Micro-organismos e os desafios da sanitização

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Photo by Tedward Quinn on Unsplash

Com o surgimento da pandemia causada pelo novo Coronavírus, foi despertado o interesse pelos serviços de sanitização. Até então, a sanitização era vista como um hábito que cada estabelecimento e ambiente residencial deveria cuidar por si só, mas a pandemia evidenciou um segmento que pode ser explorado por empresas especializadas, capazes de trazer muitos benefícios para os ambientes quando devidamente treinadas para executar uma sanitização eficaz.

Contudo, devido a urgência necessária para controlar o novo Coronavírus, as empresas tem pouco tempo para se preparar e entrar nesse segmento com diversas formulações de produtos, diferentes ativos disponíveis e repleto de peculiaridades. Dúvidas como qual a durabilidade dos produtos; qual a garantia da sanitização; e quanto tempo os micro-organismos voltam ao ambiente, entre outras, surgem o tempo todo e precisam de atenção.

Diversos fatores ambientais interferem na ação e permanência de um produto sanitizante no ambiente. Sem dúvidas, um dos maiores fatores que afetam a ação desses produtos é a presença de matéria orgânica nos ambientes, ou seja, sujidades (gorduras, poeira). A deposição de matéria orgânica nos ambientes é o resultado da circulação de pessoas e objetos, poeiras e partículas vindas de janelas ou ar condicionado. Outros fatores como a luz, que inativa o cloro ativo de formulações a base de cloro, e o uso de produtos de limpeza no ambientes, também contribuem para que os produtos sanitizantes não permaneçam muito tempo numa determinada superfície.

Da mesma forma, os micro-organismos são seres extremamente adaptados a diferentes ambientes, não sendo difícil observar seu retorno aos locais onde um produto sanitizante foi aplicado. Além disso, os micro-organismos têm um crescimento muito rápido. Bactérias conseguem duplicar sua população a cada poucas horas, enquanto fungos demoram um pouco mais, levando 5-7 dias.

Claro que tudo depende das características dos ambientes, como a umidade, temperatura, presença de nutrientes, entre outros fatores. Ou seja, a volta dos micro-organismos aos ambientes após a sanitização se dá de forma muito mais rápida do que as pragas quando um ambiente é tratado para esse fim.

Um estudo da Universidade de San Diego, nos Estados Unidos, mostrou que os micro-organismos em banheiros da universidade podem ser detectados 1h após a aplicação de produto a base de cloro ativo. Mas como os micro-organismos chegam num ambiente? A culpa é nossa! Nós levamos os micro-organismos para os ambientes, através do nosso corpo. Quando falamos e espirramos, lançamos no ambiente micro-organismos presentes na mucosa nasal e oral. No banheiro, 1/4 das nossas fezes são compostas de bactérias intestinais.

Mas não só o homem leva os micro-organismos para o ambiente, as pragas (baratas, formigas) são ótimas carreadoras de bactérias e fungos para os diversos ambientes. Por isso a sanitização e o controle de pragas precisam andar juntos.

Por todas essas razões, a sanitização deve ser um processo contínuo e periódico, pois do contrário os micro-organismos retornam rapidamente. Mas qual a periodicidade? Outro tema que não tem receita pronta! Cada ambiente tem características e necessidades de reaplicação específicas. Estabelecimentos de atendimento a saúde precisam de uma periodicidade menor, alguns até diariamente.

Outros locais, como residências pequenas e com poucos moradores podem ter um intervalo maior de aplicação. De uma forma ou de outra, os benefícios da sanitização são, sem dúvida, mais observados a medida que a periodicidade entra em prática.

Por todas essas razões, o treinamento em sanitização é essencial para que as empresas especializadas tenham conhecimento técnico suficiente para saber utilizar os produtos adequados, as melhores formas de aplicação e saber analisar cada ambiente e as suas necessidades específicas de sanitização.


Rodrigo Rollin Pinheiro

Rodrigo Rollin Pinheiro

Graduação: Ciências Biológicas: Microbiologia e Imunologia (UFRJ)
Mestrado: Vigilância Sanitária (Fiocruz/RJ)
Doutorado: Ciências (microbiologia) (UFRJ)

15 anos de formação acadêmica e experiência na área de microbiologia, tendo participado de diferentes projetos de pesquisa relacionados a produtos saneantes e/ou doenças infecciosas.


Referências:

Gibbons SM, Schwartz T, Fouquier J, Mitchell M, Sangwan N, Gilbert JA, Kelley ST. 2015. Ecological succession and viability of human-associated microbiota on restroom surfaces. Appl Environ Microbiol 81:765–773.

Tuladhar E, Hazeleger WC, Koopmans M, Zwietering MH, Beumer RR, Duizera E. 2012. Residual Viral and Bacterial Contamination of Surfaces after Cleaning and Disinfection. Appl Environ Microbiol 78(21):7769 –7775.

Guideline for Disinfection and Sterilization in Healthcare Facilities (2008). Factors Affecting the Efficacy of Disinfection and Sterilization. Centers for Diseases Control and Prevention (CDC). https://www.cdc.gov/infectioncontrol/guidelines/disinfection/efficacy.html

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