os EPI’s recomendados para sua aplicação.

O fornecimento ilícito de produtos desinfestantes pode contribuir para o suicídio de duas formas. A primeira, pela ingestão acidental de inseticidas e raticidas por pessoas desavisadas ou crianças. A segunda, pela ingestão intencional destas substâncias, por pessoas que procuram praticar o suicídio (5). No meio rural, o método mais praticado para cometer o suicídio é justamente a ingestão de agrotóxicos.

Por isso, vamos juntos combater o suicídio e todas as etapas que antecedem esta tragédia com conhecimento e responsabilidade.

Referências

(1) https://www.tjdft.jus.br/informacoes/programas-projetos-e-acoes/pro-vida/dicas-de-saude/pilulas-de-saude/setembro-amarelo-mes-da-prevencao-do-suicidio

(2) Worm, P. V.; Fraga Junior, J. A.; Carvalho, L. A.; Da Silva, L. R.; Pinheiro, S. R. S.; Falk, J. W. 1996. Suicídio e doença mental em Venâncio Aires – RS: Consequência do uso de agrotóxicos organofosforados? Salão de Iniciação Científica UFRGS, Porto Alegre, RS.

(3) TOMAZ GIACOMET, C.; RIZZI DI DOMENICO, C.; MASCARENHAS, M. 2021. Agrotóxicos e alterações neurocomportamentais: uma revisão de literatura. Revista Perspectiva, v. 45, n. 169.

(4) MEYER, T. N.; RESENDE, I. L. C.; ABREU, J. C. D. 2007. Incidência de suicídios e uso de agrotóxicos por trabalhadores rurais em Luz (MG), Brasil. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, n. 116, v. 32. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0303- 76572007000200004&script=sci_arttext

(5) BOMBARDI, L. M. 2011. Intoxicação e morte por agrotóxicos no Brasil: a nova versão do capitalismo oligopolizado. Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária-Disponível em: www. fct. unesp. br. Disponível em: http://docs.fct.unesp.br/grupos/nera/artigodomes/9artigodomes_2011.pdf

Sobre a autora

Bióloga Camila Migliavacca Alves (@biologa_camila_alves). Mestre em Manejo de Moscas em Indústrias de Alimentos (Unisinos); Especialista em Gerenciamento Ambiental (Ulbra), com MBA em Gestão de Pessoas e Liderança Coach (Unilasalle). Atua há mais de 13 anos como Responsável Técnica por programas de Manejo Integrado de Pragas Urbanas, prestando mentoria, consultoria, palestras e treinamentos.

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