De acordo com a Organização Mundial de Saúde, o escorpionismo é um agravo negligenciado na saúde pública (Bochner; Souza, 2019). Envolve a exposição de uma população de 2,3 bilhões de pessoas (Chippaux; Goyffon, 2008), com uma letalidade de 0,27%, incidência global anual de 1,19 milhões de indivíduos acidentados e 3.271 mortes por escorpiões (Chippaux, 2012). Essa situação mundial preconiza a necessidade de novas medidas e políticas de prevenção para reduzir a incidência, prevalência, morbidade e mortalidade por esses aracnídeos (Santos et al., 2016).
Em muitos municípios brasileiros, a situação epidemiológica do escorpionismo apresenta uma tendência linear crescente, com riscos probabilísticos de acidentes e óbitos por escorpiões cada vez mais acentuados junto à população. Os coeficientes de incidência de acidentes por escorpiões, triplicados nos últimos dez anos, constituem-se em ameaça frequente ao bem-estar e qualidade de vida dos humanos (Brites-Neto;Brasil, 2012.
RESULTADOS
No período de 2006 a 2021, com base no registro de dados de captura de escorpiões e de ocorrência de acidentes escorpiônicos notificados pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN, foram elaborados três gráficos de tendência (Figuras 2, 3 e 4) para avaliação da efetividade dos trabalhos de controle mecânico de escorpiões.
O gráfico de correlação entre acidentes escorpiônicos e captura noturna de escorpiões (Figura 2) demonstrou um crescente número de acidentes no período, com quantitativo mínimo de 108 acidentes em 2009 e máximo de 510 acidentes em 2018. A linha de tendência linear para os acidentes escorpiônicos apresentou um bom ajuste para os dados (r2 = 0,8554). Ao mesmo tempo, a busca ativa de escorpiões, nas principais áreas focais de infestação ambiental, no território (principalmente nos cemitérios municipais) registrou números de captura de espécimes entre 3344 (2016) e 20038 (2019) escorpiões, com uma linha de tendência linear demonstrando também resultados crescentes no período, mas com um ajuste relativo para os dados (r2 = 0,6827).
Veja os gráficos e dados completos
CONCLUSÃO
As atividades de captura noturna de escorpiões, desenvolvidas no município de Americana, contribuem de forma muito significativa na destinação de espécimes vivos para a cadeia de produção de soro antiescorpiônico no SUS.
Como ferramenta de controle mecânico, a realização da busca ativa de espécimes, preconizada pelo Ministério da Saúde, visando diminuir a ocorrência de acidentes por escorpiões no território, não demonstra eficiência quando realizada isoladamente.
Políticas públicas com mais adequado nível de atenção em relação a um manejo integrado de pragas, com incorporação de medidas de controle biológico e químico para as espécies de importância médica, constituem um melhor predicado a ser estabelecido pelos gestores em saúde pública municipal, juntamente às práticas já estabelecidas de controle mecânico de escorpiões e medidas educativas de prevenção de acidentes junto à população.
